Procuram-se 200 migrantes que podem estar submersos no Mediterrâneo

Num só dia foram resgatadas mais de 1100 pessoas à deriva, mas nenhuma das que se temem presas num barco de pesca naufragado em Catânia.

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Sobreviventes dizem que estavam cerca de 600 pessoas a bordo no momento do naufrágio Darrin Zammit/Reuters

À entrada para a segunda noite de buscas no Mediterrâneo, continua sem haver sinal das dezenas de pessoas que se podem ter afogado na quarta-feira em Catânia, na Sicília, presas no interior de um barco de pesca vindo da Líbia.

O pequeno barco estava sobrelotado quando se virou face à aproximação de um navio irlandês, que vinha em seu resgate. Os sobreviventes dizem que viajavam cerca de 600 migrantes a bordo, mas, para além das 25 pessoas que morreram e das 370 resgatadas com vida, as buscas organizadas durante a noite de quarta e ao longo do dia desta quinta-feira não encontraram mais ninguém. Esta será a segunda noite de esforços. 

Há pouca esperança de se encontrarem sobreviventes. "Temo que o número de mortos chegue aos 200", disse ao Wall Street Journal Flavio Di Giacomo, da Organização Internacional para a Migração (IOM, na sigla em inglês).

Segundo as equipas de socorro – a operação chegou a envolver sete navios e três helicópteros –, o mais provável é que as dezenas de migrantes que estavam no exterior do barco se tenham voltado de uma vez para um dos seus lados, o que fez com que este se voltasse. Porque era feito de metal, o barco de pesca demorou menos de dois minutos a afundar-se por completo. A maior parte das pessoas viajava no interior.

“Foi uma visão horrível”, escreveu nesta quinta-feira Juan Matias, um dos tripulantes do barco Dignity 1, dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), o segundo navio a chegar ao local do desastre de quarta-feira. “As pessoas agarravam-se desesperadamente aos seus coletes salva-vidas, aos barcos, a tudo o que encontravam para lutar pela vida”, lê-se no comunicado assinado pelo coordenador da organização humanitária.

Foram resgatados mais de 1100 migrantes das águas italianas só nesta quinta-feira, vindos de quatro embarcações diferentes à deriva no Mediterrâneo. 

A imagem do naufrágio nas águas de Catânia esteve quase a repetir-se nesta quinta-feira. Um navio da MSF respondeu a um pedido de ajuda de um outro barco de pesca, também com cerca de 600 pessoas a bordo, que estava a ameaçar voltar-se a qualquer momento. Para além destes migrantes, recolhidos pelo Phoenix, foram resgatadas 381 pessoas durante a manhã, pela Guarda Costeira italiana, 101 por um navio da marinha, e outras 87, novamente por intervenção da MSF, que viajavam num barco de borracha à deriva.

“Estamos a testemunhar um genocídio causado pelo egoísmo europeu”, disse nesta quinta-feira à televisão italiana o presidente da Câmara de Palermo, Leoluca Orlando, à medida que chegavam à costa os sobreviventes e cadáveres do desastre ao largo de Catânia.

Morreram mais de 2000 pessoas, só em 2015, a tentarem chegar às costas europeias vindas de África e Médio Oriente. Este valor, calculado antes do novo desastre, aproxima-se já do total do ano passado: 3279 pessoas.

A crise da migração pelo Mediterrâneo agravou-se este ano sobretudo devido à grande quantidade de pessoas que fogem do conflito na Síria. A maioria dos que viajavam no barco de pesca naufragado em Catânia era, aliás, de nacionalidade síria, segundo a Reuters.

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