Venezuela: novos dados lançam mais dúvidas sobre resultados das eleições

A uma hora e meia do encerramento das urnas, só tinham votado 3,7 milhões de eleitores, bem longe dos 8,1 milhões anunciados pelas autoridades como valor total da participação eleitoral.

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Reuters

De acordo com os números divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral, mais de oito milhões de venezuelanos (41,5% dos eleitores) votaram na eleição dos 545 membros da Assembleia Constituinte no último domingo. No entanto, novos dados divulgados pela Reuters lançam mais dúvidas sobre os números oficiais, que já eram contestados pela oposição. Números internos da comissão eleitoral obtidos pela agência mostram que, às 17h30, apenas 3,7 milhões de pessoas tinham votado. As urnas encerraram às 19h, já depois de a votação ter sido prolongada por mais uma hora.

Contas feitas, teria sido preciso que nos últimos 90 minutos do acto eleitoral tivessem votado mais de cinco milhões de venezuelanos, quando, ao longo do dia, terão votado menos de quatro milhões.

"Ainda que seja possível ter havido uma afluência forte no final dia, e o Partido Socialista tentou fazê-lo no passado, duplicar a votação na última hora e meia seria algo sem precedentes", afirma Jennifer McCoy, analista política do Carter Center de Atlanta e que liderou várias missões de observação eleitoral na Venezuela.

Os números foram vincados e repetidos pelo Presidente venezuelano. "Temos Assembleia Constituinte (...) oito milhões (de votos) no meio de ameaças (...) foi a maior votação que teve a revolução bolivariana em 18 anos. O povo deu uma lição de coragem, de valentia. O que vimos foi admirável", afiirmou Maduro, perante centenas de apoiantes que se concentraram na Praça Bolívar, em Caracas.

A ida às urnas ficou marcada por pelo menos dez mortes provocadas pelo confronto entre opositores do regime e forças de autoridade, de acordo com os números do Ministério Público. Desde a escalada de tensões no país, mais intensas desde Abril, já morreram para cima de uma centena de pessoas em confrontos.

“Pela primeira vez desde que aceitei o compromisso com este país, não posso garantir a consistência ou veracidade dos resultados apresentados”, declarou Luis Randon, um dos cinco directores da comissão eleitoral.

Céptica está também Luisa Ortega Diaz, procuradora-geral da Venezuela, que não reconhece a Assembleia Constituinte. “Tenho a certeza absoluta de que estes números não estão correctos”, cita a Reuters. “O que eles anunciaram é a fazer pouco dos venezuelanos”, vinca.

Os números da oposição também são muito diferentes. A estimativa dos líderes da oposição reduz o número de eleitores para 2,5 milhões de pessoas, acusando o Governo de fraude eleitoral.

Em meados de Julho, mais de sete milhões de venezuelanos desafiaram o Presidente, Nicolas Maduro, num referendo convocado pela Assembleia Nacional, dominada pela oposição, e a quase totalidade dos participantes (98%) rejeitou a proposta do chefe de Estado para a convocação de uma Assembleia Constituinte.

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