Medidas de protecção contra o ébola vão do uso de dois pares de luvas a talheres descartáveis

Direcção-Geral de Saúde pediu revisão dos procedimentos de prevenção da propagação do vírus a especialistas em biossegurança.

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Além dos óculos, máscara e viseira, as equipas do INEM usam em cima desse material também uma cógula protectora. AFP

Caso haja casos suspeitos de doença por vírus ébola em Portugal, estão definidas, ao pormenor, as normas a seguir pelos profissionais de saúde que lidem com estes doentes, que vão desde a utilização de dois pares de luvas até ao uso de talheres e pratos descartáveis pelo paciente.

O director-geral da Saúde, Francisco George, pediu esta semana a uma série de especialistas em biossegurança que “reanalisem os procedimentos à luz de novos conhecimentos” adquiridos com o novo surto. O infecciologista do Hospital Curry Cabral, Fernando Maltês, esclarece que “não haverá inovações técnicas”, o que vão tentar perceber é se os circuitos que estão previstos têm falhas que podem ser eliminadas.

Caso chegue a um serviço de saúde um doente com queixas de febre súbita e com, pelo menos, mais um de um conjunto de sintomas que incluem “vómitos, diarreia, anorexia, dor abdominal” ou “cefaleias, confusão, prostração”, a que se soma o ter estado, 21 dias antes, em países com casos suspeitos ou confirmados do ébola, é susposto os serviços de saúde portugueses accionarem um forte dispositivo de segurança que está definido em orientações da Direcção-Geral de Saúde.

Desde logo, os doentes suspeitos devem ser encaminhados para os três hospitais de referência: o São João, no Porto (para adultos e crianças); o Curry Cabral (adultos) e o D. Estefânia (para crianças), em Lisboa. As análises para confirmar o diagnóstico estarão a cargo do Instituto Nacional de Saúde Dr Ricardo Jorge, em Lisboa.

Dentro do serviço de saúde, o doente suspeito deve ser  colocado em isolamento em quarto, se possível com pressão negativa e com casa de banho de uso exclusivo. Sugere-se, por exemplo, que “sempre que possível", sejam usadas roupas, pratos, copos e talheres descartáveis. Os equipamentos clínicos, que podem ir desde o aparelho que mede a tensão arterial ao termómetro, deverão ter protecção descartável e servir só para o doente em questão.

Ao mesmo tempo que o doente é internado com todas as cautelas, é suposto que as pessoas com quem contactou de perto sejam identificados e mantidas sob vigilância até se saber se o caso tem ou não origem no vírus ébola. Confirmado o diagnóstico, os contactos devem ficar sob vigilância, com medição da temperatura duas vezes por dia, até 21 dias após o último contacto com o doente.

Todos os profissionais de saúde que contactem com o paciente deverão usar os chamados equipamentos de protecção individual, quer estejam em centros de saúde ou hospitais, no sector público ou privado, ou façam transporte de doentes. Do grupo de trabalho que vai reanalisar as normas faz também parte o Instituto Nacional de Emergência Médica, assim como responsáveis dos serviços de saúde das Forças Armadas.

Recorde-se que o vírus ébola se transmite através de sangue, secreções, tecidos, órgãos ou líquidos orgânicos de pessoas doentes. Também pode haver transmissão da infecção através do contacto da mucosa ou lesão da pele com superfícies ou objectos contaminados com fluídos orgânicos de um doente.

Os profissionais de saúde devem usar um tipo de equipamento de fato completo, preferencialmente tipo macacão, descartável e impermeável, com barrete incorporado, uma touca e um avental. Devem ainda usar um “respirador de partículas”, que deve ser substituído ao fim de uma hora de utilização. A ordem de colocação e de retirada do equipamento está estritamente definida: por exemplo, deve ser primeiro vestida a bata, depois posta a protecção facial ou máscara e protecção ocular, a touca e, por fim, as luvas.

Fernando Maltês dá como exemplo este protocolo de utilização do equipamento de protecção individual como uma das situações em que se vai tentar perceber se há condições para que tudo corra como está previsto pela Direcção-Geral de Saúde. “Vamos perceber se há falhas, reforçando os circuitos e procedimentos”, porque, “do ponto de vista científico, não vai haver alterações”.

As normas descem ao pormenor da concentração de lixívia a utilizar na desinfecção de superfícies ou roupas sujas, aos procedimentos de segurança em caso da morte de um doente infectado. Está previsto, por exemplo, que o corpo seja colocado em saco com uma etiqueta com o símbolo de risco biológico, que não sejam feitas autópsias nem embalsamentos e que o enterro ou cremação ocorra “o mais rápido possível”. “Os objectos pessoais do doente devem ser descontaminados.”

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