Empresas que fazem sondagens dizem não haver necessidade de mudar métodos

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As empresas não falam de preços, até porque eles variam muito Fernando Veludo/nFACTOS/arquivo

Os telefones fixos têm vindo a ser paulatinamente substituídos pelos telemóveis, a emigração aumentou, os fluxos internos de população também, a descrença no sistema político tem levado a um crescimento sucessivo da abstenção, há novos partidos a cada ano que passa. As dificuldades têm-se conjugado para quem faz das sondagens o seu negócio. Mas, aparentemente, não há ainda razões suficientemente fortes para se mudarem metodologias.

Quem o diz são os responsáveis por empresas de sondagens contactados pelo PÚBLICO. Sobre a polémica no Reino Unido, realçam que o facto de terem sido, em alguns casos, francamente distantes do cenário que acabou por se concretizar, se deve ao facto de o país funcionar numa base de círculos uninominais – e são mais de 600.

Em Portugal, para contrariar as dificuldades crescentes, o esforço tem que ser feito na elaboração de amostras que acompanhem a representatividade da população. Não há listas de telemóveis por distrito ou município – “até pagávamos para isso”, diz António Salvador, da Intercampus -, pelo que os telefones fixos ainda são a única forma de assegurar a distribuição geográfica dos inquiridos. É certo que nos últimos anos ter havido uma recuperação ligeira do fixo devido às ofertas de triple e 4play, mas as pessoas usam-nos menos, não atendem e o uso efectivo deste telefone está identificado com a população mais idosa, de voto mais fiel. “Quando oiço os inquiridos responderem ‘eu ponho no partido x’ ou ‘eu deito no y’ já sei que vota sempre no mesmo”, descreve Rui Oliveira e Costa, da Eurosondagem.

Às questões tecnológicas há que somar a miríade de partidos que se candidatam. Quando se enumeram 20 partidos por telefone, o interlocutor deixa de prestar atenção ao quinto ou sexto e no trabalho de campo o boletim é uma longa lista de siglas e nomes. “São tantos partidos que é difícil esperar que muitos tenham expressão numa sondagem ou que nas eleições tenha acima de 1%”, afirma o director-executivo do CESOP, Jorge Cerol, cujo centro faz todas as sondagens apenas por deposição em urna.

E acrescenta ainda os chamados apoiantes envergonhados (que nas sondagens penalizam o seu partido mas na hora H não vacilam), os que mentem conscientemente (não querem revelar ao entrevistador a sua preferência), os que estão indecisos. “Por tudo isto, a amostra tem que ser grande e ter um efeito de compensação”.

Como extrapolar então os resultados do inquérito para um cenário que não se consegue cobrir? Conhecendo o país para se poder definir a amostra ideal – o “sal” de uma sondagem. E aqui entram factores demográficos, sociais, políticos, económicos. É tentar fazer o retrato do país: ter, na devida proporção, zonas rurais, periurbanas e urbanas, litorais e interior. E entrar em conta também com os resultados das últimas eleições. A receita é um segredo maior do que a dos pastéis de Belém.

Nas sondagens de boca-de-urna, no dia das eleições, a Eurosondagem trabalha com 50 freguesias, a Intercampus e o CESOP entre 20 e 30 – de um total de cerca de 3100 de todo o país. É fundamental escolher autarquias “limpinhas” – onde não há conflitos com o padre ou um autarca, nem boicotes.

“Qual é o outro problema das sondagens pré-eleitorais? São os 40% que depois não vão votar”, considera Rui Oliveira e Costa. Numa sondagem, seja por telefone ou por voto em urna, o eleitor é levado a exprimir uma intenção de voto sem qualquer esforço, de forma passiva. Pergunta-se em quem votaria se as eleições fossem hoje. No dia das eleições, ele tem que se deslocar à mesa de voto – e isso implica uma atitude activa.

A sondagem publicada anteontem colocava a coligação à frente do PS nas intenções de voto por um ponto. Costa preferiu desvalorizar dizendo que é nas urnas que se afere a vontade popular. Não é com a diferença numérica entre os dois concorrentes – facilmente contrariada por uma margem de erro – que o PS deve estar preocupado mas mais com a possível inversão na tendência de voto que esta sondagem poderá transmitir. Em 2011, boa parte das sondagens pré-eleitorais davam a vitória ao PSD, mas a verdade é que depois do frente-a-frente entre Passos e Sócrates na RTP, a 20 de Maio, nunca mais o PS apareceu na frente. “Em Portugal, tradicionalmente, quem se apresenta a eleições depois de ter exercido o poder em tempos conturbados é derrotado”, avisa António Salvador, da Intercampus.

As empresas não falam de preços, até porque eles variam muito. Oliveira e Costa diz que nestes meses elas “representam 3 a 5% dos custos da campanha – 10 vezes menos que os outdoors”.

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