Surto de ébola na África ocidental custou mais de 46 mil milhões de euros

Estudo na revista Journal of Infectious Diseases combinou as perdas directas na economia e o impacto social indirecto para saber qual o custo do pior surto de ébola de sempre.

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Vítima do ébola a ser enterrada na Serra Leoa em 2014 Baz Ratner/Reuters

Estima-se que um surto de ébola que devastou a Serra Leoa, a Guiné-Conacri e a Libéria em 2014 custou cerca de 53 mil milhões de dólares (46,6 mil milhões de euros), de acordo com um estudo da revista médica Journal of Infectious Diseases publicado este mês.

O estudo fez a combinação entre os encargos directos na economia e o impacto social indirecto para saber qual o custo geral do surto, que foi o pior no mundo até agora.

Este surto decorreu entre 2013 e 2016 e matou, pelo menos, 11.300 pessoas, mais do que todos os outros surtos de ébola combinados. A grande maioria dos casos ocorreu na Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa.

Os autores do estudo – Caroline Huber, Lyn Finelli e Warren Stevens, dos Estados Unidos – calculam que os custos económicos foram de 14 mil milhões de dólares (12,3 mil milhões de euros) e referem que os custos humanos ainda foram maiores. Esta análise baseou-se nas pessoas afectadas e no valor monetário atribuído a cada vida humana.

O valor total agora anunciado é muito mais elevado do que as estimativas anteriores. Em Outubro de 2014, o Banco Mundial anunciou que, no pior dos cenários, a epidemia do ébola poderia vir a custar 32,6 mil milhões de dólares (28,6 mil milhões de euros) no final de 2015. Mas, em Novembro de 2014, reduziu essa previsão para três a quatro mil milhões de dólares (2,6 a 3,5 mil milões de euros). Em 2016, o Banco Mundial estimou que as perdas económicas foram de 2,8 mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros).

Em 2003, estima-se que a síndrome aguda respiratória grave (SARS) tenha custado 40 mil milhões de dólares (35 mil milhões de euros), enquanto entre 2015 e 2016 o surto do vírus do Zika nas Américas terá tido um custo social estimado de 20 mil milhões de dólares (17,5 mil milhões de euros), refere o novo estudo. Uma repetição da gripe espanhola de 1918 poderia custar cerca de 700 mil vidas anuais e 490 mil milhões de dólares (430 mil milhões de dólares), frisam os autores, citando uma investigação publicada em 2016.

O novo estudo sobre o ébola tem em conta o impacto nos funcionários de saúde, as condições a longo prazo sentidas pelos 17 mil sobreviventes do ébola, os custos dos tratamentos, o controlo das infecções ou o rastreio.

Os maiores custos não contabilizados anteriormente foram as mortes causadas por outras doenças em que o surto do ébola acabou por ter impacto, uma vez que os parcos recursos na área da saúde tiveram de canalizados para combater a epidemia. Por isso, adicionaram-se 18,8 mil milhões de dólares (16,5 mil milhões de dólares) à conta total.

Durante o surto houve 10.623 de mortes por VIH-sida, tuberculose e malária. Além disso, houve 3,5 milhões de casos de malária não tratados. O sarampo causou entre dois mil e 16 mil mortes adicionais, havendo um milhão de crianças que não foram vacinadas contra este vírus. Também entre 600 mil e 700 mil crianças não tiveram acesso a outras vacinas.

Contudo, os autores acrescentam que tiveram informação limitada do custo das equipas internacionais de saúde que actuaram neste surto, assim como dos funcionários militares.

E adiantam que tiveram de colocar um valor na vida humana, uma medição económica amplamente aceite. Embora o valor estatístico de uma vida (VSL) na América do Norte e na Europa esteja estimado entre sete milhões e nove milhões de dólares (6,2 milhões a 7,9 milhões de euros), os autores referem que tiveram em conta que o contexto do estudo era apenas a África ocidental. Como tal, o VSL na Serra Leoa foi calculado em 577 mil dólares (cerca de 507 mil euros).

Actualmente há um surto de ébola no Nordeste da República Democrática do Congo. Até esta terça-feira, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde, contabilizaram-se 247 casos (212 confirmados e 35 prováveis) e 159 mortes (124 confirmadas e 35 prováveis).

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