Na sua primeira greve, o metro do Porto (quase) parou

Sindicato e Barraqueiro foram chamados ao concessionário, a Metro do Porto, para uma reunião, esta terça-feira. Objectivo é travar paralisações previstas para 17 e 31 deste mês.

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ADRIANO MIRANDA

Algum dia lá teria de acontecer. A famosa paz social do metro do Porto - que vem sempre à baila de cada vez que o metropolitano de Lisboa pára durante uma greve - fez um intervalo, e a primeira paralisação convocada pelo Sindicato dos Maquinistas de Caminho-de-Ferro quase parou o sistema de transportes inaugurado há 16 anos. Preocupada com a quebra na imagem de fiabilidade do serviço, e com a possibilidade de nova paragem a 17 e 31 deste mês, o concessionário, a Metro do Porto, chamou para uma reunião, esta terça-feira, o operador, a Barraqueiro, e os representantes dos “agentes de condução” que, para além de aumentos salariais e diminuição da carga de trabalho, lutam, há anos, para serem classificados como “maquinistas”.

As negociações entre empresa e sindicato foram interrompidas no domingo à tarde sem acordo, abrindo portas a uma paralisação histórica no sistema de metro do Grande Porto, que já se vira afectado, mas apenas parcialmente, pela adesão de trabalhadores seus a greves gerais, mas no qual não havia, em mais de década e meia, uma experiência de greve interna concretizada. Ao contrário do que aconteceu noutras situações, o diálogo não chegou para desmobilizar o pré-aviso e a verdade é que o Smaq fez o pleno entre os 185 agentes que lhe estão associados, de um total que ronda as 220 pessoas adstritas a estas funções. De entre os não inscritos neste sindicato, cinco foram trabalhar e, segundo a Metro do Porto, mantiveram-se a cumprir a escala que lhes estava atribuída.

Com este curto efectivo, a Barraqueiro - que depois de ter estado à frente desta operação oito anos, no consórcio ViaPorto, iniciou em Abril uma nova sub-concessão do sistema - apenas conseguiu manter em operação um tramo de menor procura na rede. Houve metro entre Póvoa de Varzim e a Fonte do Cuco, em Matosinhos, com metade das frequências habituais e sem o serviço “expresso”. Questionada pelo PÚBLICO sobre as razões que levaram à interrupção das viagens neste ponto quando, logo a sul, na Senhora da Hora, há mais opções de acesso a outros meios de transporte, fonte da Metro do Porto justificou a opção com razões de segurança face a um expectável excesso de procura naquela paragem.

A Senhora da Hora era, também, o ponto de reunião dos grevistas. Em declarações ao PÚBLICO, o sindicalista Rui Santos disse desconhecer as razões desta ordem de serviço mas garantiu que, se havia receito de confrontos entre quem aderiu à paralisação e os elementos que se mantiveram a trabalhar, ele era infundado. “Queremos que respeitem o direito à greve, e as nossas razões que, como se vê, foram aceites pela esmagadora maioria dos maquinistas, mas para isso temos de respeitar também quem quer trabalhar. A liberdade de uns e de outros não pode ser posta em causa”, insistiu.

Em toda a Área Metropolitana do Porto, o metro garante 2,5% das deslocações relacionadas com trabalho e 4,7% dos movimentos casa-escola. Quem pôde recorreu ao carro ou ao táxi e quem não tinha estes recursos contou, esta segunda-feira, com um reforço na oferta da STCP que passou, por exemplo, pela Linha 503, que garantia a ligação ao Porto aos clientes que terminavam viagem no metropolitano em Fonte de Cuco. O reforço fez-se sentir, entre outras carreiras, na Linha 205, que deixou de fazer a variante a S. Roque, garantindo o percurso total na circunvalação até Campanhã para todas as viagens e na Linha 601, para garantir ligação ao aeroporto, muito utilizada por turistas, explicou fonte desta empresa ao PÚBLICO.

Autocarros lotados

A STCP assume que o acréscimo de procura lotou vários veículos, nas horas de ponta, num dia ainda complicado por alguns acidentes de trânsito na cidade, e enquanto os utentes se apinhavam nas linhas de autocarros mais concorridas, o Smaq pedia a compreensão deles para as motivações de uma greve inédita. Sem aumentos salariais em 2018, os trabalhadores exigem um acréscimo de remuneração que os compense, em 2019, desta quebra de poder de compra, mas Rui Santos explica que, mais do que as questões salariais, o que mais separa as duas partes tem que ver com a contratação de mais pessoal que permita, ao operador, fazer uma gestão do quadro de agentes de condução menos dependente de horas extraordinárias e de jornadas de seis dias consecutivos com turnos que podem variar entre as seis e as quase 10h.

Brevemente a Barraqueiro vai ter disponível mais um contingente de 12 agentes, mas Rui Santos considera que esse número é insuficiente. Para além "de um recurso excessivo às horas extra, há maquinistas com dias de férias de vários anos anteriores por gozar”, argumenta, considerando que, dada a exigência e a responsabilidade destas funções, seria importante que as pessoas pudessem conciliar melhor o trabalho, o descanso e a própria vida familiar. Por isso, e tendo em conta que, como concedente, a sociedade Metro do Porto tem responsabilidade pelas condições de operação impostas no contrato com a Barraqueiro, o sindicalista espera que a reunião tripartida desta terça-feira permita abrir a porta a um entendimento que deixe, para a história, a greve desta segunda-feira como um dia sem exemplo em que o metro do porto (quase) parou.

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