Zero: “Não estamos a corresponder ao esperado” na luta contra alterações climáticas

Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero (Associação Sistema Terrestre Sustentável), acredita que a concretização do roteiro de neutralidade carbónica para 2050 é essencial para colocar Portugal em linha com os objectivos do Acordo de Paris.

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Três perguntas a Francisco Ferreira Joana Bourgard/RR

Quais são as expectativas para esta cimeira?

Desta cimeira deverá sair um conjunto robusto, justo e coeso de directrizes de implementação para solidificar o Acordo de Paris e um roteiro para finalizar eventuais questões pendentes. Também se espera um compromisso dos países para intensificar o cumprimento e melhorarem as suas contribuições nacionalmente determinadas até 2020 (isto é, reduzirem as metas de emissão de gases de efeito de estufa) em linha com a ciência climática e ainda a reafirmação dos compromissos dos países desenvolvidos de garantir o financiamento climático em 2020. Acredito que de diversos países virão compromissos fortes de redução e de financiamento, mas provavelmente ainda aquém do desejável e necessário.

Como é que, na sua opinião, está Portugal nos indicadores globais?

Em 2018, Portugal voltou a sofrer as consequências das alterações climáticas de forma evidente. Os recordes de temperatura máxima em Agosto em vários locais, o recorde de temperatura média mais elevada registada no mês de Setembro, a tempestade Leslie que afectou a região Litoral Centro e ainda o incêndio de grandes dimensões em Monchique lembram-nos a urgência de nos prepararmos para um clima em mudança com maior frequência e intensidade de fenómenos meteorológicos extremos. Portugal tem-se afirmado como um país disponível para apoiar metas ambiciosas no combate às alterações climáticas, apesar de internamente nalgumas áreas (como a eficiência energética dos edifícios e nos transportes) estar aquém de concretizar as reduções de emissões de gases de estufa que seriam desejáveis. A concretização do roteiro da neutralidade carbónica para 2050 é essencial para estruturalmente colocar o país em linha com os objectivos de Paris.

O Acordo de Paris está a “comemorar” três anos. Há razões para celebrar?

Há diversas razões para “comemorar” mas de forma muito contida. O Acordo de Paris entrou em vigor menos de um ano depois de ter sido aprovado, muito mais rapidamente do que os sete anos do Protocolo de Quioto, o que mostra o sentido de urgência. Tal como previsto no acordo, os cientistas cumpriram e elaboraram um relatório com os impactes de um aumento de temperatura global de 1,5 e dois graus Celsius, sendo que este último cenário tem consequências negativas muito mais significativas. Por último, entramos agora na conferência na Polónia na revisão em baixa das metas de emissões de todos os países tal como estava previsto, para serem formalmente consideradas em 2020. A realidade, no entanto, mostra-nos que após três anos de estagnação, as emissões voltaram a subir e, portanto, na prática não estamos a corresponder ao esperado, nomeadamente nas políticas e medidas de curto prazo.

A nossa maior preocupação agora deve ser aproveitar o tempo que a comunidade científica nos diz que temos até 2030 para reduzir 45% das emissões em relação a 2010 e assim garantirmos um aquecimento global que não irá além de 1,5 graus Celsius em relação à era pré-industrial.

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