WhatsApp, Skype, Zoom. Líderes partidários fazem política à distância

A crise de saúde pública substituiu as reuniões presenciais por novas formas de organização que passam por plataformas digitais de comunicação e pelo telefone.

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Assembleia só tem feito um plenário por semana Rui Gaudencio

Com o peso de dar ao país um exemplo de distanciamento social mas sem encerrar a actividade política durante a crise sanitária, os líderes partidários tiveram que adoptar novas formas de trabalho à distância quase a tempo inteiro. O teletrabalho passou a fazer parte do dia-a-dia também dos protagonistas políticos assim como a utilização do WhatsApp e de outras plataformas de comunicação que, às vezes, exigem ajuda dos filhos, como foi o caso de José Luís Ferreira, deputado do PEV, quando testou o Skype. Mesmo usando plataformas digitais, a coordenadora do BE, Catarina Martins, e o líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, já se deslocaram pontualmente às respectivas sedes partidárias para gravar vídeos ou entrevistas. André Ventura, do Chega, vai “todos os dias” ao Parlamento, mas fez uma escala de rotatividade para os membros do seu gabinete. Pelo contrário, o PAN só está na Assembleia nos dias em que é “imprescindível” e determinou o teletrabalho para todos (deputados, assessores e funcionários). Com mais ou menos naturalidade, os dirigentes foram obrigados a adaptar-se a novas rotinas diárias e formas de organização. 

Rio em contacto por telefone, mail e WhatsApp

Defensor acérrimo de um funcionamento mais restritivo da Assembleia da República (através da comissão permanente), Rui Rio está em casa desde que foi decretado o estado de emergência (a 18 de Março) e só saiu “duas vezes por necessidade” de se deslocar a Lisboa por causa das sessões plenárias e de uma reunião com o Presidente da República, primeiro-ministro e especialistas de saúde pública. Nem tem ido à sede do Porto que se encontra fechada, tal como a de Lisboa. O líder do PSD assume estar em teletrabalho “de acordo com as recomendações e exigências do actual estado de emergência”. As reuniões passaram a fazer-se à distância. “Mantenho reuniões e conversas por telefone, e-mail, WhatsApp e, sempre que se justifique, por videoconferência”, referiu ao PÚBLICO, numa resposta escrita. Questionado sobre como se adaptou a esta forma de trabalhar, o líder do PSD foi lacónico: “Mais ou menos.”

Líder do CDS em vídeo

Francisco Rodrigues dos Santos tem estado em teletrabalho e só se desloca à sede do partido “pontualmente” para gravar vídeos com mensagem política, embora as instalações do Largo Adelino Amaro da Costa tenham sido encerradas. As reuniões da direcção do CDS passaram a realizar-se pelas plataformas digitais (Zoom, WhatsApp e Skype). “Era uma irresponsabilidade andarmos por aí”, diz ao PÚBLICO o líder do CDS que, no congresso de Janeiro em que foi eleito, tinha prometido fazer das “ruas” o seu “escritório”. Essa promessa espera, agora, por melhores dias. Para já, Francisco Rodrigues dos Santos tem trabalhado em casa, o que já tinha feito como consultor num escritório de advogados quando foi eleito presidente da Juventude Popular em 2015. “Não foi nada difícil adaptar-me mas no contexto político não estava habituado”, confessa o líder do CDS, que não é deputado e, por isso, não tem tido necessidade de se deslocar o Parlamento.

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Francisco Rodrigues dos Santos

Catarina Martins com a família em Lisboa

Por estes dias, a líder do BE faz política a partir de casa e ao lado da família. As tarefas são cumpridas à distância, através do Telegram e do Whatsapp, duas plataformas que o partido já usava antes da imposição de restrições sociais, partilha Catarina Martins. Para cada frente, existe um grupo de WhatsApp diferente: um para o grupo parlamentar, outro para o secretariado, um para assessoria de imprensa e outro do Esquerda.net. As excepções offline são as idas ao Parlamento devido aos debates quinzenais ou quando os trabalhos assim a obriguem.

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Catarina Martins

As horas passadas em casa são mais do que o habitual, “mas os dias são muito preenchidos”, ressalva. A informação é muita e surge de vários pontos e há novas formas de trabalhar com “reuniões e conversas por videoconferência e troca de documentos em plataformas digitais”, exemplifica. A par disso, há a “adaptação a um quotidiano familiar diverso, com toda a gente em casa” e com “necessidades diversas de apoio”, conta.

Habituada a dividir o tempo entre o Norte e a capital, a família de Catarina Martins – o marido e as duas filhas – desceu de Vila Nova de Gaia para Lisboa a tempo inteiro. “Decidimos ficar todos em Lisboa neste período, para eu poder ir ao Parlamento quando necessário e estarmos os quatro juntos.” E toda a família se adaptou às conversas com família e amigos à distância de um telefonema. “Até as avós e netas conversam por videochamada”, partilha a líder do BE.

Além das idas à Assembleia da República, Catarina Martins saiu em trabalho apenas três vezes, para a sede do partido. Catarina Martins faz também reuniões sectoriais por videoconferência. O mesmo acontece com as reuniões do secretariado do partido e as da comissão politica. “Há três semanas que assim é”, conta a coordenadora bloquista.

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Equipa do Bloco em reunião virtual

Do correio do PEV…

Plim, plim, plim. Os avisos de novos e-mails a chegar iam pontuando a conversa por telefone de José Luís Ferreira com o PÚBLICO. O deputado do PEV está em teletrabalho e só vai ao Parlamente nos dias em que há plenário ou conferência de líderes e pelo tempo estritamente necessário. Todo o partido está a funcionar assim – há apenas uma pessoa que vai todos os dias à sede, na avenida D. Carlos I, em Lisboa, mesmo junto à AR, buscar a correspondência. Os meios privilegiados para os dois deputados, os assessores e os outros elementos do partido comunicarem em reuniões “virtuais” são o telefone, o e-mail e as redes sociais. José Luís Ferreira já experimentou o Skype com a ajuda da filha, que o fotografa durante a conversa.

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José Luís Ferreira

“Claro que não é a mesma coisa como estarmos todos à volta da mesa a trocar opiniões, mas vamos conseguindo dar resposta fingindo que está tudo normal”, diz o deputado, vincando que também cabe aos políticos “não contribuir para o alarme social e cumprir as determinações da DGS”. “Temos que estar sempre ligados e prontos para dar resposta. Estamos concentrados nas questões da covid-19, a menos que haja outro assunto inadiável.” A carga horária também aumentou: as mais de duas horas que gastava nos transportes públicos para chegar à AR “é agora tempo que se ganha com o trabalho em casa”.

… à reunião diária do PAN

No PAN, a estratégia é idêntica. O partido elaborou um plano de contingência que implica teletrabalho para todos (deputados, assessores e funcionários), só ir ao Parlamento “quando a presença é imprescindível” – no máximo dois deputados e três assessores , e fecho de todas as delegações do partido pelo país. O grupo parlamentar “reúne diariamente por videoconferência entre si e com a equipa de assessores”. Muitos assuntos são também discutidos via telefone ou através de plataformas que dão primazia ao registo escrito, como o e-mail, chats e documentos partilhados online.

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Inês Sousa Real (PAN)

“Os funcionários do partido são contactados regularmente para percebermos se estão bem de saúde (física e mental), como estão a decorrer as tarefas atribuídas, as dinâmicas de gestão familiar versus teletrabalho e como se encontram as suas pessoas mais próximas, tais como familiares e amigos”, descreve ao PÚBLICO a assessoria de imprensa que admite que esta nova dinâmica “teve inevitavelmente impacto nos trabalhos parlamentares e no demais trabalho político do partido, assim como na vida pessoal e familiar dos deputados e da equipa”. Os funcionários e assessores que tenham filhos pequenos ou pertençam a um grupo de risco mantêm-se na totalidade a realizar teletrabalho e não integram a equipa que rotativamente acompanha os deputados nos dias das sessões plenárias.

Sobre as rotinas dos líderes do PCP – do partido ou da bancada parlamentar , o gabinete de imprensa preferiu um tom lacónico. “O PCP mantém, no quadro da observação e adopção das medidas de prevenção, a sua actividade e intervenção, desde logo da sua direcção na qual se integra o secretário-geral, (presencial, à distância e utilizando os mais diversos meios de comunicação e intervenção). Num momento em que os trabalhadores e o povo mais precisam do PCP para a defesa dos seus direitos – à saúde, ao trabalho, ao salário – o partido não desertará das suas responsabilidades.”

“Volume de trabalho não diminuiu”, diz Joacine

No caso da deputada não-inscrita, Joacine Katar Moreira, as idas ao Parlamento estão praticamente limitadas a dias de plenário. Mas isso não significa menos volume de trabalho, vinca. Além do esforço para ajudar “o Governo a implementar e a melhorar medidas fundamentais para a salvaguarda das famílias”, a deputada sublinha o esforço de “acompanhar a par e passo tudo o que está a ser feito internamente mas também nos outros países”. “Todo o trabalho interno tem sido organizado à distância e com reuniões via Skype”, explica.

“Reagendámos as audiências que estavam marcadas, mas continuamos a receber a e a responder a correspondência, de cidadãos, de organizações e de municípios”, exemplifica, acrescentando que existe ainda disponibilidade para atendimentos online. Até agora, a “a adaptação tem sido positiva e sem sobressaltos.” As maiores exigências têm a ver com a gestão do tempo e do espaço por ter uma filha de três anos. 

Ventura todos os dias na AR

O deputado único do Chega tem-se deslocado ao Parlamento “todos os dias” para “dar continuidade” ao trabalho feito pelos membros do gabinete que se encontram a trabalhar “num sistema de rotatividade”. Dos seis elementos do gabinete apenas dois estão em teletrabalho: a assessora administrativa (que está grávida) e um dos assessores políticos, Diogo Pacheco de Amorim, devido à sua idade. Os restantes continuam a deslocar-se ao Parlamento segundo a escala de serviço criada pelo próprio deputado. As reuniões com toda a equipa são realizadas através de WhatsApp. Já com os membros da direcção tem sido privilegiado o contacto telefónico uma vez que as reuniões presenciais foram canceladas.

IL fez adaptação “natural”

O deputado e líder da Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim de Figueiredo, tem estado na Assembleia da República “sempre que necessário” quer para plenários quer para reuniões da conferência de líderes. Desde o dia 10 de Março que a equipa parlamentar da IL iniciou “gradualmente” o teletrabalho, mantendo contacto diário e permanente utilizando plataformas digitais, sejam chats de conversação ou videoconferências. A adaptação desta equipa a este modo de trabalho “foi natural” já que “plataformas e ferramentas digitais é algo que a IL utiliza desde o início”.

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