Bannon dá o dito por não dito e diz que Trump Jr é afinal "patriota"

Livro citava duras críticas contra o Presidente e a família por parte do homem que foi o principal estratega de Trump. Após cinco dias de silêncio, Steve Bannon faz mea culpa.

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Reuters/Jonathan Bachman

Steve Bannon veio este domingo a público tentar corrigir as duras declarações contra Donald Trump, e a família deste, que lhe são atribuídas no livro Fire and Fury: Inside the Trump White House.

Cinco dias depois das primeiras revelações sobre o conteúdo desta obra, o antigo estratega do actual ocupante da Casa Branca emitiu um comunicado em que dá o (aparentemente) dito por não dito e manifesta o seu "arrependimento" por ter estado calado todo este tempo. Sobre as citações que lhe são atribuídas naquele livro, e que provocaram um vendaval político, Bannon garante agora que uma das críticas politicamente mais em foco – sobre a possível "traição" aos EUA por parte de Donald Trump Jr – não se dirigiam ao filho do Presidente mas sim ao ex-director de campanha, Paul Manafort.

"Donald Trump Jr é um patriota e um bom homem. Tem sido incansável a defender o pai e a agenda política que ajudou o nosso país a dar a volta", declara Bannon, num comunicado enviado à Axios e que parece um acto de contrição, depois de ter caído em desgraça junto da Administração Trump e do próprio Presidente, que reagiu com virulência às primeiras revelações, dizendo que o seu ex-colaborador "tinha enlouquecido".

Segundo Michael Wolff, autor do polémico livro que se tornou num sucesso de vendas quase instantaneamente, Bannon afirmou que Donald Trump Jr teria mantido diversos contactos "pouco patrióticos" com agentes russos, em 2016, facto que no limite poderia ser considerado "traição".

Porém, no comunicado deste domingo, Bannon esclarece: "Os meus comentários visavam Paul Manafort, um experiente profissional de campanhas, que sabe como é que os russos trabalham. E ele deveria saber que eles têm duas caras, são astuciosos e não são nossos amigos. Insisto. aqueles comentários não eram dirigidos a Don Jr."

Comentando de novo o livro – que suscitou reacções adversas mesmo fora do círculo republicano –, Donald Trump apelidou a obra, neste domingo, à saída de Camp David, como um "Fake Book" (qualquer coisa como "livro de falsidades" e na senda das fake news, ou notícias falsas, sempre na mira do Presidente dos EUA). E como sempre, Trump fê-lo via Twitter.

Diversos media norte-americanos dizem que, na sequência das revelações antecipadas das afirmações de Bannon, este caiu em desgraça, tanto no meio republicano como junto de alguns dos investidores que o têm acompanhado – e na imprensa duvida-se da seriedade de algumas alegações contidas no livro. Depois de ser despedido da Casa Branca, Bannon voltou a assumir a liderança do Breitbart News, um site da direita conservadora alt right, onde internamente se chegou mesmo a discutir se o ex-estratega de Trump deveria ser igualmente afastado, segundo noticia o diário Washinton Post

Trump terá ficado furioso com as muitas declarações divulgadas pelo livro, mas nenhuma o terá incomodado tanto quanto as que são atribuídas a Bannon. E não foi só Trump quem reagiu com intempestividade: como salienta o mesmo Washington Post, um dos apoios financeiros do chairman do Breitbart News, Rebekah Mercer, também decidiu vir a público, num raro acto em que decide rechaçar Bannon, prometendo cortar os laços com o homem que deixou a Casa Branca em Agosto, mas mantinha ainda contacto com o Presidente.

No comunicado enviado neste domingo à Axios, Bannon reitera o seu apoio a Trump e defende a linha política da actual administração norte-americana, reervando parágrafos para lembrar que defende o Presidente "nas páginas do Breitbart News, em intervenções públicas e discursos, desde Tóquio a Hong Kong, do Arizona ao Alabama". "O Presidente Trump era o único candidato que poderia derrotar o aparelho de Clinton. Sou a única pessoa a fazer um esforço global para pregar a palavra de Trump e o Trumpismo; e mantenho-me preparado para defender os esforços deste Presidente para fazer a América grande de novo."

Já sobre a questão dos contactos russos, declara Bannon, "tudo" o que "há a dizer" já foi dito pelo próprio, que salienta contudo a "natureza ridícula da investigação ao conluio com a Rússia". "Não houve conluio e a investigação é uma caça às bruxas."

A terminar, Bannon mostra-se arrependido por ter demorado a clarificar as coisas, desviando as atenções da Presidência. "Lamento que o atraso desta minha resposta às informações incorrectas sobre Dn Jr tenham desviado as atenções dos históricos resultados do Presidente durante o seu primeiro ano de mandato."

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