A Europa está a acelerar. Conseguirá Portugal ir atrás?

Nos últimos meses de 2016 os indicadores económicos na zona euro surpreenderam pela positiva. Portugal beneficia com a melhoria das exportações, mas pode perder se o BCE decidir mudar de rumo.

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Saldos em Berlim. A Alemanha cresceu em 2016 ao ritmo mais alto em cinco anos LUSA/OLIVER WEIKEN

Confiança dos consumidores no valor mais alto desde 2011, empresas a darem sinais de que estão dispostas a investir, actividade na indústria a acelerar e governos a falarem de descida de impostos. De repente, aquele que era ainda um cenário económico bastante sombrio na zona euro há poucos meses atrás parece ter desanuviado no arranque de 2017.

Os sinais mais evidentes são provenientes da Alemanha. Esta quinta-feira, o instituto de estatísticas alemão anunciou que, durante o ano passado, a maior economia da zona euro cresceu 1,9%. Este número representa uma aceleração face aos 1,7% de 2015, é o melhor resultado dos últimos cinco anos e, muito importante, constituiu uma surpresa para os analistas que estavam à espera de uma taxa de 1,8%.

Isto significa que a Alemanha acelerou mais do que o previsto no último trimestre do ano passado, com um crescimento em cadeia de 0,5%, depois de apenas 0,2% no terceiro trimestre. A situação na Alemanha parece de tal modo folgada que Wolfgang Schäuble, depois de anunciar um excedente orçamental de 6200 milhões de euros em 2016, afirmou que na próxima legislatura (que se inicia no final deste ano) é “possível e necessária” uma descida dos impostos no país.

Não é só na Alemanha, contudo, que esta tendência positiva na actividade económica se faz sentir. Mesmo em países que têm registado persistentes dificuldades em colocar a economia a um ritmo elevado, como a Itália, estão a surgir sintomas de recuperação.

E a nível global na zona euro têm vindo esta semana a ser divulgados vários indicadores encorajantes. A confiança dos consumidores na zona euro subiu em Dezembro para o valor mais alto desde 2011, mostrando que as expectativas dos europeus são agora bem mais positivas. E a actividade na indústria garantiu também em Dezembro a sua quinta subida mensal consecutiva.

Perante estes resultados, a questão que se coloca em Portugal - que no terceiro trimestre do ano bateu mesmo as previsões mais optimistas - é se a economia nacional será capaz de aproveitar este ambiente positivo que se vive no resto na Europa ou, se pelo contrário, não será capaz de se libertar dos seus próprios entraves internos ao crescimento.

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O contributo positivo da Europa é dado directamente por via das exportações e, a este nível, parece haver indicações de que Portugal estará já a conseguir aproveitar a viragem na economia. De acordo com os dados publicados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística, as exportações de bens portuguesas registaram em Novembro o melhor resultado desde o início do ano, com um crescimento face ao mesmo período do ano passado de 7,6% (nos primeiros 11 meses o crescimento foi perto de zero).

Este é um resultado que bate certo com aquilo que se está a observar na economia da zona euro. Afinal de contas, é aí que Portugal tem os seus principais clientes. Em Espanha, Alemanha e França – três países que contribuem para mais de metade das exportações nacionais – registou-se um crescimento das exportações de 8,7%, 5,6% e 1,8%, que ajudaram ao resultado global positivo.

É muito provável que, se a economia europeia continuar a acelerar, as exportações portuguesas acelerem também, dando um contributo importante para o desempenho económico do país.

O problema é que o crescimento da economia portuguesa não depende só, nem principalmente, das exportações. E há razões para temer que esta aceleração da economia europeia possa constituir por via indirecta um factor negativo para a evolução da procura interna do país.

Isto acontece por causa daquilo que poderá ser a resposta do Banco Central Europeu a esta nova conjuntura. Se a zona euro mostrar que a retoma é sustentável, isso dará mais argumentos aos que defendem que está a chegar a altura de a instituição liderada por Mario Draghi começar a retirar os estímulos monetários à economia. Principalmente porque, em simultâneo, a taxa de inflação na zona euro (e principalmente na Alemanha) subir de forma acentuada em Dezembro.

Para Portugal, um recuo mais rápido do que o previsto por parte do BCE, poderia ter consequências muito negativas na evolução da economia, tendo em conta o elevado nível de endividamento tanto do Estado, como das empresas e das famílias. A este nível, o que suceder a Portugal está, mais uma vez, dependente da forma como Mario Draghi irá reagir às pressões crescentes para que retire o pé do acelerador.

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