Activistas climáticas de 80 anos quebram vitrina da Magna Carta em Londres

Acção na Biblioteca Britânica foi feita por uma sacerdote anglicana e uma outra manifestante, em protesto contra os combustíveis fósseis, que foram detidos. “O Governo está a violar a lei”, disseram.

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Judy Bruce e Sue Parfitt, com um cartaz, depois de terem batido na vitrina da Magna Carta Just Stop Oil/REUTERS
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Duas manifestantes pelo clima, de 82 e 85 anos, partiram parte da vitrina reforçada que contém o texto original da Magna Carta na Biblioteca Britânica, em Londres, nesta sexta-feira, antes de serem detidos pelos seguranças. "O nosso Governo está a violar as suas próprias leis", afirmaram.

Num vídeo divulgado pela organização Just Stop Oil nas redes sociais, Sue Parfitt (82), sacerdote anglicana, segurava um cinzel sobre a caixa enquanto Judy Bruce (85) batia repetidas vezes com um martelo. ​Exigem ao Governo conservador britânico um plano para abandonar a exploração e uso de petróleo até 2030.

Parfitt ergueu então uma faixa com que dizia "O Governo está a violar a lei". "Como cristã, sinto-me compelida a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para aliviar o terrível sofrimento que se avizinha e que já existe... Temos de acabar com o petróleo", afirma Parfitt no videoclip.

"Quatrocentos cientistas renomados, que contribuem para os relatórios do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas [IPCC], dizem que estamos 'deploravelmente mal preparados' para aquilo que aí vem: um aquecimento global de 2,5 graus, por comparação com a temperatura da Terra antes da Revolução Industrial", diz Judy Brice, citada num comunicado de imprensa da Just Stop Oil.

Esta é uma referência a uma sondagem do jornal britânico The Guardian, publicada nesta semana, que mostra que 80% dos cientistas que a ela responderam esperam um aquecimento global acima dos valores máximos tolerados no Acordo de Paris. A partir de dois graus, as alterações climáticas tornar-se-ão verdadeiramente perigosas, é essa a ideia dominante na comunidade científica.

O documento histórico não foi danificado, segundo a Biblioteca Britânica. A Magna Carta data de Junho de 1215. Foi o primeiro documento a declarar por escrito o princípio de que o rei e o seu Governo não estão acima da lei. Tinha por objectivo evitar que o rei abusasse do seu poder, e impunha limites à autoridade real enquanto poder.

Existem apenas quatro textos originais da Magna Carta. Dois deles estão guardados na Biblioteca Britânica, um está na Catedral de Salisbury e o outro no Castelo de Lincoln.

A Polícia Metropolitana de Londres informou mais tarde que tinham detido duas pessoas por suspeita de danos criminais relacionados com o incidente.

O Reino Unido tem vindo a reprimir manifestações que perturbem a ordem pública, em especial de activistas que tentam chamar a atenção para a urgência de lidar com as alterações climáticas.

Há casos em que interromperam espectáculos desportivos, bloquearam o trânsito e chegaram a invadir a residência privada do primeiro-ministro Rishi Sunak, no ano passado, para cobrir a sua casa com tecido preto, em protesto contra a sua política petrolífera.

Em 2023, o Governo aprovou nova legislação que permite uma acção mais dura contra os protestos perturbadores.

O grupo Just Stop Oil tem-se destacado por acções que visam obras de arte e património para chamar a atenção para a urgência climática, como o ataque à pintura The Toilet of Venus (também conhecido como The Rokeby Venus), de Velázquez, na National Gallery, em Novembro de 2023, ou aos Girassóis, de Van Gogh, com sopa de tomate atirada contra a vitrina que a protegia, igualmente na National Gallery, em 2022.

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