Moreira Rato: "Foi-nos transmitido que o banco era viável"

O ex-administrador do BES e do Novo Banco disse esta quarta-feira que os responsáveis transitaram para o Novo Banco temendo o "efeito de dominó" sobre o sistema financeiro.

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João Moreira Rato foi presidente do IGCP antes de transitar para o Novo Banco Enric Vives-Rubio

"Foi-nos transmitido que o banco era viável e que as possíveis necessidades de provisionamento das suas contas que adviriam de uma exposição do BES ao GES seriam acomodadas pela almofada de capital existente", revelou João Moreira Rato na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), sem especificar quem lhe declarou que o banco era viável.

O responsável está a ser ouvido desde cerca das 16h20 e fez uma curta apresentação inicial perante os deputados.

Moreira Rato sublinhou que "além da exposição ao GES, a exposição ao BES Angola era outra questão importante" com que o BES então se deparava.

"Foi-nos transmitido que essa questão estava a ser tratada pelas autoridades dos dois países com boas perspectivas de ser clarificada no curto prazo e sem impacto material nas contas do BES", acrescentou.

O antigo presidente do IGCP, que gere a dívida pública, acrescentou que a "gestão da liquidez" transformou-se na "primeira prioridade" da sua equipa, nomeadamente devido à "saída diária de depósitos". Em Junho, o BES tinha 35.932 milhões de euros em depósitos. A 4 de Agosto, após a intervenção do Banco de Portugal, que dividiu a instituição em duas partes, criando o Novo Banco, este tinha 27.281 milhões em depósitos no grupo e 26.847 milhões a nível nacional. Assim, em cerca de um mês, houve uma diminuição da ordem dos 10.000 milhões de euros, explicada pela saída de dinheiro para outras instituições no auge da crise e, também, devido às alterações ligadas à intervenção (o Novo Banco é mais pequeno do que era o Grupo BES).

"O destino previsto para o Novo Banco afastou-se do projecto que nos havia levado a aceitar entrar para a administração do BES e de, após a medida de resolução, continuar à frente do Novo Banco, pelo que entendemos que o testemunho deveria ser passado a uma equipa que estivesse vocacionada para a concretização de um mandato que havia sido entretanto clarificado", declarou João Moreira Rato, que assumiu as funções de administrador executivo com o pelouro da área financeira enquanto Vítor Bento foi presidente executivo. A equipa de gestão acabou por demitir-se em meados de Setembro, e, segundo Moreira Rato, não foi consultada antes da aplicação da medida de resolução pelo Banco de Portugal (BdP). "Fomos informados pelo BdP no dia 1 de Agosto, à noite. Da perda de estatuto de contraparte e de que ia haver uma medida de resolução", afirmou.

"Estávamos a trabalhar para uma recapitalização privada, mas nunca tivemos a possibilidade de testar o interesse desses investidores", explicou, realçando que essa mesma informação constava dos comunicados que foram sendo divulgados na altura ao mercado. De acordo com os advogados da equipa, o processo "podia durar cerca de dois meses", acrescentou. Contudo, o interesse manifestado por privados "nunca chegou a ser concretizado", sublinhou o responsável.

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