Naufrágio de centenas de pessoas no Mediterrâneo mata pelo menos 25 migrantes

Sobreviventes dizem que barco de pesca transportava à volta de 600 pessoas, mas só 390 foram resgatadas até agora. Embarcação afundou por completo.

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Migrante que foi resgatado na segunda feira de um outro barco à deriva no Mediterrâneo Antonio Parrinello/reuters

Pelo menos 25 pessoas morreram nesta quarta-feira no naufrágio de um barco de pesca que tentava atravessar o Mediterrâneo vindo da Líbia com centenas de migrantes a bordo. A embarcação voltou-se ao largo de Catânia, na Sicília, ante a aproximação de um navio de resgate. Ao início da noite em Portugal, os responsáveis pelas operações de resgate diziam ter resgatado 390 pessoas com vida, entre elas 13 crianças.

É possível que haja mais vítimas. De acordo com a AFP, vários sobreviventes deram conta que estariam à volta de 600 migrantes a bordo do barco naufragado. É um valor que ultrapassa o número de resgatados, mas que é também incerto, já que se baseia nos relatos de testemunhas. A agência francesa citava ao final da tarde o porta-voz da Guarda Costeira italiana garantindo que as operações de busca continuariam pela noite dentro.

É uma história que se repete. O barco de pesca tinha-se afastado apenas 15 milhas da costa da Líbia quando lançou um pedido de ajuda à guarda-costeira da Catânia, na Sicília, que transmitiu a informação à central de Roma, de onde se coordenam as operações de socorro nas águas do Sul da Itália. A embarcação ia de tal maneira sobrelotada que, face à aproximação de duas lanchas do primeiro navio de resgate, o Lé Niamh, da Marinha irlandesa, o barco tombou com a agitação a bordo.

“Voltou-se muito rapidamente”, disse à BBC Melissa Fleming, da agência de protecção de refugiados das Nações Unidas. Na altura do acidente, viajavam apenas cerca de cem pessoas no casco do navio de metal, que se afundou por completo num curto espaço de tempo. No auge das operações de salvamento contavam-se sete navios e três helicópteros no local, de acordo com a emissora britânica.

Um deles pertence aos Médicos Sem Fronteiras, o Dignity 1, o segundo navio a chegar à embarcação naufragada nesta quarta-feira. A organização humanitária recebeu a bordo uma família de quatro palestinianos. Azeel, a mais nova, com um ano de idade, foi recolhida em estado de choque pelo seu pai. A tripulação do navio de socorro publicou no Twitter uma imagem do local do acidente, onde já não se avistava o barco submergido, apenas os helicópteros sobre as águas calmas. “Nunca saberemos quantas pessoas foram devoradas pelo Mediterrâneo esta tarde”, escreveu a organização.

Ano mortal
As 25 vítimas confirmadas no acidente desta quarta-feira somam-se agora às mais de 2000 pessoas que morreram neste ano na travessia do Mediterrâneo, a rota de migração mais mortífera do mundo. Esta marca foi atingida no fim-de-semana com a morte à sede de cinco pessoas. Já mais de 200 mil pessoas chegaram às costas europeias em 2015.

A operação de vigilância e resgate no Mediterrâneo, a Tritão, tem recursos que se comparam à antiga operação italiana, Mare Nostrum, que terminou em 2014 por decisão do Governo italiano, que quis cortar nos nove milhões de euros de despesa mensal. Até ao grande naufrágio de Maio, em que morreram cerca de 800 migrantes, a Tritão era apenas uma missão de vigilância.

Apesar do reforço da Tritão, 2015 continua a ser mais mortífero para os migrantes do que o ano anterior. Na primeira semana de Agosto de 2014 contavam-se pouco mais de 1600 mortos no Mediterrâneo, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (IOM, na sigla inglesa).

“É inaceitável que, no século XXI, pessoas que fogem de conflitos, perseguição, miséria e degradação da terra tenham que atravessar experiências tão terríveis e morram às portas da Europa”, escreveu no fim-de-semana o director-geral da IOM, William Lacy Swing.

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