Cinco prisões por tráfico de pessoas após naufrágio que fez 200 mortes

Detidos foram identificados pelos sobreviventes da tragédia de quarta-feira no Mediterrâneo com embarcação sobrelatada

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Sobreviventes do naufrágio de quarta-feira à chegada a Palermo Guglielmo Mangiapane/reuters

A polícia italiana anunciou esta sexta-feira ter detido em Palermo cinco dos sobreviventes do naufrágio que fez mais de 200 mortos na quarta-feira. Dois argelinos, dois líbios e um tunisino, com idades entre os 21 e os 24 anos, são suspeitos de serem traficantes de migrantes ilegais.

Segundo testemunhos recolhidos juntos dos cerca de 360 sobreviventes que chegaram na quinta-feira a Palermo (Sicília), um era o piloto do barco que se virou, outros dois eram seus ajudantes, e os restantes estavam encarregues de controlar os movimentos dos passageiros. Estes dois terão usado facas e bastões durante a viagem para impedir os passageiros do porão, essencialmente de origem africana, de subirem para o convés.

Os cinco homens terão embarcado cerca de 650 pessoas que pagaram cada uma entre 1200 e 1800 dólares (1100 a 1650 euros) para irem para a Europa. Por um colete de salvação era preciso pagar um suplemento de 35 a 70 dinares líbios (23 a 46 euros).

Segundo os testemunhos recolhidos pelas autoridades italianas que conduziram à detenção dos cinco homens, os passageiros que viajavam no convés do barco receberam a garantia de que “os africanos ficariam os três dias de viagem no porão, uma vez que tinham pago metade do preço dos outros pela travessia”, refere um comunicado da polícia de Palermo.

Os mesmos testemunhos dão conta de diferenças de tratamento em função da origem dos migrantes: os “africanos” que não obedecessem às ordens eram “marcados com uma faca ao nível da cabeça”, enquanto os “árabes” eram açoitados com cintos.

A situação no porão do barco começou a deteriorar-se apenas três horas depois da partida, com a água a entrar de tal maneira que o motor se afogou rapidamente. Nessa altura, referem testemunhos recolhidos pela Organização Internacional das Migrações, “os traficantes ligaram para alguém na Líbia a perguntar se podiam fazer marcha-atrás, mas receberam ordem para continuar em direcção a Itália”.

Foi já com o barco à deriva que, algumas horas mais tarde, chegou a ajuda de um navio da Marinha irlandesa, que lançou duas barcaças ao mar para recolher os migrantes. Mas no barco acidentado, um movimento descontrolado das centenas de pessoas fez com que este se virasse e provocasse a tragédia que se seguiu.

Os cinco homens agora presos arriscam-se a ser acusados pelos crimes de homicídio agravado e ajuda à imigração ilegal.

 

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