Coronavírus: como trabalhar em casa, com produtividade e sem ansiedade

É hora de isolamento social, mas não de te sentires ou fazeres os outros sentirem-se isolados. Juntamos algumas dicas (e experiências) para te sentires em controlo da situação, mesmo passando a maior parte do teu tempo (ou a totalidade) em casa.

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Simon Abrams/Unsplash

Maria João Monteiro, jornalista de 25 anos, está a trabalhar a partir de casa e só sai em reportagem. O que, durante uma pandemia, acontece raramente a uma jornalista da secção de cultura. “Esforço-me por manter a estrutura da rotina ao máximo. Não ficar em pijama, por exemplo, e separar o horário e o lugar de trabalho e lazer. É muito importante esta separação para que a saúde mental não seja impactada.”

A maior parte das pessoas que foi infectada com covid-19 sofreu sintomas ligeiros e recuperou, mas a doença pode ser mais grave para grupos de risco. A quarentena é decretada pelos delegados de saúde pública da área de residência e é pedida a pessoas que estiveram em contacto próximo com casos documentados de infecção ou que viajaram para locais problemáticos em termos de infecção. No entanto, é aconselhado o distanciamento social e, quando o tipo de trabalho assim o possibilita, algumas empresas têm pedido aos colaboradores para trabalhar em casa. Para muitos, pode ser a primeira vez que experimentam o teletrabalho.

O chefe de uma designer do Porto, que prefere não ser nomeada, discorda e, apesar de os computadores terem sido preparados para teletrabalho e o processo já estivesse em andamento, exigiu que os profissionais voltassem ao escritório. “Disse que não confiava em nós, apesar de eu fazer horas extra não pagas quase todos os dias”, conta a jovem ao P3, que voltou há 15 dias de Madrid e vive com os pais, incluídos em grupos de risco. “Por agora, só um [dos membros da equipa] é que vai ficar em casa a trabalhar, caso um de nós fique doente.”

Se João Santos, front-end developer numa multinacional tecnológica, pudesse escolher entre trabalhar a partir de casa ou no escritório, tirava as pantufas e ia. “Sinto que trabalho melhor estando presencialmente com a minha equipa e a componente social é boa no dia-a-dia”, justifica-se. Actualmente a trabalhar a partir de casa, reconhece que a área de tecnologia é “privilegiada no que toca a teletrabalho”. “O maior esforço acaba por ser da parte da empresa por ter de manter uma estrutura de trabalho remoto (a uma escala mundial) para o qual ainda não tinha havido precedentes práticos. O teste de stress só se consegue fazer na prática e essa só surge devido à necessidade.”

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Quer estejas a trabalhar em casa por vontade própria, da empresa ou porque estás a cuidar de alguém ou em quarentena, aqui ficam algumas dicas para aumentar a produtividade e prevenir o pânico. 

Cuida da tua saúde mental

A Organização Mundial de Saúde (OMS) lembra que, durante uma crise, é normal sentires-te “triste, ansioso, confuso ou zangado”. Falar por telefone ou videochamada (ou pessoalmente, mantendo a distância social se for necessário) com pessoas em quem confias pode ajudar — mas evita disseminar informação falsa ou de fontes não seguras. Para conter a propagação da desinformação, avisa a pessoa do outro lado se o que estiveres a ouvir for baseado em mitos, exageros e rumores

A Linha de Saúde SNS24 (808 24 24 24​) está sobrecarregada, mas se te sentires “angustiado ou perturbado, fala com um profissional de saúde e segue as recomendações dadas”, aconselha a OMS. “Recorre a capacidades e competências que já te ajudaram no passado a lidar com situações adversas. Usa-as para lidar com as tuas emoções nos momentos mais desafiantes deste surto.”

Mantém os espaços arejados e limpos

Soluções com pelo menos 70% de álcool são um bom desinfectante para os coronavírus, por isso podem ser usadas para limpar as superfícies em casa: mesas, maçanetas, interruptores e casas de banho. Limpar primeiro com detergente ou sabão, desinfectar depois. Abrir as janelas para ventilar a casa.

E, mesmo em casa, não te esqueças de lavar as mãos depois de tossir ou espirrar; após cuidares de uma pessoa doente; antes, durante e depois de preparares comida; antes de comeres, depois de ires à casa de banho ou depois de tratares de animais ou dos resíduos deles. 

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Prepara uma zona de isolamento

Idealmente, a pessoa em isolamento deve estar num quarto próprio, ventilado e com porta fechada. No Fórum PÚBLICO, o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto explica como: “Se possível, deve utilizar uma casa de banho separada ou, então, higienizar frequentemente a casa de banho partilhada. A roupa e os talheres devem ser bem higienizados pelo próprio. As refeições devem ser realizadas no quarto. Deve ser evitada a partilha de objectos. Sempre que contactar com outras pessoas, deve utilizar uma máscara cirúrgica. Deve ainda manter medidas de higiene respiratória (tossir e espirrar para o cotovelo ou para um lenço de papel, que deve ser descartado), assegurar a higiene das mãos frequentemente com água e sabão por mais de 20 segundos e, claro, manter distância social (2 metros, se possível).”

Já agora, nunca é demais repetir: “Quando a pessoa em isolamento iniciar sintomatologia, não deve recorrer por sua iniciativa aos serviços de saúde. Deve manter-se em espaço doméstico e telefonar para o número SNS24 (808 24 24 24) ou avisar a autoridade de saúde que o contactou.” Os sintomas mais comuns são febre e tosse seca, seguidas de fadiga e dificuldade em respirar. Se tiveres algum destes sintomas, faz todos os esforços para ficar em casa: não vás às lojas (combina com alguém que te possa ajudar), não uses transportes públicos e, claro, não vás para o escritório ou para a faculdade. Pessoas sintomáticas (com tosse e espirros) terão maior risco de contagiar se estiverem sintomáticas, uma vez que a transmissão é feita por gotículas respiratórias.

Arranja um amigo dos recados 

Encontra uma pessoa (ou duas) que possam ir à farmácia ou supermercado por ti e que te entreguem as compras em casa. Caso sejas saudável, não estejas em quarentena e não faças parte de um grupo de risco, sê essa pessoa para um familiar, amigo, colega ou vizinho.

Verifica as tuas fontes antes de publicares 

A pandemia da desinformação começou muito antes da OMS declarar a covid-19 como pandemia, na quinta-feira à tarde, devido “aos níveis alarmantes de propagação e inacção”. Para a combater, é importante reunir os factos, consultar os sites noticiosos de referência e os sites das instituições oficiais, como o do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Direcção-Geral de Saúde (DGS), Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) ou a OMS. 

Mas deixa o binge watching para a Netflix (nas pausas do trabalho): fazer constantemente refresh no ao minuto do PÚBLICO ou deixar a televisão sempre ligada pode deixar-te sobrecarregado. Uma hipótese é definir períodos do dia para consultares as notícias. Caso estejas preocupado em perder as informações mais relevantes, considera ligar as notificações de um site noticioso (ou desligá-las, caso já não te consigas concentrar ou lidar com o stress). Sai de grupos de WhatsApp que não contribuam para te sentires mais informado e, por isso, seguro.

Enquanto jornalista, Maria João tem sempre “a preocupação de estar a ler notícias para estar a par”. “Não dá para desligar completamente. O que faço é informar-me directamente nos jornais e telejornais e ficar mais longe do clique das redes sociais que muitas vezes nos levam às notícias. No fundo, fazer a triagem entre as fontes, escutar os especialistas e ter uma perspectiva integrada da situação (há artigos e gráficos que mostram percentagens de recuperação e isso ajuda sempre a tranquilizar).”

Faz exercício físico

Quem frequenta ginásios começou a pensar duas vezes antes de pôr as mãos nas máquinas ou pedir ajuda a um colega de treino para fazer abdominais. Embora não estejam para fechar, poderá ser benéfico começar a pensar em levar a plano de exercícios para casa, sem sacrificar a maior parte dos benefícios e mantendo o isolamento social. Fala com os treinadores no teu ginásio e pergunta-lhes como podes usar o teu sofá para trabalhar os tríceps — sem esquecer de limpar as superfícies e possíveis poças de suor. 

Um estilo de vida saudável contribui para que as tuas defesas se tornem mais fortes. Além de uma dieta o mais variada possível, mesmo sem ires às compras com frequência, o exercício físico ajuda a diminuir o stress e, os dois combinados, podem fazer com que durmas melhor. 

Em casa, mas “business as usual”

Para comunicar com quem também está em casa, e com a outra metade de colaboradores que ainda continuam na sede, João Santos usa o Slack, ferramenta de troca de mensagens instantâneas gratuita, e o Bluejeans para videoconferências. Como alternativa gratuita, sugere o Zoom, que permite criar as mesmas salas de reunião, embora apenas durante 40 minutos.

A extensão Block Site do Google Chrome permite escolheres que sites bloqueares ao usares este navegador, mantendo as distracções longe da vista. “Todas as ferramentas que usamos quando estamos no escritório são as mesmas que conseguimos usar na nossa sala de casa”, evidencia, referindo-se ao seu emprego. “Apenas difere a necessidade de fazer mais reuniões e videoconferências por já não me poder levantar e ir questionar, de resto é business as usual”.

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