Quatro dias no ano e os emergentes já estão a assustar a economia mundial

Novos sinais de travagem na economia chinesa trouxeram nervosismo de volta às bolsas um pouco por todo o Mundo. Os riscos continuam elevados nos mercados emergentes.

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AFP

O ano de 2016 já vinha sendo apontado como aquele em que a economia mundial e os mercados financeiros internacionais terão de enfrentar diversas ameaças, mas poucos adivinhariam que os riscos se tornariam assim tão evidentes no primeiro dia útil do ano.

Logo ao amanhecer desta segunda-feira na Ásia, a economia chinesa espirrou e o resto do mundo, poucas horas depois, ficou constipado. Num ambiente em que poucos ainda se esqueceram da instabilidade financeira vivida em Agosto na China, aquilo que agora trouxe de volta o nervosismo foram os dados da produção industrial divulgados na segunda maior economia mundial. A China voltou a dar sinais claros de abrandamento, com a quinta quebra consecutiva deste indicador, e a consequência mais imediata foi uma queda de 6,9% na bolsa de Xangai e de 8,2% no índice de Shenzhen.

O resultado não terá sido ainda pior porque, usando legislação que entrou em vigor precisamente esta segunda-feira, a transacção de acções nos mercados chineses foi congelada uma hora antes do fecho.

Antes da decisão de antecipação do fecho, foi accionada a suspensão das negociações por 15 minutos, o que passou a poder ser feita sempre que há variações do índice superiores a 5% (ganhos ou perdas), mas a medida não conseguiu travar a pressão vendedora de acções e gerou maior pânico entre os investidores.

Torna-se cada vez mais evidente que, entre os investidores, são poucos os que acreditam que as autoridades tenham a situação totalmente sob controlo. Aliás, outros dos motivos por trás dos acontecimentos desta segunda-feira é a expectativa de que não se possa adiar por muito mais tempo um inevitável regresso à cotação dos títulos que, perante o colapso verificado em Agosto, têm tido a sua negociação limitada.

A queda abrupta na bolsa chinesa teve um efeito bastante significativo tanto nos outros países dos mercados emergentes como nas maiores potências económicas mundiais. Tanto uns como outros temem aquilo que pode acontecer se um cenário de uma travagem brusca da economia chinesa vier a concretizar-se.

Na Europa as quedas nas bolsas variaram entre 2% e 4%. a bolsa alemã encerrou com a maior queda, de 4,28%. O CAC de Paris perdeu 2,47% e o FTSE de Londres e o IBEX de Madrid deslizaram mais de 2% ao longo da sessão. A praça de Lisboa registou das menores quedas, ao recuar 1,54%%, influenciada pela valorização de 6,32% do BPI.

Os mercados norte-americanos também iniciaram a primeira sessão do ano em queda, com o Nasdaq, o S&P e o Dow Jones  a perder mais de 2%. No Japão, a primeira sessão do ano foi de queda, com a desvalorização de mais de 3% do índice bolsista Nikkei.

Tanto os EUA, como a Europa e o Japão, têm agora laços económicos e financeiros muito importantes com a China, que os levam a temer que um fracasso de Pequim em garantir uma aterragem suave da sua economia irá acabar por repercutir-se nos seus próprios países, seja pela quebra das transacções comerciais seja pela alteração abrupta dos fluxos financeiros internacionais.

Para além disso, as dificuldades sentidas pela China não são mais do que um exemplo daquilo que se passa na generalidade das economias emergentes do Globo. Vários países deparam-se com uma situação em que não conseguem garantir em simultâneo a estabilidade das suas divisas e a manutenção de um ritmo de crescimento económico elevado. Com as taxas do juro a subir nos EUA, as divisas ficaram ainda mais colocadas sob pressão e os bancos centrais das economias emergentes vêem-se forçados a subir as suas próprias taxas para evitar uma fuga de capitais, a depreciação da moeda e a escalada da inflação. Em contrapartida a actividade económica sofre.

No Brasil, onde se assistiu esta segunda- feira a uma descida dos índices bolsistas e a uma nova depreciação do real face ao dólar e ao euro, o cenário é particularmente sombrio. O inquérito habitualmente feito pelo banco central a um grupo de cem economistas revela que, em média, estes estão a prever uma contracção da economia brasileira de 2,95% este ano, o que, a confirmar-se, significaria o pior resultado desde pelo menos 1901. Esta foi a 13ª semana seguida em que os economistas ficaram mais pessimistas em relação à evolução da economia no Brasil.

Os avisos em relação aos perigos que a economia mundial e em particular os mercados emergentes enfrentam em 2016 têm sido vários. Esta segunda-feira, em declarações reproduzidas no site do Fundo Monetário Internacional, o economista chefe da instituição foi o último a deixar o seu alerta: “O ano vai oferecer-nos uma abundância de desafios. E os mercados emergentes vão estar no centro do palco”.

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