Bruxelas quer explicações sobre o caso da espanhola que contraiu ébola

Auxiliar hospitalar infectada entrou em contacto com pelo menos 20 pessoas. Marido já está em quarentena. Há mais três casos suspeitos.

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Vista do Hospital Carlos III onde trabalha a auxiliar de enfermagem Andrea Comas / Reuters

A Comissão Europeia pediu nesta terça-feira “esclarecimentos” ao Ministério da Saúde espanhol sobre o caso da auxiliar de enfermagem que contraiu ébola num hospital de Madrid. Em Espanha tenta-se agora minimizar os riscos de contágio.

Admitindo que “houve evidentemente um problema em alguma parte”, a Comissão Europeia revelou que “enviou na segunda-feira uma mensagem ao Ministério da Saúde espanhol para obter esclarecimentos”, disse o porta-voz, Frédéric Vincent, citado pela AFP.

Bruxelas não quer, no entanto, despertar motivos para alarme, garantindo que a propagação do vírus do ébola “na Europa continua a ser altamente improvável”.

O Comité de Segurança Sanitária da Comissão Europeia vai reunir-se na quarta-feira e espera obter respostas “que sirvam de lição aos outros” países, disse Vincent. O importante agora é que “as autoridades espanholas procurem compreender e reconstruir o histórico” da infecção.

Até ao momento, sabe-se que a auxiliar terá tido contacto com 21 pessoas desde que foi transportada de sua casa até ao Hospital de Alcorcón, nos arredores de Madrid, onde deu entrada na segunda-feira de manhã, segundo o El País. Na noite passada foi transferida para o Hospital Carlos III, onde permanece isolada mas fora de perigo. A auxiliar tem sido tratada com anticorpos de outros pacientes que foram infectados anteriormente, de acordo com as autoridades de saúde locais.

A profissional de saúde começou a apresentar os primeiros sintomas do ébola – febres fortes – durante a semana passada, pelo que o número de pessoas que entraram em contacto com a infecção será potencialmente maior. O marido da auxiliar é o caso que levanta mais preocupações e já se encontra em isolamento, revelou nesta terça-feira o coordenador do Centro de Alertas e Emergências Sanitárias, Fernando Simón.

Para além do marido da auxiliar de enfermagem, há outro caso suspeito o de um homem que regressou de uma viagem internacional e que já se encontra em isolamento e o de uma pessoa, também profissional de saúde, que foi internada mas cujo contágio ainda não foi confirmado.

A auxiliar infectada esteve a tratar do missionário e médico espanhol que contraiu ébola na Serra Leoa e acabou por morrer a 25 de Setembro, no Hospital Carlos III, em Madrid. A mulher, de 40 anos e sem filhos, entrou em férias um dia depois da morte do missionário e começou a apresentar os primeiros sintomas a 30 de Setembro. Durante esse período, a profissional de saúde não abandonou Madrid, garantiram esta manhã as autoridades sanitárias da capital espanhola.

Ministra da Saúde espanhola sob pressão
No meio do alarme causado por este primeiro caso de contágio na Europa também se tentam apurar responsabilidades. Os partidos da oposição em Espanha pediram a comparência da ministra da Saúde, Ana Mato, no Congresso.

O porta-voz para a área da Saúde do PSOE, José Martínez Olmos, lembrou que em Agosto já tinham pedido para ouvir Ana Mato sobre o caso dos missionários, mas o pedido foi recusado. “Acreditamos que os profissionais de saúde saibam fazer o seu trabalho, mas exigimos a Ana Mato como vai abordar esta situação ou se foi cometido algum erro”, disse Olmos, durante uma conferência de imprensa.

Mais crítico foi o deputado da Esquerda Unida Gaspar Llamazares, que acusou o Governo conservador do Partido Popular de ter escolhido “a propaganda e o engrandecimento em vez da segurança”. “Agora vemos tristemente o resultado”, disse o deputado, que exigiu igualmente a presença de Mato no Congresso.

Erro humano?
Por trás do caso da auxiliar terá havido “erro humano”, segundo vários especialistas espanhóis. “A grande vantagem do ébola é que não se transmite pelo ar, portanto se se usa o equipamento adequado e se estabelece o isolamento necessário não teria que haver qualquer contágio”, disse ao El País o virólogo Luis Enjuanes.

O professor de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade de Valência, José Martín-Moreno, nota que “as instalações do [Hospital] Carlos III não são inferiores a outras e o problema não está relacionada com elas”.

Francisco George, director-geral da Saúde português, afirmou ao PÚBLICO que ainda não é possível "explicar qual o problema que esteve na origem desta nova infecção". "Não temos ainda todos os elementos”, disse, admitindo que uma das hipóteses é “terem sido quebradas as regras de protecção individual”. “É preciso saber se todos os procedimentos foram observados”.

Para já, a DGS está em reuniões com peritos e analisa se é necessário rever as normas de protecção do pessoal médico.

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