O grupo AMAL – Construções Metálicas SA e o fundo de capital risco gerido pela OxyCapital compraram os Estaleiros Navais de Peniche nos quais esperam investir 15 milhões de euros nos próximos cinco anos, criando cerca de 300 postos de trabalho.

Fonte oficial do grupo disse ao PÚBLICO que o objectivo é manter a actividade da construção e reparação naval naqueles estaleiros, mas neles incorporar também aquilo que é a actividade principal da AMAL – a construção de estruturas modulares para explorações de petróleo e de gás.

Este grupo já opera neste mercado há vários anos, tendo projectos no Brasil, França, Angola, Moçambique, Guiné Equatorial, Nigéria, Camarões, norte de África, Líbia, Eslováquia e Perú.

A OwyCapital é um fundo de capital risco que detém os grupos Cabelte, Prio Energy, Mota e Piedade.

O investimento a realizar em Peniche inclui a adaptação dos estaleiros para a sua nova vocação, mas antes de aumentar o número de trabalhadores, é provável que os postos de trabalho actuais ainda diminuam. No ano passado os Estaleiros Navais de Peniche tinham 110 colaboradores, número que agora é de apenas 60. A salvo estarão os que tratam directamente com a actividade da construção e reparação naval.

A mesma fonte diz que os estaleiros irão construir embarcações para a pesca do cerco em Angola, mas que, numa primeira fase, será necessário “limpar” as instalações, modernizando-as e reintroduzindo programas de manutenção. A continuação do projecto Wave Roller, no qual a empresa participou na construção de módulos de produção de energia a partir das correntes submarinas, está também no horizonte.

O passivo dos Estaleiros Navais de Peniche é de 14 milhões de euros. A empresa tem dívidas a fornecedores, à Docapesca (pela utilização do espaço portuário), ao fisco e à Segurança Social.

Carlos Mota, o até agora principal accionista da empresa, vende a totalidade da sua posição por zero euros. Na prática, os novos proprietários assumem as dívidas e mantém a empresa, incluindo o seu nome.

Este empresário disse ao PÚBLICO que o estaleiro ainda tem em construção uma embarcação para Angola e detém alguma actividade de reparação. E explica a situação actual pela crise e pela falta de um mercado em Portugal para a reparação naval. Por outro lado “na competição internacional temos limitações a nível logístico porque não podemos competir com os grandes estaleiros da Holanda ou da Alemanha que têm tudo à sua volta”.

O empresário disse ainda que o pais não dispõe de uma boa diplomacia económica nem de “instituições financeiras portuguesas com a mesma capacidade das europeias para apoiar o sector naval”.

Para Carlos Mota, compete agora aos novos accionistas prosseguir com a exploração da empresa nesta actividade. Esta é também a tónica do presidente da Câmara de Peniche, António José Correia, que releva o facto de a actividade da empresa só continuar a fazer sentido naquele espaço (concessionado pela Docapesca) se for para construção e reparação naval.

“Não pode ir para outra actividade. Não pode ser apenas uma metalomecânica pois o contrato de concessão só faz sentido se continuar a ser estaleiro naval”, disse ao PÚBLICO.

Questionado sobre a inexistência desta actividade no grupo comprador, o autarca disse que também a Martifer não tinha tradição na área da construção naval e acabou por entrar nos estaleiros de Viana do Castelo. Está, pois, confiante nesta aposta, com a qual está de acordo, até porque “os políticos que agora tomaram estas decisões não quererão ficar expostos a que um dia o estaleiros passem a ter outra actividade”.

Num comunicado divulgado na sexta-feira, o secretário de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu, dizia que este “é um projecto que se integra plenamente na Estratégia Nacional para o Mar e que constitui um sinal de determinação do governo em valorizar os investimentos estratégicos para o desenvolvimento da economia do mar em Portugal”.