Candidatos pró-democracia conseguem vitória esmagadora em Hong Kong

Quase 390 dos 452 assentos disponíveis nos 18 conselhos distritais vão para candidatos pró-democracia. Governo promete “reflectir” sobre resultados.

Fotogaleria
Reuters/ATHIT PERAWONGMETHA
,Hong Kong
Fotogaleria
LUSA/JEON HEON-KYUN
Fotogaleria
Reuters/ADNAN ABIDI
Fotogaleria
Reuters/ADNAN ABIDI
Carrie Lam
Fotogaleria
Reuters/THOMAS PETER
Andrew Li
Fotogaleria
Reuters/THOMAS PETER
Fotogaleria
Reuters/THOMAS PETER

Os candidatos pró-democracia nas eleições de domingo para os conselhos distritais obtiveram um resultado esmagador face ao campo pró-Pequim, conquistando quase 90% dos assentos do Conselho Distrital, segundo a emissora RTHK. Os candidatos pró-democratas, até às 9h (1h em Portugal Continental) alcançaram pelo menos 390 assentos dos 452 em jogo, numa eleição com uma participação recorde de 71,2% que demonstrou o forte apoio para as organizações que mobilizaram os protestos que levaram à rua milhões de pessoas em Hong Kong desde Junho.

Nas últimas eleições, em 2015, o campo pró-Pequim tinha obtido quase dois terços dos assentos nos conselhos distritais. De acordo com estes resultados, perderam mais de 240 assentos em comparação com 2015. Segundo o jornal South China Morning Post, os pró-democratas venceram 17 dos 18 conselhos distritais, todos anteriormente sob controlo das forças pró-governamentais. Os dados preliminares oficiais, quando falta apenas conhecer os vencedores de 58 dos 452 lugares em disputa, dão conta da conquista de 344 lugares pelos pró-democratas.

Tendo em conta o desfecho desta eleição, a chefe do Governo de Hong Kong prometeu “reflectir sobre os resultados”. Num comunicado publicado online e assinado por Carrie Lam, o Governo reconhece que uma das conclusões que pode ser retirada da análise aos resultados é a de que estes reflectem “o descontentamento [dos cidadãos] com a situação actual e com os “problemas sociais profundos” que Hong Kong atravessa. Carrie Lam deixa ainda a promessa de que as opiniões dos eleitores serão ouvidas “humildemente”.

Estas eleições ficaram marcadas por dois brutais ataques a candidatos e pelos protestos, que degeneraram em violência, pelo direito de escolha do seu próprio governo. Para parte da população e muitos analistas, foram uma forma de medir a adesão dos cidadãos da cidade às manifestações, e às suas reivindicações, dos últimos seis meses.

Este domingo acabou por ficar marcado por uma forte afluência às urnas: entre os vencedores constam antigos líderes estudantis e um candidato que substituiu o proeminente activista Joshua Wong, a única pessoa impedida de concorrer à eleição. Um conhecido organizador dos protestos, Jimmy Sham, espancado no mês passado por assaltantes desconhecidos, também triunfou, assim como um deputado pró-democracia.

O maior partido político pró-Pequim de Hong Kong sofreu, até agora, o maior revés, com mais de 100 dos seus 182 candidatos a serem derrotados. Entre os perdedores constam o controverso deputado Junius Ho, esfaqueado este mês durante a campanha. Cinco dos conselheiros que foram eleitos este domingo podem candidatar-se a cinco lugares no Conselho Legislativo (equivalente ao Parlamento), em Setembro de 2020.

A participação normalmente baixa nas eleições para os conselhos distritais, tradicionalmente controlados por partidos pró-Pequim, ganhou uma nova importância no contexto dos protestos. Um resultado forte da oposição será lido como um apoio público aos manifestantes, ainda que o recurso à violência tenha vindo a aumentar. Os conselhos distritais controlam uma parcela do orçamento distrital e tomam decisões diárias sobre assuntos locais, como a reciclagem, os transportes e a saúde pública.

Número recorde de candidatos

Foi contabilizado um número recorde de 1104 candidatos para 452 lugares nas assembleias dos vários distritos que compõem Hong Kong. Inscreveram-se para votar 4,1 milhões de eleitores — nunca tantos o tinham feito antes. 

Na fase de candidaturas a maior parte acabou aprovada, mas as autoridades bloquearam a do conhecido dirigente do partido Demosistō (Vontade do Povo), Joshua Wong, que defende a autodeterminação de Hong Kong. As autoridades justificaram a rejeição da sua candidatura precisamente por estar ligado a uma organização política que promove a independência de Hong Kong.

Na sexta-feira, a polícia fez um apelo aos manifestantes para que não perturbassem a eleição que tem lugar a cada quatro anos. Há seis meses que a região administrativa especial da China está em convulsão, com embates recorrentes entre a polícia e os manifestantes.

Os últimos dias ficaram marcados por uma interrupção da violência, explicada pela vontade dos manifestantes garantirem que as eleições não seriam adiadas. As semanas que antecederam as eleições deste domingo foram marcadas por episódios violentos, que levantaram dúvidas sobre se o escrutínio iria ou não avançar, sobretudo após o cerco policial à Universidade Politécnica.

Já com um prometido reforço policial, estas eleições foram as primeiras desde que os protestos em massa irromperam na antiga colónia britânica, que vive agora a maior crise social e política desde a transferência de soberania para a China.

Sugerir correcção
Ler 9 comentários