Ex-assessor do Parlamento britânico acusado de espiar para a China

Dois homens vão responder em tribunal por alegada entrega de “artigos, notas, documentos e informações” que podem ser “úteis a um inimigo”. Um deles trabalhou para deputados do Partido Conservador.

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Christopher Cash teve acesso privilegiado à Câmara dos Comuns no Parlamento de Westminster, em Londres ANDY RAIN / EPA
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O Crown Prosecution Service (Ministério Público) de Inglaterra e do País de Gales acusou formalmente dois homens de nacionalidade britânica de espionagem a favor da República Popular da China. Um deles, Christopher Cash, foi assessor no Parlamento do Reino Unido, tendo feito investigação e trabalhado com deputados do Partido Conservador, actualmente no poder.

Cash, de 29 anos, e Christopher Berry, de 32, foram detidos no ano passado – o primeiro em Oxfordshire (Inglaterra) e o segundo em Edimburgo (Escócia) – por suspeitas de espionagem para o Estado chinês, tendo sido libertados sob fiança. Terão de comparecer em tribunal nesta sexta-feira, revelou a procuradoria-geral num comunicado.

Segundo a imprensa britânica, que cita o Crown Prosecution Service e a Polícia Metropolitana de Londres, os dois arguidos são acusados ao abrigo da Lei dos Segredos Oficiais por “obtenção, recolha, gravação, publicação e comunicação” de “artigos, notas, documentos e informações” para um “Estado estrangeiro”, que podem ser “prejudiciais à segurança e aos interesses do Estado” britânico e ser “directa ou indirectamente úteis a um inimigo”.

Em resposta, a embaixada da China no Reino Unido diz que quaisquer denúncias sobre uma alegada tentativa de Pequim para ter acesso a informação confidencial britânica são “totalmente fabricadas”.

“Opomo-nos firmemente e apelamos ao Reino Unido para pôr fim à manipulação política anti-China e para deixar de encenar esta farsa política”, criticou um porta-voz da representação diplomática chinesa em Londres, citado pela Reuters.

Cash é acusado de ter levado a cabo as alegadas práticas criminosas entre 20 de Janeiro de 2022 e 3 de Fevereiro de 2023 e Berry é acusado de o ter feito entre 28 de Dezembro de 2021 e 3 de Fevereiro de 2023.

O ex-assessor parlamentar trabalhou para o China Research Group, um grupo composto por deputados conservadores e co-fundado pelo actual secretário de Estado da Segurança e antigo candidato à liderança do Partido Conservador, Tom Tugendhat, para “promover debates e novas formas de pensar sobre como o Reino Unido deve responder à ascensão da China”.

Para além de ter tido acesso privilegiado à Câmara dos Comuns, o Times diz que Cash fez trabalho de investigação para Alicia Kearns, deputada e actual presidente da comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros da câmara baixa do Parlamento de Westminster.

Citada pela Sky News, a deputada tory reagiu às notícias sobre as acusações de Cash e de Berry explicando que uma vez que está em causa um “julgamento penal relacionado com uma questão de segurança nacional”, não pode fazer “mais comentários” sobre o caso.

Descrevendo a investigação a Christopher Cash e a Christopher Berry como “extremamente complexa”, o comandante Dominic Murphy, responsável máximo pela unidade antiterrorista da Polícia Metropolitana, admitiu que o caso “suscitou um certo interesse por parte do público e dos meios de comunicação social”, mas apelou à abstenção de “quaisquer comentários ou especulações”, para que o “processo criminal possa agora seguir o seu curso.”

Há cerca de um mês, o primeiro-ministro conservador, Rishi Sunak, já tinha rotulado o regime chinês como a “maior ameaça estatal” ao Reino Unido, na sequência de uma acusação – negada pelas autoridades chinesas – do Governo britânico contra Pequim, relacionada com uma série de alegados ataques informáticos, ocorridos em 2021, que terão exposto os dados pessoais de mais de 40 milhões de eleitores britânicos.

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