Ditaduras, truques, ameaças e sanções

Sanções à Coreia do Norte, sanções à Venezuela. Kim Jong-un ameaça, Maduro rejubila e contra-ataca. O que nos resta? Mais sanções…

Por unanimidade, o Conselho de Segurança da ONU decretou novas sanções contra a Coreia do Norte. Kim Jong-un, de imediato, declarou-se pronto para “uma guerra total”, avisando que a cidade de Washington seria “envolvida num mar de fogo”. Esta podia ser uma notícia recente, mas não é. É de Março de 2013, há pouco mais de quatro anos. A notícia recente, de ontem, é esta: por unanimidade, o Conselho de Segurança da ONU decretou novas sanções contra a Coreia do Norte. O regime de Kim Jong-un ripostou no jornal oficial do regime: “No dia que os Estados Unidos se atreverem a provocar a nossa nação com armas nucleares ou com sanções, o território norte-americano ficará submerso num inimaginável mar de fogo.” Entre o mar de fogo de 2013 e o de 2017, ambos pretensamente ameaçadores, há um oceano de hesitações e dúvidas, entre os que reafirmam que Kim Jong-un (o terceiro Kim da dinastia, depois do avô Il-Sung e do pai Jong-Il) é demasiado bizarro para ser levado a sério e os que, precisamente por ele ser demasiado bizarro, temem que um dia dali saia um gesto fatal.

À cautela, a ONU vai acumulando sanções, agora já decididas por unanimidade, com a China, aliada tácita de Pyongyang, a vencer a antiga relutância em subscrevê-las. Isto sem que, apesar das privações sofridas pelo povo norte-coreano (privações essas que o regime vai iludindo em incansáveis vagas de fanatismo), algo tenha mudado ao longo destes anos. As sanções prosseguem, a retórica bélica idem, e tudo se mantém na mesma podríssima paz. A alternativa, absolutamente inaceitável, seria um ataque à Coreia do Norte. Mas felizmente, até pelos aviltantes resultados de aventuras anteriores, o mundo prefere sancionar e esperar.

Sanções é o que se receita agora, também, à Venezuela. A UE sanciona, o Mercosul idem. Nicolás Maduro, sancionado, rejubila. Não tem nenhum “mar de fogo” para prometer, mas do alto do seu poder cada vez mais absoluto, vai ditando ordens para suspender o que ainda restava no país de instituições democráticas. A Assembleia Constituinte, saída de eleições de duvidosos resultados e legalidade, vai afinal ser o novo “parlamento”, pois o seu mandato foi já alargado (por unanimidade, palavra mágica!) para dois anos ou mais. Será, pois, o poder.

Na Venezuela, uma nova constituição irá cobrir tudo isto. É um truque, mas não é novo. No Ruanda, com a alteração constitucional de 2015, o presidente Paul Kagame que, primeiro como vice e depois como efectivo, já se arrasta pelo palácio presidencial desde 1994, e que acaba de ser “reeleito” com 98% dos votos (!), poderá fazer-se “reeleger” até aos anos 2030. Truque que Kim Jong-un, de dinastia eterna, dispensa. O que nos resta? Mais sanções…

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