Maduro adia tomada de posse da Assembleia Constituinte para sexta-feira

Cerimónia devia realizar-se esta quinta-feira. Nova data surge no centro da polémica sobre a possibilidade de ter existido fraude eleitoral. Ministério Público irá investigar.

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Jorge Arreaza e Nicólas Maduro Reuters/HANDOUT

Nicólas Maduro adiou o empossamento da Assembleia Constituinte para sexta-feira. A cerimónia tinha data marcada para esta quinta-feira, depois de ter sido anunciado um prazo máximo de 72 horas, pelo vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, no poder), Diosdalo Cabello. A decisão surge quando aumentam as dúvidas sobre uma possível fraude eleitoral e de a procuradora-geral da República ter decidido abrir um inquérito ao resultado das eleições.

Luisa Ortega anunciou a decisão numa entrevista à CNN. “Informo-vos que designei dois magistrados para investigar os quatro directores do Conselho Nacional Eleitoral por este acto escandaloso”, afirmou esta quarta-feira. Estamos perante um facto inédito, grave e que constitui um delito”, acrescentou.

Esta quarta-feira, a Reuters revelou que os próprios dados da comissão eleitoral levantavam dúvidas sobre a participação eleitoral. Até às 17h30 de domingo tinham votado apenas 3,7 milhões de pessoas, o que implicaria uma afluência maciça durante os últimos 90 minutos da jornada eleitoral. No entanto, na segunda-feira, o Governo venezuelano tinha assegurado que a participação tinha ficado próxima dos 8,1 milhões: 8.089.320 votos, o que corresponde a 41,5% dos eleitores.

Desde logo a oposição questionou a veracidade dos números apresentados. Do lado dos opositores de Maduro, a estimativa aponta para que não tenham votado mais de 2,5 milhões de eleitores.

Já depois dos números da Reuters, mais dúvidas: o CEO da Smartmatic, empresa de contagem de votos electrónicos que trabalha com a Venezuela desde 2004, disse numa conferência de imprensa em Londres que a votação foi manipulada em cerca de um milhão de votos. O Conselho Nacional Eleitoral recusa as acusações da empresa.

Jorge Arreaza, que é desde esta quarta-feira o novo ministro dos Negócios Estrangeiros, subiu ainda mais o número dado pelo Governo. “Acredito que foram mais de dez milhões que quiseram votar e mais de oito milhões a votar. Os outros tiveram que enfrentar as balas e barricadas”, cita o El Mundo.

O que muda com este órgão?

Depois das eleições, que ficaram marcadas por pelo menos uma dezena de mortes (a oposição contou mais) devido a confrontos entre opositores de Maduro e forças de autoridade, Maduro ordenou a detenção de dois líderes da oposição durante a madrugada e sem que fosse prestada informação sobre para onde estavam a ser levados. O Presidente da Venezuela anunciou ainda que tencionava levantar a imunidade parlamentar de vários deputados e reestruturar o Ministério Público, eliminando quem a ele se opusesse, “em nome da Justiça”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, declarou esta quarta-feira que Portugal, tal como os restantes países da União Europeia, não reconhece a Assembleia Constituinte da Venezuela.

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