Troika: cortes salariais estão fora da agenda da reunião com patrões e sindicatos

Parceiros sociais vão confrontar membros da troika com declarações de Lagarde sobre os erros do FMI.

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Subir Lall esteve em Portugal em Abril para a consulta do Artigo IV Nuno Ferreira Santos

O chefe da missão da troika em Portugal e representante do Fundo Monetário Internacional (FMI), Subir Lall, disse nesta quarta-feira que o encontro com os parceiros sociais não vai servir para discutir cortes salariais, mas temas "mais abrangentes".

"Não. Não sei onde ouviram isso, vamos discutir assuntos mais abrangentes", disse Subir Lall, à chegada ao encontro com as confederações sindicais e patronais, quando questionado sobre se no encontro seria discutido a flexibilização salarial que o FMI tem defendido para a economia portuguesa e em especial para o sector privado.

Apesar de curta, esta declaração aos jornalistas do chefe da missão da troika (composta por FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) foi inédita, já que habitualmente os representantes da troika não falam à comunicação social à margem deste tipo de encontros.

Além de Subir Lall, do FMI, o encontro conta ainda com a presença de Rasmus Ruffer enquanto representante do Banco Central Europeu e John Berrigan como representante da Comissão Europeia.

Estes responsáveis estão reunidos na sede do Conselho Económico e Social (CES) com os representantes dos sindicatos, neste caso o secretário-geral da CTGP, Arménio Carlos, e a presidente da UGT, Lucinda Dâmaso, e com os representantes dos patrões, ou seja, com o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, e com o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), Vieira Lopes.

Este encontro insere-se no décimo exame regular ao programa de ajustamento, que começou a 4 de Dezembro, depois de as oitava e nona avaliações ao programa de ajustamento terem terminado no início de Outubro.

Por seu lado, os responsáveis da UGT e CGTP sublinharam as divergências que começam a surgir nos representantes da troika quanto ao plano de resgate de Portugal, adiantando quererem clarificar a admissão de erros feita na terça-feira pelo FMI.

"Há divergências [no discurso da troika]" e "individualmente cada um diz que [as medidas de austeridade] são demais, mas, quando se juntam, todos dizem que ainda precisamos de mais austeridade e salários baixos", lembrou a presidente da UGT à entrada da reunião.

A directora-geral do FMI, Christine Lagarde, admitiu na terça-feira em reunião do Conselho Económico e Social Europeu, que o plano de resgate aplicado a Portugal tinha erros.

"Esperamos que a troika ouça, de uma vez, o que a directora-geral do FMI disse há poucas horas sobre as medidas de austeridade", afirmou Lucinda Dâmaso, lembrando que a central sindical "sempre defendeu que Portugal não precisa de mais austeridade nem de salários mais baixos".

Também o secretário-geral da CGTP referiu as divergências entre os representantes da troika, sublinhando aquilo que considera "uma hipocrisia e um cinismo", mas admitiu não ter expectativas face à reunião de hoje.

"A senhora Lagarde diz uma coisa e os seus homens de mão fazem outra", disse Arménio Carlos, acrescentando que o FMI, "tal como a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, estão a fazer uma política de destruição quer do tecido da economia quer dos direitos mais elementares dos cidadãos portugueses".

Também as confederações patronais, que chegaram à reunião sem expectativas depois de nove avaliações em que as suas propostas não foram ouvidas, disseram que aproveitarão para recordar as palavras da directora do FMI .

"As afirmações de Christine Lagarde [diretora-geral do FMI - Fundo Monetário Internacional] são contraditórias com o que tem sido colocado em cima da mesa pela troika. Queremos saber se os líderes da troika estão de acordo com Lagarde e as consequências que vão tirar", disse o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes.

Também o presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal se referiu às palavras da responsável máxima do FMI, na terça-feira, considerando que "uma coisa é o que se diz e outra o que se faz". "O FMI fala sobre um tema que na prática não faz e as palavras de Lagarde vêm nesse sentido", afirmou António Saraiva.
 

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