Em dia de greve, queremos ao nosso lado quem nos representa

Os professores manifestaram-se porque somos uma sociedade gerida por uma gestão criativa que cria e recria formas de precariedade naqueles que são o seu pilar, condenando-nos a todos a um futuro muito pouco sustentável como nação

António Cotrim/Lusa
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António Cotrim/Lusa
Mafalda G. Moutinho é fundadora e editora da Plataforma Bisturi Cidadania Ativa
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Mafalda G. Moutinho é fundadora e editora da Plataforma Bisturi Cidadania Ativa

Todos sabemos quais são os pilares do Estado Social, uma vez que são os mesmos que sustentam o fim de qualquer vida humana no mundo em que vivemos: a saúde e a educação. E a saúde e a educação têm actores que nos garantem estes pilares. Portanto, na educação, os actores mais importantes das nossas vidas são desde o professor primário aos professores que temos na universidade, se decidirmos progredir por essa via. Já na saúde, são os profissionais de saúde que garantem que teremos os devidos cuidados quando adoecermos.

No entanto, num país onde o rei da República é o futebol, a recente manifestação dos professores mal preencheu os meios de comunicação social. Muitos de nós, provavelmente, nem nos apercebemos que os professores fizeram uma grande manifestação recentemente e está prevista uma greve para 18 de Junho. Manifestaram-se porque somos uma sociedade gerida por uma gestão criativa que cria e recria formas de precariedade naqueles que são o seu pilar, condenando-nos a todos a um futuro muito pouco sustentável como nação.

Existiu uma imagem nesta manifestação dos professores que me preencheu os olhos: a imagem que traduz a cultura de uma esquerda com as suas raízes bem sindicalistas, ainda que por vezes possa vestir a pele do populismo. Ver nas imagens os líderes de dois dos partidos do nosso hemiciclo da República marcharem junto dos professores fez-me pensar que todos aqueles que nos representam independentemente de cores políticas deveriam estar ali, para ouvir as pessoas e garantir a todos que, de forma possível e permeável, fariam chegar à Assembleia que representa todos os cidadãos portugueses as queixas daquelas pessoas com vista a soluções razoáveis.

Entende-se que se diga que não se podem cobrir os pedidos dos professores, justificando-o ou apontando outras soluções. No entanto, não ajuda à resolução de toda esta situação o confronto entre os sindicatos e os nossos governantes. Só existe um caminho pragmático para este problema: um diálogo eficiente com todas as partes sentadas à mesa, entendendo que a palavra "exigências", no fundo e apesar do seu tom negativo, significa apenas o desespero por novas soluções por aqueles que vêem as suas vidas penduradas, incertas e a regredir ano após ano. Utilizo este exemplo dos professores, mas poderia utilizar como exemplo outra qualquer classe profissional. Merecemos que do nosso lado marche sempre quem nos representa!

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