Investimentos anunciados pelo Lone Star em Vilamoura não se vêem

O investimento de mil milhões de euros, destinado a desenvolver 18 projectos, continua a marinar. A cidade lacustre, idealizada por André Jordan, afundou-se na crise do imobiliário.

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Investimentos anunciados para Vila Moura ainda estão por concretizar VR Virgilio Rodrigues

Uma operação rápida e em força na promoção e vendas do sector imobiliário, suportada por um investimento de mil milhões de euros. Foi assim que surgiu, há dois anos, o anúncio da entrada do fundo de investimentos Lone Star, em Vilamoura, quando adquiriu o empreendimento, com uma área de cerca de 1700 hectares, o equivalente a oito vezes o tamanho do Mónaco.

O valor da aquisição, 200 milhões de euros, ficou a um terço do preço da avaliação que tinha sido feita cinco anos antes. “Fizeram uma boa compra”, reconhece o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, destacando que o Lone Star acreditou “em Portugal, quando o sector imobiliário vivia momentos de uma crise generalizada”. Porém, a distância que separa o volume de investimentos previstos e a realidade no terreno, é grande e tudo parece estar dependente da evolução dos mercados.

A renovação da área envolvente à marina - obra destinada a servir de “cartão-de-visita”, para levar o visitante a conhecer o projecto “Vilamoura Lakes” - ficou a marinar. A começar pelo novo e icónico Yatch Club, SPA e ginásio, muito falta fazer em termos de infra-estruturas. Apenas foram executadas intervenções pontuais, para tornar mais atractivo o espaço público. E os problemas de fundo com que o resort se confronta há décadas, relacionados com a mobilidade, continuam encalhados. De acordo com as estatísticas divulgadas pela Inframoura - Empresa de Infra-estruturas de Vilamoura, circulam, em média, no anel à volta da marina quase meio milhão de automóveis, no pico do Verão, entre 15 de Julho e 15 de Agosto. Os engarrafamentos crónicos são motivo de constantes reclamações.

O presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo, questionado pelo PÚBLICO, disse que fundo o imobiliário, “continua a manifestar vontade de andar depressa com os projectos” sublinhando que não tem “nenhuma razão para duvidar de que existe vontade em desenvolver o empreendimento”. O autarca, socialista, lembra que tem chamado a atenção para a necessidade de serem cumpridas “todas” as regras e leis do ordenamento e urbanismo: “A informação de que disponho é de que os investidores têm pressa e não pedem alterações aos projectos, já aprovados, para não perder tempo”, adiantou.

Por seu lado, o administrador da agência imobiliária Garvetur, Reinaldo Teixeira, enfatiza que “há uma grande aposta nas vendas”. Da parte que lhe diz respeito, promoção e venda em exclusivo do empreendimento L’orangerie, acrescenta mesmo que “em pouco mais de quatro meses, vendemos 14 das 31 unidades disponíveis”.

Mas não são só as infra-estruturas que parecem ter ficado para trás. A cidade lacustre idealizada por André Jordan afundou-se na crise do imobiliário. Com a aquisição feita pelo fundo norte-americano Lone Star à Catalunya Caixa (detida pelo BBVA), a cidade lacustre foi convertida em “paisagens lacustres”- uma forma minimalista de aproveitar os lagos e campos de golfe existentes, valorizando o espaço em redor para a construção de apartamentos e moradias. O projecto Vilamoura Lakes foi concebido para ter 250.000 metros quadrados de paisagens naturais, com uma envolvente de 1900 unidades residenciais, mais cinco empreendimentos turístico com 3600 camas.

Recorde-se que a Catalunya Caixa entrou no capital da Lusort em 2006, através de uma parceria com o grupo imobiliário andaluz Prasa, a quem o empresário André Jordan vendeu a antiga Lusotur Imobiliária, por 360 milhões de euros. Este negócio, de 2004, também foi disputado pela Amorim Imobiliária e um consórcio liderado pelo grupo Espírito Santo (que incluía o Dutsche Bank e a espanhola Lar).

Quando os novos donos do empreendimento, em Setembro de 2015, apresentaram o “Master Plan” (plano de urbanização), o então CEO do Vilamoura World (VW), Paul Taylor traçou um cenário optimista, destacando que estavam “prontos para venda” 18 projectos, com áreas de desenvolvimento a variar entre os 1,5 e os 168 hectares, combinando usos residenciais, de lazer, de turismo e de retalho. Naquele dia, 8 de Setembro, abriram as vendas a nível mundial. O ex-ministro da Economia, Pires de Lima, acompanhado do embaixador dos EUA, Robert A. Sherman, destacou o peso que representavam os “mil milhões” na economia do país. Paul Taylor (proprietário do Monte da Quinta, situado na Quinta do Lago) baixou a fasquia. Em declarações aos jornalistas, à margem do evento, esclareceu que os mil milhões seriam o valor que resultaria dos investimentos do Lone Star, dos parceiros internacionais, mais os investidores interessados nos projectos. No final do ano passado, o CEO da Vilamoura World foi substituído pelo argentino Juan Gómez-Vega que, recentemente, viu o seu lugar ser ocupado pelo francês Dominique Cressot. 

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