Cheques compensam face ao custo de muitas transferências bancárias

O custo da movimentação do dinheiro não pára de aumentar. Transferências aos balcões atingem valores proibitivos. Nas caixas de multibanco são gratuitas, mas o montante diário está limitado.

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Paulo Pimenta

O uso de cheques não é cómodo e o seu custo aumentou nos últimos anos, o que levou muitos particulares a abandonar este meio de pagamento. Levantar dinheiro vivo para fazer pagamentos também não é prático, pode ter custos e ainda tem riscos elevados. E foi essencialmente a comodidade que fez disparar as transferências de dinheiro através dos balcões, por telefone, pelo multibanco e agora pela Internet.

Mas as novas formas de movimentar o dinheiro estão cada vez mais caras, como mostra um levantamento feito pelo portal ComparaJá, a partir dos precários dos cinco maiores bancos a operar no mercado nacional (BPI, BCP, Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco e Santander). Os custos de transferências realizadas através das agências bancárias atingem valores elevados, mas também nas operações online a cobrança de comissões está a generalizar-se e, para valores mais elevados, acima de 50 e 100 mil euros, o custo pode chegar às duas ou três dezenas de euros.

Sem querer fazer campanha pelo regresso em força dos cheques, que até já deixaram de ser aceites em algumas entidades comerciais, o PÚBLICO fez um pequeno levantamento do custo do “velho” meio de pagamento e é curioso verificar que o seu uso compensa face a outras operações, onde os custos têm disparado. A poupança pode ser de vários euros ou mesmos de algumas dezenas, nas transferências de montante mais elevado.

O uso de cheques tem vindo a cair nos últimos anos, mas ainda representaram 13,1% dos montantes processados no sistema de pagamentos nacional (SICOI) em 2017, no montante de 55 mil milhões de euros. Face a 2016, verifica-se uma queda de 11,6% em número de cheques movimentados e de 5,8% em valor. Mas ainda são um meio de pagamento utilizado por empresas e particulares para valores acima de 100 mil euros (representaram 49% do valor total em 2017).

Em número de operações bancárias, o campeão é a rede Multibanco, com 86% (2185 milhões no último ano), seguido dos débitos directos (7,1%), Os instrumentos em papel representaram apenas 1,3%.

As operações realizadas através das caixas automáticas, vulgarmente conhecidas pela designação multibanco, sejam levantamentos, outros pagamentos ou transferências com IBAN (número internacional de identificação de conta) são gratuitas.

No caso das transferências, os montantes estão limitados, entre os 2500 e os cinco mil euros diários, na maioria dos bancos. Isto apesar de, em termos técnicos, ser possível transferir quantias até cinco dígitos, o que na prática significaria até 99.999 euros.

Por este meio, é possível fazer transferências pontuais, mas não é possível dar ordens permanentes, o que é uma desvantagem face a outros meios quando se trata de transferências com limite de data, como pensões ou pagamentos de créditos ou rendas.

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Onde se paga mais?

A cobrança de comissões passou a representar uma grande fonte de receitas dos bancos. No ano passado, renderam à Caixa Geral de Depósitos, ao Millennium BCP, ao BPI, ao Banco Santander, ao Novo Banco e ao Montepio 1876,8 milhões de euros, cerca de cinco milhões por dia. Nos primeiros seis meses do corrente ano, e segundo contas do Correio da Manhã, os valores cobrados por quatro desses bancos - CGD, Millennium BCP, BPI e Santander – já vai em 700 milhões de euros.

Actualmente, cada banco tem centenas de comissões, com uma série de asteriscos ou alíneas a remeter para informação específica, tornando muito difícil fazer a comparação entre os diferentes meios de pagamento, dentro de uma mesma instituições, e ainda muito mais quando se envolve vários bancos. Ainda assim, e no caso das transferências, é possível ver que os custos são elevados nas operações realizadas da conta de um banco para outro (interbancárias), quando realizadas a partir dos balcões, do telefone com operador, e da Internet, especialmente nas ordens permanentes e de montante mais elevado.

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Assim fazer uma transferência pontual, através do balcão, para outro banco, custa seis euros na CGD, sem limite de montante, e 5,30 euros no BCP, mas apenas para valores até 1000 euros, subindo gradualmente até sete euros para valores até 100 mil euros e 22,50 euros para valores superiores, ou 31,25 euros no caso de não ser fornecido o IBAN (número de internacional de identificação de conta) do destinatário. No balcão do Novo Banco, até 500 euros, o custo é de cinco euros, e até 100 mil euros vai subindo até 15 euros. O Santander e o BPI só têm dois intervalos de valor, até 100 mil euros e acima desse valor. No primeiro banco custa seis e 33,40 euros, e o segundo 4,5 euros e 15 euros. As ordens de transferência permanentes, a cobrar por cada uma, têm pequenas variações, salvo no caso do Santander, cujo valor de 4,50 euros é cobrado independentemente do valor. Os custos também não diferem muito se as operações foram feitas por telefone com operador, com o BPI a cobrar o valor mais baixo, 1,50 euros. No BCP e com operador, o custo é idêntico ao praticado ao balcão, sendo um pouco mais reduzido sem a intervenção de um operar (até 19,50).

Na Internet, nos cinco bancos, os valores variam entre 0,50 euros (na CGD, sem limite de montante) até 19,50 no BCP, para montantes acima de 100 mil euros. Este banco cobra um euro para valores até mil euros, valor que vai subindo em função do montante a transferir.

E os cheques custam ….

Sem pretender fazer um levantamento exaustivo do custo dos cheques, o PÚBLICO fez um levantamento do custo de um módulo mínimo de cheques em cada instituição, cruzados e à ordem. Assim, cada cheque custa entre CGD 2,30 euros (balcão e correio), valor que cai para 1,65 euros, na Internet, com envio pelo correio, compensando face a transferência para outros bancos ao balcão.

No BCP, o custo varia entre dois euros e 1,65 euros, um custo muito inferior aos das transferências interbancárias para valores superiores a 50 mil euros, realizadas aos balcões e no serviço telefónico, e ainda acima de 100 mil euros na Internet. No Novo Banco e BPI, o custo de um cheque varia entre 2,30 euros e cerca de 1,60 euros, e concorrem destacadamente à frente com as transferências e montantes mais elevados para outros bancos através dos balões, acima de 100 mil euros na Internet e por telefone. No Santander, o custo varia entre 1,95 e 1,6 euros, e compensa nas transferências para outros bancos, acima de 100 mil euros.

Movimentos entre contas do mesmo cliente já pagam

Começam a rarear as operações sem custos que cada cliente pode fazer dentro do seu banco e entre as suas próprias contas. Os cinco maiores bancos – a CGD, o BCP, o BPI, o Novo Banco e o Santander – não cobram comissões nos movimentos realizados através da Internet, quanto estão em causa contas do próprio banco, independentemente do cliente que dá a ordem ser ou não o mesmo que o beneficiário.

Mas fora do canal online, a situação já é distinta. Nas ordens dadas ao balcão e por telefone, o Novo Banco e o Millennium BCP já cobram comissões nos movimentos realizadas entre contas do próprio cliente. No caso do BCP, se um cliente se dirigir ao seu gestor de conta, ou utilizar o serviço telefónico com operador, e pedir uma transferência pontual entre contas de que é titular, paga 1,70 euros. Se a ordem de transferência for permanente, a realizar mensalmente, por exemplo, passa a pagar um euro. Para transferências entre contas da instituição, mas clientes distintos, o valor cobrado é o mesmo.

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O Novo Banco cobra 1,10 euros quando o cliente pretende realizar transferências permanentes entre contas próprias. Nas transferências pontuais, o valor sobe para 1,50 euros, mas apenas quando o cliente utiliza o serviço telefónico com operador.

À excepção do Santander, os restantes quatro bancos já cobram pelos movimentos entre contas da instituição, mas envolvendo clientes distintos, as chamadas transferências intrabancárias.

No âmbito da nova directiva dos pagamentos, chegarão brevemente ao mercado novos operadores, que através de aplicações tecnológicas para telemóveis, tablets ou computadores, vão passar a ter acesso directo aos dados bancários dos clientes e com a permissão destes, fazer pagamentos, a custos menores. A expectativa, como explicou ao PÚBLICO José Figueiredo, do portal comparajá.pt, é de que isso contribua para baixar as comissões bancárias em geral.

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