Rua de Campolide torna-se avenida para escoar o trânsito da Praça de Espanha

Moradores, trabalhadores e comerciantes da zona suspiram por obras de que já ouvem falar há anos. As profundas mudanças viárias na Praça de Espanha servirão de pretexto para mexer num troço muito procurado por automobilistas.

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Rui Gaudêncio

O prédio de onde Maria Alcide Rocha acaba de sair tem à frente um largo passeio, mas não é fácil chegar à paragem do 758 ali a três metros. Os carros estacionados em cima da calçada obrigam-na a uns desvios e, já a chegar à paragem, forçam-na a andar de lado para se conseguir posicionar junto à estrada.

“Não sei se pode haver aqui mais trânsito”, comenta, enquanto olha lá para o fundo a certificar-se de que o autocarro ainda não vem aí. Passa pouco das dez da manhã e, neste troço da Rua de Campolide, o tráfego está intenso: automóveis de um lado para o outro, por vezes em velocidade excessiva, uns esporádicos autocarros. “Esta rua é muito movimentada, parece que não há outra rua em Lisboa. Passa aqui tudo!”, irrita-se.

Na Taverna Carvoeiro, a pouca distância, as opiniões coincidem. “É inadmissível ver o movimento que esta rua tem e não se fazerem obras”, insurge-se Álvaro Fernandes. “Tenham dó das pessoas, esta rua é uma vergonha”, pede o morador. Atrás do balcão, Catarina Cunha concorda: “Já fui quase atropelada ali em cima. Esta rua precisa mesmo de obras.”

O sentimento é partilhado do outro lado da estrada, num jardim-de-infância da Santa Casa da Misericórdia. “A ideia que dá é que isto é uma via rápida. É uma zona de muito, muito trânsito”, afirma Ana Duarte, directora técnica da instituição. “Isto parece uma estrada livre, parece que não estamos no centro da cidade. As educadoras têm imenso receio de sair com os miúdos”, diz.

Desde que assumiu o cargo, em Setembro, que vem pedindo à junta de freguesia e à câmara de Lisboa que façam alguma coisa. Além da velocidade a que passam os carros, preocupa-a a estreiteza do passeio junto ao edifício que dirige e a impossibilidade de parar o carro legalmente, por breves minutos, para deixar as crianças. “Há aqui pessoas que trazem carrinhos de bebés ou gémeos, têm de parar com os quatro piscas. E aqui a entrada é tão estreita que não passam dois carrinhos ao mesmo tempo”, relata.

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Rui Gaudêncio

Os seus reparos podem surtir efeito brevemente. A câmara de Lisboa quer avançar com obras neste troço da Rua de Campolide que fica entre o fim da Av. Miguel Torga e a Quinta José Pinto. É um eixo muito procurado pelos automobilistas que querem chegar a Sete Rios, ao Eixo Norte/Sul, à Praça de Espanha ou às Amoreiras. A Miguel Torga tem duas vias em cada sentido, e o resto da Rua de Campolide, o que liga a Sete Rios, também. Falta este bocado.

A intenção da câmara é precisamente replicar o que já está feito nas duas extremidades deste troço: alargar a rua para um perfil de avenida, com quatro vias de trânsito e separador central. “Aquela zona tem muito trânsito. Vai-se ganhar em fluidez, vai ser uma mais-valia”, acredita o presidente da Junta de Freguesia de Campolide, André Couto.

PÚBLICO -
Aumentar

O autarca não esconde que “esta obra é pensada em conjunto com a obra da Praça de Espanha”, que vai mudar significativamente a circulação automóvel naquela praça, passando a existir dois grandes cruzamentos em vez da actual rotunda. “Mesmo hoje a obra na Rua de Campolide já faz falta. Com a mudança da Praça de Espanha é inevitável”, diz André Couto. “A situação actual é que não pode continuar. É mau para quem quer sair da cidade e mau para os residentes, que querem ir a algum lado e não conseguem.”

Segundo a proposta da câmara, que foi aprovada por unanimidade, a intervenção na Rua de Campolide destina-se a “aumentar globalmente a fluidez (especialmente dos transportes públicos), a segurança dos peões e condutores”. O PÚBLICO tentou obter mais pormenores sobre o projecto junto da autarquia, mas até ao momento não conseguiu. Ainda de acordo com a proposta, “atingindo este objectivo principal requalifica-se toda a zona envolvente criando um ambiente bem iluminado, paisagisticamente integrado e com os meios necessários de segurança.”

Para Ana Duarte, que não conhece o projecto, levantam-se algumas questões. “Fazendo as quatro faixas tem de haver aqui algum mecanismo para a redução da velocidade, como semáforos ou lombas. Ajudaria muito ter aqui umas lombas, a velocidade seria seguramente menor”, diz a directora do jardim-de-infância. 

André Couto diz que, apesar do alargamento da faixa de rodagem e consequente estreitamento do passeio, as condições de circulação pedonal vão melhorar e não se perderão lugares de estacionamento. O presidente da junta – que falou com o PÚBLICO antes da polémica sobre o estacionamento em cima dos passeios na Rua Vieira Lusitano – destaca por fim a criação de um parque verde na Praça de Espanha e o corredor verde de Alcântara como obras importantes para a freguesia nos próximos anos. “Têm um impacto ambiental importante, não se pode descurar a sustentabilidade”, comenta.

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