Trump e os republicanos pintam um quadro assustador dos EUA com Joe Biden

Primeiro dia da convenção que confirmou Donald Trump como candidato a um segundo mandato na Casa Branca ficou marcado por uma mensagem: se o Partido Democrata triunfar, os EUA vão mergulhar no “caos” do “socialismo radical”.

Os republicanos tinham prometido uma convenção "menos sombria" do que a do Partido Democrata
Fotogaleria
Os republicanos tinham prometido uma convenção "menos sombria" do que a do Partido Democrata Reuters/CARLOS BARRIA
Kimberly Guilfoyle, conselheira da campanha de Trump, acusou os democratas de quererem controlar as vidas dos cidadãos
Fotogaleria
Kimberly Guilfoyle, conselheira da campanha de Trump, acusou os democratas de quererem controlar as vidas dos cidadãos Reuters/KEVIN LAMARQUE
O filho mais velho do Presidente norte-americano, Donald Trump Jr., discursou na primeira noite da convenção
Fotogaleria
O filho mais velho do Presidente norte-americano, Donald Trump Jr., discursou na primeira noite da convenção Reuters/KEVIN LAMARQUE
Nikki Haley, ex-embaixadora dos EUA na ONU, chegou a ser falada como possível opositora de Trump nas primárias
Fotogaleria
Nikki Haley, ex-embaixadora dos EUA na ONU, chegou a ser falada como possível opositora de Trump nas primárias LUSA/Chip Somodevilla / POOL

O Partido Republicano norte-americano e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abriram a sua convenção nacional, na noite de segunda-feira, com o relato ficcionado de um país liderado por Joe Biden e pelo Partido Democrata, marcado pelo “socialismo radical” e pelo “caos”.

O tom do primeiro de quatro dias de convenção já tinha sido marcado na manhã de segunda-feira, quando Trump discursou perante os delegados republicanos em Charlotte, no estado da Carolina do Norte, após ter sido nomeado como candidato a um segundo mandato na Casa Branca. Nessa ocasião, o Presidente norte-americano voltou a acusar o Partido Democrata, sem apresentar provas, de estar a preparar-se para cometer fraude nas eleições de Novembro.

Os republicanos prometeram transmitir uma mensagem positiva e inspiradora, para contrastar com a convenção democrata, que descreveram como “sombria”. Mas a primeira noite da convenção do Partido Republicano ficou marcada por discursos cheios de previsões sombrias sobre o futuro se os democratas chegarem à Casa Branca.

"Lei e ordem"

“Eles querem destruir este país e tudo aquilo por que lutámos e que mais estimamos”, disse Kimberly Guilfoyle, conselheira da campanha de Trump. “Querem roubar-vos a liberdade. Querem controlar o que vocês vêem, o que pensam e aquilo em que acreditam, para conseguirem controlar as vossas vidas.”

A convenção republicana arrancou num momento crítico para Trump, de 74 anos, que segue atrás de Biden, de 77 anos, nas sondagens nacionais durante uma pandemia que matou mais de 176.000 norte-americanos e destruiu milhões de postos de trabalho.

Na semana passada, os democratas também pintaram um quadro assustador sobre o futuro do país, mas debaixo de mais quatro anos da Presidência Trump.

Tal como a convenção dos democratas, a grande reunião dos republicanos decorreu, em grande parte, de forma virtual. A maioria dos discursos foi feita a partir de um auditório em silêncio, em Washington D.C., num reconhecimento das consequências da pandemia de covid-19 e apesar de Trump ter insistido na realização de uma convenção com a presença de milhares de apoiantes.

Trump focou-se na mensagem da “lei e ordem” para responder aos protestos que se espalharam pelo país na sequência da morte de George Floyd, em finais de Maio, e insistiu na reabertura das escolas e das empresas apesar da pandemia. Estas duas mensagens destinam-se ao eleitorado branco dos subúrbios, em particular às mulheres, que têm abandonado o Partido Republicano em grande número durante a era Trump.

Donald Trump Jr., filho mais velho do Presidente norte-americano e namorado de Kimberly Guilfoyle, descreveu os recentes protestos como um ataque violento de anarquistas contra as pequenas empresas e disse que o Partido Democrata não conseguirá manter a segurança no país.

A linguagem distópica da primeira noite da convenção fez lembrar o discurso da tomada de posse de Trump em Janeiro de 2017, quando prometeu pôr fim à “carnificina americana” de crime, pobreza e declínio industrial. Está por comprovar se os eleitores vão a receber o mesmo discurso com igual entusiasmo depois de Trump ter liderado o país durante três anos e meio.

“O que vocês ouviram esta noite foi uma sucessão de discursos para fomentar o medo e as divisões, para nos distrair do facto de que Donald Trump não tem um argumento positivo para dizer ao povo americano por que deve ser reeleito”, disse a directora-adjunta da campanha de Biden, Kate Bedingfield.

"Peões da esquerda"

A primeira noite da convenção republicana também avançou aquele que será um dos principais temas da semana: a acusação de que Biden e a sua companheira de candidatura, a senadora Kamala Harris, são apenas dois peões de activistas da esquerda radical.

Vários discursos acusaram o moderado Biden de querer cortar o financiamento à polícia e de banir o fracking (técnica de fracturamento hidráulico para extracção de gás de xisto) –, apesar de o candidato democrata rejeitar ambas as posições.

Duas estrelas em ascensão no Partido Republicano – o único senador negro do partido no Congresso, Tim Scott, e a ex-embaixadora dos EUA nas Nações Unidas Nikki Haley, filha de pais indianos – rejeitaram a ideia de que os candidatos do Partido Democrata vão defender os interesses das minorias.

“Hoje em dia, está na moda no Partido Democrata dizer-se que a América é racista”, disse Haley, de 48 anos, apontada como possível candidata à Casa Branca em 2024. “Isso é mentira. A América não é um país racista.”

Mas o primeiro dia da convenção republicana ficou também marcado por mais contrariedades para a campanha de Donald Trump.

A maioria do Partido Democrata na Câmara dos Representantes questionou o director-geral dos correios, Louis DeJoy, um antigo empresário que doou milhões a Trump e ao Partido Republicano, sobre se está a tentar sabotar a distribuição de correspondência para prejudicar a votação de Novembro. E uma das conselheiras mais próximas de Trump, Kellyanne Conway, anunciou que vai sair da Casa Branca na próxima semana.

Em Nova Iorque, a investigação do procurador-geral do estado sobre os negócios da família Trump intensificou-se na segunda-feira, enquanto a Guarda Nacional recebia ordens para actuar no Wisconsin para controlar os protestos que se seguiram a mais um caso de violência policial, depois de um agente ter baleado um cidadão negro pelas costas.

E uma investigação da agência Reuters revelou um escândalo sexual que envolve o líder evangélico Jerry Falwell Jr., um conhecido e importante apoiante de Trump.

Trump ao ataque

Na manhã de segunda-feira, o Presidente norte-americano repetiu a sua acusação de que a votação por correspondência – um método que será mais usado do que o habitual por causa da pandemia – vai originar uma fraude generalizada. Mas os estudos independentes mostram que a fraude na votação por correspondência é extremamente rara nos Estados Unidos e não difere do que acontece na votação presencial.

E Trump voltou também a reagir à resposta à pandemia em termos partidários, acusando os estados onde o Partido Democrata está em maioria de imporem confinamentos e outras medidas para influenciar as eleições de Novembro.

“Eles estão a usar a covid para roubarem as eleições”, disse Trump, referindo-se ao Partido Democrata. “Estão a usar a covid para tirarem ao povo americano – a todo o nosso povo – uma eleição justa e livre.”

À noite, em horário nobre, o partido transmitiu um vídeo de elogio à forma como Trump tem combatido a pandemia, depois de o Partido Democrata ter passado grande parte da sua convenção a acusar a Casa Branca de falhar na sua resposta.

Mas durante as intervenções pré-gravadas na Casa Branca, em que Trump falou com trabalhadores essenciais e reféns libertados, nenhum dos participantes usou máscaras – um equipamento de protecção que se tornou num símbolo das divisões entre republicanos e democratas, apesar de os epidemiologistas aconselharem o seu uso para travar a transmissão do novo coronavírus.

Para além do senador Tim Scott e da ex-embaixadora Nikki Haley, o Partido Republicano apresentou na primeira noite outras figuras que podem falar a eleitorados minoritários no apoio a Trump, como a antiga estrela do futebol americano Herschel Walker e Kim Klacik, uma candidata à Câmara dos Representantes norte-americana por Baltimore, no estado do Maryland.

Mas o programa também contou com a presença de várias figuras destinadas a entusiasmar a base eleitoral de Trump, incluindo Mark e Patricia McCloskey – o casal que apontou armas a um grupo de manifestantes anti-racismo em St. Louis, no estado do Missouri.

Sugerir correcção