Sete meses de obras para fazer da Rua de Campolide uma avenida

Objectivo da câmara de Lisboa é escoar o trânsito da futura Praça de Espanha. Projecto contempla semáforos e radares, mas moradores temem um grande aumento do número de carros e velocidades exageradas.

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É neste troço que a faixa de rodagem da Rua de Campolide vai ser alargada, tal como já está nos restantes Rui Gaudencio
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A população local há muito que reclama obras Rui Gaudencio
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O alargamento para avenida não vai implicar demolições, garante a câmara Rui Gaudencio
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Este passeio, o mais largo, será reduzido Rui Gaudencio
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Está ainda prevista a criação de um parque de estacionamento Rui Gaudencio

As obras que vão transformar um troço da Rua de Campolide em avenida com quatro vias de trânsito devem arrancar a 14 de Outubro e têm duração prevista de sete meses. O projecto foi apresentado na semana passada a alguns moradores que, apesar de terem várias sugestões para a empreitada, ficaram a saber que já nada se pode alterar.

Com o objectivo assumido de escoar o trânsito da Praça de Espanha, cujo esquema viário vai mudar significativamente, o troço da Rua de Campolide entre o viaduto da Av. Gulbenkian e a Quinta José Pinto passará a ter quatro vias de circulação automóvel e separador central com árvores. Para isso, e porque a artéria é ladeada por prédios, o passeio mais largo será reduzido. Usado em grande parte para estacionamento indevido, esse passeio ficará com 1,40 metros de largura no fim das obras.

Está ainda prevista a criação de três passadeiras com semáforos e radares de velocidade, bem como a sobreelevação da estrada perto do Jardim da Amnistia Internacional, onde existe um infantário da Santa Casa e onde a rua descreve uma curva acentuada. A empreitada contempla também, segundo a Sociedade de Reabilitação Urbana Lisboa Ocidental (SRU), a colocação de dois ecopontos enterrados, a instalação de uma doca de bicicletas Gira e a criação de 86 lugares de estacionamento (55 na rua e 31 num parque a ser construído).

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Estas foram as informações que dois responsáveis da SRU e o empreiteiro transmitiram numa reunião com moradores pedida pela Junta de Freguesia de Campolide. Alguns residentes e comerciantes mostraram-se preocupados com o previsível aumento de tráfego naquele local, com as velocidades excessivas e com a falta de árvores e bancos, tendo sido informados de que “o contrato está fechado” e não pode ser alterado.

“Nós não acompanhámos o desenvolvimento do projecto. Questões que tenham que ver com a estrutura do projecto, desculpem, mas será perda de tempo. O objectivo desta sessão não é discutir o projecto”, declarou Isabel Neto, da SRU, em resposta a um munícipe, Bruno Palma, que foi o mais interventivo da reunião.

Desde há mais de dez anos que Palma está em contacto com serviços da câmara de Lisboa para a realização de obras na Rua de Campolide, identificada como um “ponto negro” de atropelamentos na cidade. O projecto para esta artéria saltitou mais do que uma vez de departamento em departamento dentro da autarquia e conheceu várias mudanças. Uma primeira versão, por exemplo, previa a redução da largura das vias de trânsito para diminuir a velocidade dos carros e aumentar a segurança pedonal. A solução agora adoptada é bastante diferente e chegou à SRU já fechada. Ou seja, a esta entidade competiu apenas contratar o empreiteiro e pôr as obras a andar.

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O passeio mais largo da rua é actualmente usado para estacionamento indevido Rui Gaudêncio

“Como é que se fecha um contrato sem falar com a população?”, insurgiu-se Bruno Palma. O munícipe quis saber quantos carros por hora estão previstos no estudo de tráfego e alertou para as altas velocidades que já ali se praticam. “Um dos problemas ali da rua é a excessiva velocidade dos autocarros. A colocação de um separador central nas vias potencia o aumento de velocidade. Como é que vamos controlar isso?”, quis saber.

Ficou sem resposta na primeira questão e foi André Couto, presidente da junta, que respondeu à segunda. “Todo este projecto foi feito para a segurança dos peões. Aquilo que acontece hoje – atravessarmos com medo – nunca mais vai acontecer”, disse o autarca, mencionando as passadeiras semaforizadas, os radares de velocidade e pilaretes em todo o passeio. Ainda assim, André Couto admitiu que a rua “não devia ser zona de atravessamento, devia ser zona de tráfego local”.

Outro debate que se gerou foi relativo à inexistência, no projecto, de árvores e bancos nos passeios. Isabel Neto explicou que este projecto foi feito no âmbito do programa Pavimentar Lisboa e não no Uma Praça em Cada Bairro, o que significa que se trata essencialmente de uma obra focada no sistema viário. O contrato, afirmou a engenheira da SRU, inclui a plantação de 11 árvores no separador central e 2135 arbustos em toda a área das obras. “A empreitada tem controlo de custos, não podemos alterar as quantidades”, disse. “Nós, dono de obra, não podemos fazer o que quisermos.”

“A única coisa que nos estão a oferecer é betão, carros e barulho”, opinou Bruno Palma. “Isto é mais do que carros e betão”, respondeu André Couto. O presidente da junta disponibilizou-se para ser a autarquia de Campolide a comprar e plantar mais árvores e a instalar bancos na parte superior da rua. “Vamos deixar a obra acontecer. No final, como é óbvio, voltamos todos a sentar-nos e a falar”, afirmou.

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