A aritmética segundo o PCP: 107 não podem impor a sua vontade a 122

Líder da bancada comunista fez questão de vincar, seguindo o discurso de Jerónimo, que “este não é o programa do PCP”, mas “incorpora matérias” para "responder aos problemas mais urgentes".

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Rui Gaudêncio

Nunca o plenário tinha visto tanta aritmética nos últimos quatro anos. O debate do programa de Governo tem sido pródigo em trocadilhos sobre os números 107 e 122. O líder da bancada comunista também fez contas e lembrou que os 107 deputados dos partidos da direita “não podem impor a sua vontade aos outros 122 como se isso correspondesse a alguma regra da democracia”.

João Oliveira, que brincou com o facto de ter de falar no lugar de Paulo Portas porque este ainda não chegara - “às faltas do CDS, há sempre uma resposta comunista” -, fez questão de dizer algumas vezes que o programa do PS em debate “não é o programa do PCP”, seguindo a linha do discurso de Jerónimo de Sousa na interpelação de ontem ao primeiro-ministro. Mas lá foi acrescentando que o documento “incorpora matérias que resultam da discussão e da convergência que foi possível identificar para responder aos problemas mais urgentes” da pobreza com a recuperação de rendimentos e direitos, e da falta de emprego, assim como medidas positivas na saúde e educação, por exemplo.

Afirmando que o PSD e o CDS se têm “entretido a descobrir o que nunca foi escondido” - as diferenças e divergências entre PS e PCP “que não são de hoje e nunca foram escondidas” -, o líder da bancada comunista defendeu que não sendo este o programa do PCP, o partido cá estará para “contribuir para que a mudança de políticas e de situação” seja real.

E onde se vai buscar dinheiro para se poder devolver rendimentos e direitos como prometeu a esquerda? “Na recuperação do país e do emprego”, disse João Oliveira.

Depois de criticar o falhanço, pelo Governo PSD/CDS, dos vários objectivos financeiros e económico, João Oliveira atacou o que chamou de “ladainha da falsa vitória” da direita nas eleições. “Srs deputados do PSD e do CDS: no dia 10 de Novembro tiveram já oportunidade de confirmar que o que obtiveram nas últimas eleições foi uma pesada derrota eleitoral. É uma questão de aritmética: 107 são menos que 122.”

Este foi apenas o mote para outras comparações matemáticas e políticas que se seguiram. “Antes, os dois, PSD e CDS podiam mais que todos os outros nesta Assembleia da República; agora os dois podem mais que um mas não podem mais que quatro”, disse João Oliveira antes de recordar que PSD e CDS foram os únicos partidos da AR que perderam votos, percentagem de votação e mandatos. “Se PSD e CDS foram os únicos a perder, não podem continuar a dizer que ganharam as eleições. E, sobretudo, não podem querer impor a vontade de 107 a outros 122 como se isso correspondesse a alguma regra da democracia.”

“Insistirem na tese da ilegitimidade de qualquer solução governativa que não passe por um Governo PSD/CDS é insistirem no desrespeito pela vontade popular”, disse ainda João Oliveira, aconselhando a direita a “conformar-se” com a decisão dos eleitores.

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