Portugal, "país moderno em moda masculina", foi o convidado da Pitti Uomo

Na 92.ª edição da Pitti Uomo, Portugal esteve como país convidado, representado por oito marcas. Outras sete também expuseram na feira de moda masculina de Florença.

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Proj3ct Studio

No tom de voz solene em tudo semelhante ao do naturalista David Attenborough somos convidados a conhecer uma espécie original de Florença: “O narcisista mais extravagante da natureza, o pavão.” Trata-se de um vídeo humorístico que descreve a espécie de dandies que de seis em seis meses povoa a feira internacional de vestuário masculino Pitti Uomo, na cidade italiana.

O evento marca o início do calendário de apresentações de roupa e acessórios masculinos, seguido das semanas de moda para homem em Milão, Paris e Nova Iorque. Tem tanto de artístico quanto de comercial. E ocupa a quinhentista Fortezza da Basso, juntando ao longo de quatro dias mais de 1200 marcas, desde as mais clássicas como Brunello Cucinelli a outras mais desportivas ou de streetwear. Acontecem também eventos satélites, como foi o caso nesta semana, por exemplo, do desfile de moda de Y/Project (guest designer desta edição), que decorreu na quarta-feira ao final da tarde, no claustro da igreja de Santa Maria del Fiore, à luz das centenas de lanternas distribuídas pelos convidados.

Este ano, além das 13 secções que dividem os expositores, houve uma zona dedicada exclusivamente a marcas portuguesas. A cada edição, a organização escolhe um país convidado — na última foi a Geórgia e há um ano a Finlândia — e desta vez calhou a Portugal a distinção. Com o apoio da Associação Selectiva Moda (ASM), a sala da guest nation, adjacente ao pavilhão central, foi ocupada por oito marcas nacionais de roupa e acessórios. “A lógica era naquele espaço se passasse uma ideia do que é o Portugal moderno em termos de moda masculina e que fossem empresas emergentes”, explica Manuel Serrão, administrador executivo da ASM.

É uma combinação de factores que determina qual o país convidado em cada edição, explica um representante da Pitti Immagine: “O país tem de ter algo entusiasmante a acontecer” na indústria da moda e, ao mesmo tempo, tem de exportar.

Poucos contactos para os portugueses

No segundo dia da feira, os empresários falavam de alguns, poucos, contactos feitos com agentes, buyers e distribuidores. Luís Campos, co-fundador da marca de meias WestMister, por exemplo, mencionava um distribuidor com 12 lojas na Irlanda que fez uma encomenda, o contacto com uma agente holandesa e com um alfaiate. Já António Costa, que estava a representar a Ecolã (onde trabalha há quase duas décadas), indicava um contacto do Canadá (com quem estava a fechar finalizar negócio), de duas lojas em Itália e de uma holandesa.

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Entrada para a sala da Guest Nation

Em representação da marca de roupa Hugo Costa, Carla Montenegro Reis apontava também para um ou dois contactos feitos, comentando que chegara na expectativa de que os resultados da feira fossem sobretudo em termos de imprensa. “Aqui em baixo [no piso inferior do pavilhão principal] estamos mais limitados”, acrescenta. De resto, na mesma sala estavam também a Caiágua (uma marca de coloridas casacos impermeáveis), a Ideal & Co (acessórios de pele), a Labuta (calçado e acessórios) e a Poente (óculos de sol e de ver).

Apesar da enorme dimensão da feira, a passagem em certas zonas é por vezes difícil devido ao grande número de pessoas presentes. Ainda assim, e mesmo com as sinaléticas no interior do pavilhão principal a apontar para a exibição da guest nation, a sala esteve relativamente vazia ao longo do segundo dia.

Pelo resto da feira, havia outra meia dúzia de marcas nacionais. Entre elas estava, por exemplo, As Portuguesas, localizada na secção Urban Panorama. Tendo começado com chinelos feitos à base de cortiça, a marca tem hoje uma variedade de sapatos de diferentes feitios e cores e está presente em mais de 150 lojas em Portugal, bem como em pelo menos uma loja em cada estado dos EUA.

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Pedro Abrantes criou As Portuguesas

É a primeira vez que está na Pitti Uomo, informa Pedro Abrantes, CEO e fundador da marca. “Tem corrido muito bem, graças a ter uma grande estrutura por trás”, afirma, referindo-se ao apoio da Amorim Cork Ventures e do grupo Kaya (o mesmo por detrás da Fly London). Destaca ainda a importância da preparação da presença em feira, referindo que muitas pessoas que se dirigem ao stand já conhecem a marca. O investimento para uma marca em crescimento é alto (por volta dos 6000 euros pela presença em si, mais 5000 para a execução do stand), mas vale a pena, avalia Pedro Abrantes: “Itália está a ser uma agradável surpresa.”

No pavilhão L’altro Uomo também se ouvia falar português, com a La Paz (uma marca com um estilo “clássico desportivo com um twist"), a Mano Studio (uma “linha de streetwear com sapatilhas”) e a Portuguese Flannel (que, como o nome indica, centra-se na camisa de flanela), instaladas a poucos metros de distância uma da outra. 

Para Fernando Figueiredo, esta é a sexta participação na Pitti, sendo que antes o fazia a marca Common Cut, que acabou por se transformar na Mano Studio. O resultado tem sido positivo, refere. “Estamos na primeira fase, de apresentação da marca para ter feedback. [Queremos] crescer passo a passo, boa selecção de parceiros e lojas”, afirma. “O jogo de marca é um caminho de paciência”, remata.

Fundada há oito anos, a La Paz posicionou-se desde cedo em mercados externos (com presença forte nos EUA e Inglaterra), oferecendo colecções inspiradas no Atlântico. Está na Pitti Uomo pela quinta vez, sendo que a presença na feira é importante por ser o primeiro ponto de paragem das apresentações da nova estação, referem os donos da marca, José Miguel de Abreu e André Bastos Teixeira. Hoje em dia é raro fechar negócios logo na feira, indicam ainda, mas o primeiro feedback é importante para os empresários. Para Manuel Magalhães, co-fundador da Portuguese Flannel — que esteve na Pitti pela terceira vez — a feira é, sem dúvida, “a forma de angariar clientes”. Em termos de contactos, Ana Penha e Costa, fundadora da +351 — que estava localizada no pavilhão My Factory —, fala em “poucos mas bons".

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Proj3ct Studio

A presença de Portugal como país convidado, apoiada pela ASM, insere-se, por sua vez, na estratégia de levar marcas portuguesas a feiras internacionais — ao todo 85 feiras, em 35 países. O projecto é financiado por fundos comunitários, com um valor anual elegível total de 12 milhões. A ASM apoiou ainda a presença de três das marcas que estavam nos restantes pavilhões: a +351, Mano Studio e Dielmar.

No rescaldo da semana, Manuel Serrão afirma que “a feira correu muito bem em termos de negócios para as três empresas que já lá tinham estado”. Não tanto para as que estavam na sala guest nation, sendo que ainda assim algumas delas tiveram encomendas e, em geral, ficaram satisfeitas com a visibilidade mediática.

O PÚBLICO viajou a convite da Pitti Immagine​

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