PS e PSD divididos entre apoiar Rui Moreira ou ter um candidato próprio em 2017

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Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto Nelson Garrido

A inesperada viragem à esquerda do PS de António Costa está a deixar alguns autarcas assustados. No Norte e no Centro do país há presidentes com medo de perder as câmaras no combate eleitoral de 2017, porque o PS deixou de ser um partido seguro e confiável. Há dois anos nas autárquicas, com António José Seguro na liderança do partido, o PS tornou-se o maior partido autárquico (conquistando 150 presidências de câmara), destronando o PSD que obteve 106.

Rui Moreira, que se candidatou pelo Movimento o Porto é o Nosso Partido, foi a surpresa da noite eleitoral. Pela primeira vez no Porto um independente conquistava de forma surpreendente a câmara municipal, que durante doze anos fora governada pela coligação de direita PSD/CDS. Era o corte com as lógicas aparelhísticas dos dois principais partidos O leque de personalidades que desde a primeira hora o apoiou indiciava que esta era uma candidatura diferente. Históricos do PSD romperam com o partido, que apoiava Luís Filipe Menezes, e o CDS deu uma machadada na coligação, manifestando-lhe desde logo o seu apoio.

Sem maioria absoluta, faz um acordo com o PS para garantir a governabilidade da câmara e até agora o balanço da coligação é positivo e há no PS quem queira renovar o entendimento com Rui Moreira em 2017. No entanto, os estilhaços da tempestade política que varre por estes dias a direcção de Costa podem vir a fragilizar a posição dos socialistas na câmara, comprometendo um futuro entendimento político.

No PSD a questão não parece mais pacífica. Há uma corrente favorável a que o partido apresente um candidato e há já nomes na calha. António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, e João Rafael Koehler, presidente da ANJE - Associação Nacional dos Jovens Empresários, são as personalidades mais faladas para encabeçar uma candidatura. Mas no PSD há quem tenha opinião contrária que defende que o partido deveria apoiar Rui Moreira em 2017. A concelhia, o órgão com competência estatutária para escolher o candidato, vai a votos este mês e Miguel Seabra, que se recandidata a um novo mandato, discorda desta tese e está empenhado em encontrar um candidato forte para disputar as eleições com Rui Moreira, que continua a gozar de uma grande popularidade na cidade.

A nível do executivo, os ventos são também favoráveis ao presidente, que há dias viu o orçamento da câmara para 2016 ser aprovado com 11 votos a favor, um contra da CDU e uma abstenção de um dos três vereadores eleitos na lista do PSD, Ricardo Almeida. Já Amorim Pereira e o independente Ricardo Valente votaram, pela primeira vez, favoravelmente o orçamento. Todos apoiaram Luís Filipe Menezes à Câmara do Porto em 2013, tendo integrado a sua lista.

A votação do orçamento espelha a divisão que existe no PSD na câmara. Há um PSD que quer capturar Rui Moreira e há um outro que não. E a concelhia não quer. Muita água vai correr debaixo da ponte até às autárquicas de 2017, mas Rui Moreira não tem que se preocupar com quem é que o vai apoiar desde que não desaponte a cidade, conforme ele próprio prometeu: se o PS se o PSD, porque, como dizia fonte do executivo, “o principal activo eleitoral é ele próprio”.

Francisco Assis, que já foi candidato à Câmara do Porto contra Rui Rio, não tem uma posição definida sobre se o PS deve ou não apoiar Rui Moreira, mas deixa claro que esse tem de ser “um debate sério que se tem de travar no partido”. “Estamos a meio do mandato e a nossa situação é muito complexa e por isso acho que é um assunto que merece uma reflexão muito profunda. É altura para começarmos a reflectir profundamente sobre isso”, defende o eurodeputado.

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