Alterações viárias na Praça de Espanha preocupam oposição e ACP

Concurso público para a empreitada já pode ser lançado. Obras devem arrancar no segundo semestre deste ano.

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Daniel Rocha

Foi aprovado o lançamento da empreitada para transformar a rede viária da Praça de Espanha, que passará a ter dois grandes cruzamentos em vez da actual rotunda. Na reunião da câmara de Lisboa, CDS e PSD votaram contra, enquanto BE e PCP acompanharam a proposta socialista, mas com reparos.

Esta quinta-feira foi também o dia em que o Observatório do Automóvel Club de Portugal (ACP) divulgou um parecer técnico sobre o assunto, apontando “uma série de fragilidades técnicas” às mudanças que aí vêm e criticando o estudo que as sustentam. Esse estudo, realizado em 2015 e 2017, “foi criado com base num cenário pessimista de crescimento de tráfego, baseado em alterações profundas nos parâmetros de mobilidade para a cidade, em face de um crescimento na taxa de desemprego e diminuição do poder de compra”, mas, diz o Observatório, o que se verifica hoje em Lisboa é um “aumento da taxa de motorização”.

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Por outro lado, lê-se no parecer, o estudo “não avalia os efeitos nas zonas adjacentes à praça, nomeadamente ao nível da redução de estacionamento e pressão viária” e não tem em conta “outras operações e projectos previstos ou em execução para a zona envolvente”, como a Operação Integrada de Entrecampos ou a nova linha circular do metro.

Outras críticas do ACP prendem-se com os “valores de crescimento de tráfego muito preocupantes para a Av. Columbano Bordalo Pinheiro”, a sobrecarga de trânsito em vias próximas, como a Av. Santos Dumont, os “efeitos nefastos ao nível da poluição atmosférica e ruído” no eixo António Augusto de Aguiar/Combatentes e, ainda, a “deterioração generalizada nas condições de acesso e segurança pedonal no acesso à zona central da praça”. É para aí que está previsto um grande parque urbano, cujo projecto foi apresentado no início da semana.

Para o CDS, a criação do parque, de ciclovias e de novos corredores BUS é positivo, mas “a solução viária comporta riscos” e assenta num “estudo de tráfego minimalista, que se concentrou nas ruas à volta da praça”, quando “devia ir muito além da Av. da República”, diz o vereador João Gonçalves Pereira. “Era importante ter o contributo de vários técnicos”, diz o centrista, que acusa o executivo de Medina de impor uma solução sem ouvir os lisboetas.

“O processo do esquema viário revela falta de transparência e ausência de discussão pública”, comenta João Pedro Costa, do PSD, que também tem críticas técnicas. “Vai dificultar radicalmente a vida das pessoas no bairro de Santos ao Rego, trazendo o tráfego da praça para o interior do bairro, em particular nas horas de ponta”, alerta o vereador.

Também Jorge Alves, do PCP, diz acompanhar estas preocupações. “Percebemos que vai ali criar alguns problemas no bairro do Rego. Terão de existir ajustes”, diz o eleito, que elogia o projecto do parque urbano e por isso votou a favor. “É, de facto, uma muito boa solução.”

Pelo BE, Manuel Grilo critica a cedência, em 2015, de terrenos municipais ao Montepio, que vai permitir à associação mutualista ali construir um grande edifício. “A introdução de edifícios de grande impacto visual numa zona residencial provoca alterações profundas na vivência dessas zonas, afectando negativamente a circulação viária e estacionamento”, alerta na sua declaração de voto. Que foi favorável porque “os estudos indicam que [a nova rede viária] assegurará uma redução de tráfego, nomeadamente com a minimização de entrada de carros por estas vias.”

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