Por que são as mulheres mais resistentes ao coronavírus do que os homens?

Embora, segundo a China, homens e mulheres tenham sido infectados em números aproximadamente iguais, a taxa de mortalidade entre os homens é superior.

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No Carnaval de Veneza todos os cuidados são poucos ANDREA MEROLA/Lusa

Apesar de o novo vírus estar a poupar um dos grupos considerados vulnerável, o das crianças, e ser uma ameaça para os adultos de meia-idade e mais velhos, também tem atingido, entre as suas vítimas mortais, mais homens do que mulheres. 

Segundo uma avaliação, feita no final da semana pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da China, homens e mulheres são infectados em números aproximadamente iguais pelo coronavírus. No entanto, a taxa de mortalidade masculina é de 2,8%, em comparação com 1,7% de mulheres, revela o New York Times.

O surto de pneumonia viral Covid-19, que já afectou pelo menos 77 mil pessoas na China, provocando 2400 vítimas mortais, “é uma crise” e “uma enorme prova” para as autoridades chinesas, afirmou o Presidente daquele país, em declarações transmitidas pela televisão estatal, neste domingo.

Segundo o mesmo jornal norte-americano, os homens também foram mais afectados durante os surtos de SARS (síndrome respiratória aguda grave), em 2002/2003; ​e de MERS  (síndrome respiratória do Médio Oriente ), nos últimos cinco anos. 

Por exemplo, de acordo com um estudo publicado na revista Annals of Internal Medicine, em Hong Kong, em 2003, mais mulheres do que homens foram infectadas pela SARS, mas a taxa de mortalidade entre os homens foi 50% maior. Quanto à MERS, a morte chegou a 32% dos homens infectados e 25,8% das mulheres. O New York Times vai até 1918, à gripe pneumónica, conhecida por gripe espanhola, para confirmar que então mais homens do que mulheres morreram.

O que faz os homens serem menos resistentes? “Já vimos isto acontecer com outros vírus. As mulheres lutam melhor contra eles do que os homens”, começa por responder Sabra Klein, investigadora da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, que estuda as diferenças sexuais nas infecções virais e nas reacções às vacinas, acrescentando que as mulheres também produzem respostas imunitárias mais fortes após a vacinação. Já os homens têm mais dificuldade em combater as infecções.

A resposta está no sistema imunitário feminino, que é mais resistente, confirma Janine Clayton, do Instituto Nacional de Saúde e investigadora de saúde feminina, ao New York Times. Mas se resiste melhor aos vírus respiratórios, o mesmo já não se pode dizer das doenças auto-imunes, como artrite reumatóide ou lúpus, em que as mulheres são mais susceptíveis de ficarem doentes do que os homens, acrescenta.

Estrogénios e outros factores

Para já não há respostas definitivas que expliquem por que é o sistema imunitário das mulheres mais forte do que o dos homens, mas uma das hipóteses tem a ver com as hormonas sexuais femininas, os estrogénios, que parecem contribuir para o fortalecimento do sistema imunitário, bem como o facto de terem dois cromossomas X, enquanto os homens têm apenas um.

Experiências feitas com ratinhos ao coronavírus da SARS mostraram que os machos eram mais susceptíveis à infecção, uma diferença que aumentava com a idade. Eles desenvolviam a doença com exposições virais mais baixas do que elas, assim como tinham danos maiores nos pulmões. Quando os investigadores de microbiologia da Universidade do Iowa, liderados por Stanley Perlman, bloquearam os estrogénios nas fêmeas infectadas ou removeram os ovários, elas tinham mais hipóteses de morrer do que os ratinhos fêmeas que não tinham sido intervencionados. Logo, supõe-se que os estrogénios têm um papel protector.

Mas há outros factores de saúde e comportamentais que podem justificar a resistência feminina aos vírus. Por exemplo, na China, o facto de os homens fumarem mais do que as mulheres – elas representam apenas 2% de um universo de 316 milhões de fumadores, um terço dos fumadores do mundo – pode contribuir para que não resistam tão bem a vírus que atacam as vias respiratórias.

Ainda naquele país, eles têm taxas mais altas de diabetes de tipo 2 e tensão arterial alta. Elas, um pouco por todo o mundo, têm hábitos de vida mais saudáveis do que eles, o que também pode contribuir para a sua resistência.


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