Netanyahu sobrevive e consegue empate na votação em Israel

Projecções de resultados deixam vários cenários em aberto: os mais prováveis parecem ser um governo de unidade nacional; um executivo de direita liderado pelo primeiro-ministro cessante; ou um de centro-esquerda, com apoio tácito de partidos árabes.

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As duas forças políticas mais votadas nas eleições legislativas desta terça-feira em Israel estão praticamente empatadas em número de deputados, 27 a 28 cada uma, segundo as primeiras projecções de resultados feitas pelas principais televisões do país.

Quase seria impossível um empate maior: as primeiras sondagens à boca das urnas de dois dos canais da televisão israelita repetiam 27 deputados para o Likud do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e outros 27 para a lista do seu opositor, Isaac Herzog, que encabeça a lista União Sionista (US), de centro-esquerda.

Por isso, o cenário que muitos punham em cima da mesa era o de um Governo de unidade nacional - o último em Israel foi há 30 anos e seguiu uma rotatividade de primeiro-ministro: em 1984, o trabalhista Shimon Peres e o então líder do Likud Yitzhak Shamir ocuparam o cargo à vez.
Mas este era apenas um dos cenários. O chefe de gabinete da agência Reuters em Israel Luke Baker comentava que mais difícil do que Netanyahu ou Herzog conseguirem formar as suas coligações seria o Presidente conseguir que se juntassem num Governo de unidade. Netanyahu passou parte final da campanha a fazer avisos extremados sobre o perigo de um Governo de esquerda, e numa eleição que apresentou como um referendo, não deverá aceitar um executivo que implique passar, a meio do mandato, a chefia ao rival

A questão de saber se os pequenos partidos fariam pender a balança mais para o campo de Netanyahu ou de Herzog continuava em aberto horas depois do fecho das urnas: todos pareciam ter passado a barreira necessária para entrar no Knesset (parlamento), mas com uma diferença tão pequena que os resultados finais poderiam ser diferentes

O ambiente nas sedes de campanha parecia espelhar as as hipóteses matematicamente mais prováveis: a euforia no Likud (afinal, as sondagens davam-lhe há dias apenas 20 deputados), mostravam uma possibilidade de coligação com partidos religiosos e de extrema-direita (mas Netanyahu saberá que ao liderar um Governo tão à direita enfrentará um clima internacional hostil).

A União Sionista dizia, pelo seu lado, que começou já negociações para formar uma coligação. “Tudo está em aberto até aos resultados finais” - que serão conhecidos na sexta-feira, e dependendo do lado para que penderiam dois partidos, o Shas e o Kulanu. Se obtiver também o apoio tácito da Lista Conjunta dos partidos árabes, a US ainda poderá ter o apoio de 61 deputados.

Sabe-se que tanto Herzog como Netanyahu telefonaram ao líder do Shas (sete deputados nas projecções), que na campanha deixou a porta aberta a entendimento com ambos. Do lado de Netanyahu, Naftali Bennet (Casa Judaica, ultranacionalista) concordou de imediato juntar-se a um Governo de direita. De Bennett (oito lugares) veio, aliás, uma das reacções mais entusiasmadas da noite - “o campo nacionalista venceu”, disse, apesar de os analistas sublinharem justamente a descida dos partidos desta área, por exemplo o Yisrael Beitenu do ministro dos Negócios Estrangeiros Avigdor Lieberman (cinco deputados, prevê-se).

Já Moshe Kahlon, antigo ministro das Comunicações de Netanyahu, do novo partido centrista Kulanu (ou Todos Nós), dissidente do Likud, cujo apoio parecia crucial para um dos campos poder ter um executivo, disse que apenas decidiria o que fazer depois de contados todos os resultados. Terá conseguido dez lugares.

Duas vitórias, zero Governos
Foi uma campanha de montanha russa quando nada o fazia antever. Ao decidir eleições antecipadas, Netanyahu quis referendar, e reforçar, o seu poder, após desentendimentos na coligação por causa da lei da cidadania. O que parecia um caminho fácil para uma vitória começou a descarrilar - analistas dizem que pode ter sido a falta de propostas económicas, as notícias sobre o estio de vida dispendioso do casal Netanyahu, a polémica viagem a Washington a convite do Partido Republicano e o percebido estado de degradação da relação do Governo com a actual administração dos EUA, o seu principal aliado . De tal modo que Netanyahu resolveu assegurar aos seus eleitores que, se fosse reeleito, nunca permitiria um Estado palestiniano (a linha oficial do Governo de Netanyahu tinha sido sempre sido a defesa da solução de dois estados).

E no próprio dia de votação, mensagens telefónicas do Likud alertavam os seus apoiantes que os árabes israelitas (um quinto da população) estavam a votar em massa (a Lista Conjunta, juntando os partidos árabes com presença de alguns judeus, parece ter ficado, segundo as projecções, em 3.º lugar com 13 deputados). O próprio Netanyahu fez uma declaração alertando para este “perigo” (pouco depois tentou suavizá-la, mas já estava criado o efeito) e tentou ainda falar ao país em plena tarde eleitoral pela televisão (algo que não foi autorizado pelo Supremo).

Dez anos depois de uma enorme derrota em 1999, Netanyahu conseguiu em 2009 regressar para quase seis anos de poder. E apesar da multiplicação de previsões, na última semana, sobre a sua morte eleitoral, estas revelaram-se, qualquer que venha a ser o resultado das conversações para o Governo, algo exageradas.

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