Himmler: A burocracia do mal

The Decent One fala do regime nazi visto por dentro, através da história de Heinrich Himmler, chefe das SS.

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Imagens de época no documentário sobre Himmler
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Imagens de época aparecem no documentário sobre Himmler

Numa Berlinale que deu proeminência mediática a George Clooney & cª a brincarem aos GIs, não é inocente que o documentário The Decent One (Panorama Dokumente) tenha a sua estreia mundial na capital alemã.

É da ferida aberta do século XX que aqui se fala: o regime nazi de Adolf Hitler e a sua tentativa de conquistar o mundo, visto "de dentro" através da correspondência e documentos particulares de um dos seus arquitectos, Heinrich Himmler, chefe das temidas tropas de elite do regime, as SS. A israelita Vanessa Lapa teve acesso ao acervo de cartas, diários, documentos e fotos de Himmler, que se julgava perdido mas apenas não tinha sido entregue às autoridades militares americanas; e, a partir dele, tenta retratar o Himmler privado, o marido e pai extremoso, e reconciliá-lo com o Himmler público, o nacional-socialista fervoroso.

The Decent One é, tecnicamente, intocável: inteiramente construído a partir de imagens de época pesquisadas em dezenas de arquivos (o trabalho de montagem é extraordinário), acompanha a vida de Himmler cronologicamente, do seu nascimento em 1900 ao seu suicídio em 1945. Mas a sensação com que saímos é a de que Vanessa Lapa mantém sempre uma "distância de segurança" em relação ao seu tema, como se bastasse uma simples acumulação de datas, factos e citações para entrever ou explicar o mal que ele causou.

Não basta; mas recorda-nos como o mal nazi escondia-se por entre uma complexa burocracia que permitia a negação constante da sua essência. E Himmler não foi outra coisa senão a encarnação dessa burocracia kafkiana e impiedosa.
 

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