Factura do "Brexit" para o Reino Unido pode chegar ao 100 mil milhões

Jean-Claude Juncker chegou a calcular a factura do Reino Unido nos 60 mil milhões de euros. Mas o Financial Times fez as contas e conclui que o montante pode ser quase o dobro.

Foto
LUSA/ANDY RAIN

A factura do “Brexit” para o Reino Unido pode envolver um montante quase duas vezes superior aos 60 mil milhões de euros inicialmente sugeridos pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Segundo um análise do Financial Times (FT), o montante bruto a ser pago em adiantado pelo Reino Unido pode ascender aos 100 mil milhões de euros. Entre os factores que podem provocar este aumento estão os pedidos directos de alguns Estados-membros que os negociadores da União Europeia pretendem respeitar e que se centram na maximização das responsabilidades do Reino Unido, incluindo pagamentos agrícolas a serem realizados no pós-“Brexit” e taxas relativas à própria administração da União Europeia em 2019 e 2020.

Embora seja expectável que a factura líquida destinada ao Reino Unido para as próximas décadas seja inferior ao valor agora calculado, este aumento pode explicar-se face à abordagem cada vez mais dura quanto às negociações sobre o “Brexit”. Por exemplo, diz o FT, a França e a Polónia fizeram pressão para que se incluam os pagamentos agrícolas anuais já depois de consumado o “Brexit”, enquanto a Alemanha se posicionou contra a cedência ao Reino Unido de activos da União Europeia, tais como edifícios. Porém, estes cálculos são variáveis e não totalmente rigorosos, pois baseiam-se, entre outras coisas, em suposições como a data da real saída do Reino Unido da União Europeia ou as contribuições financeiras britânicas consideradas adequadas.  

Outro tipo de pagamentos que podem ser exigidos a Londres poderá também ser partes dos montantes destinados aos empréstimos a países como Portugal ou a Ucrânia, a serem realizados também em adiantado. O Reino Unido será depois reembolsado à medida que os respectivos países forem pagando as suas dívidas.

Assim, de acordo com as contas feitas pelo FT, tudo isto poderá ascender a pagamentos em bruto entre os 91 e os 113 mil milhões de euros. Passado uma década, ou mais, a factura pode reduzir-se para entre 55 mil e 75 mil milhões, depois de reembolsados os montantes emprestados.

Por sua vez, o think tank Bruegel também fez estas contas e chegou a números semelhantes. Em relação à factura bruta, os valores situam-se entre os 82 e os 109 mil milhões de euros que se converterão, a longo prazo, entre os 42 mil e os 65 mil milhões de euros.

Na quarta-feira, 26 de Abril, a primeira-ministra britânica, Theresa May, e Jean-Claude Juncker encontraram-se em Londres e discutiram as linhas orientadoras das negociações sobre o “Brexit", que foram aprovadas no sábado. Como correu? O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) — numa notícia publicada nesta segunda-feira – fala de um “desastroso jantar do 'Brexit'”. No final, Juncker disse que saía “dez vezes mais céptico do que estava antes”.

Já esta terça-feira, May prometeu que irá ser uma "bloody difficult woman" (“uma mulher difícil como o raio”, numa tradução livre) nas conversações sobre o "Brexit". E estas contas parecem já ser um obstáculo ao entendimento entre ambas as partes na mesa das negociações.

Sugerir correcção
Ler 36 comentários