Obama dá força aos que pedem alívio da austeridade para a Grécia
Tsipras diz-se confiante com os apoios recebidos nas últimas semanas. São muitos os economistas que apoiam redução da dívida grega.
Barack Obama não entrou na discussão técnica, mas as suas palavras não poderiam ter vindo em melhor altura para o novo governo grego, empenhado em convencer os parceiros europeus da urgência – não só para Atenas, como para toda a zona euro – de negociar um novo acordo com os seus credores. “Não é possível continuar a pressionar países em plena depressão”, disse o Presidente norte-americano em entrevista à CNN, argumentando que “a certa altura é preciso ter uma estratégia de crescimento para permitir que um país pague as suas dívidas e elimine alguns dos seus défices”.
A bolsa de Atenas foi a primeira a reagir e, pouco depois da abertura, estava a valorizar 5%, com as acções dos bancos gregos, que na última semana perderam 25% do seu valor, a liderar as subidas. Sem se referir directamente a Obama, o próprio primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, disse que os últimos dias deixaram Atenas mais confiante sobre o rumo das negociações. “Nunca esperei que houvesse tantas forças poderosas a ajudar o novo governo a criar um novo quadro e um novo rumo, não apenas para a Grécia mas para a Europa num todo”, afirmou, durante uma visita a Chipre.
Uma avaliação talvez demasiado optimista, quando a maioria dos líderes europeus têm oscilado entre a resposta prudente e a crítica aberta às propostas de Atenas. Mas juntando as palavras do Presidente americano à disponibilidade manifestada no domingo por Paris para ajudar o novo governo grego a renegociar a sua situação financeira, o Wall Street Journal escreveu que se assiste “na Europa e não só a uma reacção contra a forma como Berlim tem gerido a crise da zona euro”. “Os políticos alemães estão habituados às críticas de Washington”, acrescenta o jornal económico, mas as palavras de Obama, aliadas à pressão de França e Itália para um afrouxamento do rigor orçamental e à política intervencionista do Banco Central Europeu indicam “que os ventos se estão a virar contra o Governo alemão”.
Na entrevista à CNN, Obama reconhece que a Grécia ainda não fez reformas essenciais, como a de melhorar o seu “celebremente terrível” sistema de cobrança de impostos. “Mas é muito difícil iniciar essas mudanças quando o nível de vida das pessoas caiu 25%. A dado momento o sistema político, a sociedade, não o podem suportar.” E apesar de reconhecer que a zona euro não pode prescindir do rigor orçamental, o Presidente americano diz que a experiência americana dos últimos anos mostra que “a melhor maneira de reduzir o défice e restaurar a solidez orçamental é fomentar o crescimento”.
Uma ideia que faz caminho nalguns países – “Todos percebem que as políticas punitivas da austeridade não podem continuar a ser um projecto para a UE”, disse no domingo o primeiro-ministro francês, Manuel Valls –, dando força aos economistas que dizem ter chegado o tempo de aliviar o fardo da dívida grega.
Em vésperas das legislativas, 18 deles, incluindo os Nobel Joseph Stiglitz e Christopher Pissarides, subscreveram um artigo no Financial Times em que defendiam o perdão de parte da dívida, sobretudo a que está nas mãos de outros Estados-membros, uma moratória para o pagamento de juros e uma linha de financiamento para grandes investimentos, recorda a AFP. Já depois das eleições, o também Nobel Paul Krugman escrevia que exigir a Atenas que tenha excedentes orçamentais a custo quando enfrenta uma crise social grave “é querer tirar sangue a uma pedra”.
Também Wolfgang Munchau, especialista do FT em economia europeia, defendeu a redução da dívida grega e o fim das políticas de austeridade impostas pela troika, ainda que no quadro de uma negociação a médio prazo, alertando que, ao contrário do que parece ser o consenso em Berlim, a saída da Grécia da moeda única “seria tão prejudicial para a zona euro como para a própria Grécia”. “A certo ponto os investidores iriam perguntar-se se a zona euro ainda é uma união monetária ou apenas um regime de moeda única com portas de entrada e de saída. E imediatamente perguntariam se [o investimento em] Portugal é seguro.”