Incumprimento bancário das exportadoras agravou-se em 2015

Num ano, a percentagem dos empréstimos em incumprimento das empresas voltadas para as exportações quase duplicou, passando para 5,5%.

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Em Dezembro, 8,4% das exportadoras estavam com empréstimos em incumprimento Nelson Garrido

As situações de incumprimento bancário das empresas exportadoras agravaram-se ao longo de 2015, ressentindo-se da exposição da crise em algumas economias importantes para o comércio internacional do país. Num ano, o rácio do crédito vencido quase duplicou, mostram as estatísticas publicadas nesta terça-feira pelo Banco de Portugal.

De 17.479 milhões de euros de empréstimos concedidos às empresas voltadas para as exportações, 5,5% eram crédito vencido em Dezembro (3366 milhões de euros), quando um ano antes o montante correspondente às situações de incumprimento representava menos de 3% do total.

Esta percentagem mantém-se há cinco meses consecutivos acima dos 5% (de Agosto a Dezembro). No início de 2015, o rácio do crédito vencido face aos empréstimos concedidos pelo sector financeiro às exportadoras tinha estabilizado nos 2,8%, mas nos meses seguintes foi-se aproximando progressivamente dos 4% e, em Agosto, já estava acima dos 5%.

Em Novembro, atingiu um pico de 5,6%, o valor mais alto desde o início da série estatística do banco central (2009), mantendo-se em Dezembro muito próximo – uma décima abaixo – deste valor.

A percentagem do crédito vencido, enquadra o Banco de Portugal, “agravou-se no decurso de 2015, embora seja cerca de três vezes inferior” ao do total das empresas (sector não financeiro), que está nos 15,8%.

Neste caso, houve um aumento “de 0,8 pontos percentuais relativamente a Dezembro de 2014 e uma redução de 0,8 pontos percentuais face a Agosto de 2015, mês em que se verificou o valor mais elevado” de que há registo nos dados da instituição liderada por Carlos Costa.

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O aumento das situações de incumprimento acontece numa altura em que alguns mercados importantes para as exportações portuguesas enfrentam dificuldades, como Angola (para onde as vendas de bens caíram mais de 30% entre Janeiro e Novembro de 2015) ou o Brasil (para onde as exportações de produtos portugueses também estão a cair, tendo diminuído 9,6% em relação aos 11 meses de 2014).

Os empréstimos bancários são uma das principais fontes de financiamento das exportadoras, que têm vindo agora a enfrentar uma maior dificuldade em pagá-los dentro dos prazos.

No final do ano passado, 8,4% das empresas estavam em incumprimento, menos do que os 8,9% de Novembro, mas a mesma proporção registada em Setembro e Outubro.

Os dados do Banco de Portugal mostram ainda que, em Dezembro, os empréstimos a todo o universo das empresas (sector não financeiro) diminuíram em termos anuais 1,9%, o mesmo acontecendo com a evolução do crédito às Pequenas e Médias Empresas. Nas PME, o rácio do crédito vencido é de 18,1%, superior ao universo das empresas, enquanto nas grandes empresas os empréstimos em incumprimento representam 3,7% do crédito concedido.

Quanto às famílias, os dados do banco central apontam para uma diminuição muito ligeira do crédito vencido, que representava em Dezembro 5,1% dos 127.523 milhões de euros de empréstimos concedidos. Apesar de ter recuado face a Novembro (5,2%), o malparado está acima do valor registado um ano antes, de 4,9%. Na habitação, os empréstimos em incumprimento representam 3%, enquanto no segmento do consumo e outros fins (onde se contabilizam também as actividades empresariais em nome individual) está em 14,1%.

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