O emprego está a ser inflacionado?

Os credores oficiais desconfiavam das estatísticas do emprego. E pelos vistos com razão.

As instituições internacionais já há algum tempo andavam a olhar para as estatísticas do emprego com alguma desconfiança e até incredulidade. Reconheciam que a evolução do mercado de trabalho estava a superar o que seria expectável face ao desempenho da economia. Em Novembro, numa entrevista ao Jornal de Negócios, o responsável do FMI Subir Lall chegou a afirmar: "Ninguém percebeu como é que o desemprego está a baixar."

Mas a verdade é que os números do INE teimavam em contrariar as folhas de Excel da troika, com os dados do Instituto de Estatística a apontarem para um crescimento homólogo de 6% do trabalho por conta de outrem no terceiro trimestre deste ano.

Nesta quarta-feira, o Banco de Portugal acabou aparentemente por desvendar o mistério. Segundo uma análise do banco central, existem diferenças metodológicas que contrariam as estatísticas do INE e que levam a concluir que, para o mesmo período de análise, o emprego por conta de outrem no privado cresceu apenas 2,5%, muito longe dos 6% estimados pelo Instituto de Estatística.

Mais do que fazer contas à dimensão de crescimento do emprego, a análise do Banco de Portugal acaba por questionar a própria qualidade dessa criação de emprego, já que, segundo a instituição liderada por Carlos Costa, um terço do emprego criado tem a ver com estágios profissionais que foram lançados pelo Governo. E a grande incógnita é saber o que acontecerá às estatísticas quando terminarem os apoios que estão a ser dados pelo IEFP.

A verdade é que, se a economia não descolar, as políticas activas de emprego serão apenas um paliativo para disfarçar as estatísticas. E para os próximos dois anos o Banco de Portugal diz que “o potencial de crescimento previsto para a economia portuguesa (…) é relativamente limitado”. Um boletim de Inverno que infelizmente vem deitar um balde de água fria nos números do desemprego.

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