Apenas 57 produtores são responsáveis por 80% das emissões de C02 no mundo

Desde o Acordo de Paris, Saudi Aramco, Coal India e a Gazprom foram as empresas de combustíveis que mais emitiram gases com efeito de estufa. Mas são os Estados que mais investem no carvão.

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Exploração da SaudiAramco no Iraque - esta é uma das petroliferas que mais emitiram desde 2016 Essam Al-Sudani/REUTERS
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Apenas 57 entidades que produzem combustíveis fósseis e cimento são responsáveis por 80% das emissões de dióxido de carbono (CO2) que contribuem para o aquecimento global do planeta desde 2016, quando entrou em vigor o Acordo de Paris.

O relatório Carbon Majors, do grupo de reflexão sem fins lucrativos InfluenceMap, divulgado nesta quinta-feira online, identifica estas 57 entidades, que incluem Estados-nação, empresas estatais e companhias detidas por investidores privados. Juntos, produziram 80% das emissões mundiais de CO2 provenientes de combustíveis fósseis e da produção de cimento, que detêm a parte de leão dos gases com efeito de estufa.

As três maiores empresas emissoras de CO2 do mundo entre 2016 e 2022, o período analisado, foram a empresa petrolífera estatal Saudi Aramco, o gigante energético estatal russo Gazprom e o produtor estatal Coal India, segundo o relatório.

A Saudi Aramco não quis comentar. A Coal India e a Gazprom não responderam imediatamente aos pedidos de comentário.

O relatório concluiu que a maioria das empresas expandiu a sua produção de combustíveis fósseis desde 2015, ano em que quase todos os países assinaram o Acordo de Paris das Nações Unidas, comprometendo-se a tomar medidas para travar as alterações climáticas. O Acordo entrou em vigor em Novembro de 2016.

Desde então, embora muitos governos e empresas tenham estabelecido objectivos de emissões mais rigorosos e expandido rapidamente as energias renováveis, também produziram e queimaram mais combustíveis fósseis, provocando o aumento das emissões.

As emissões globais de CO2 relacionadas com a produção energética atingiram um nível recorde no ano passado, segundo a Agência Internacional da Energia.

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A produtora de gás russa Gazprom continua a ser uma das maiores emissoras de gases com efeito de estufa Alexander Demianchuk/REUTERS

Os dados usados pelo grupo InfluenceMap traçam o retrato das emissões de gases com efeito de estufa de 1854 a 2022, mas o objecto desta análise concentrou-se no que se passou desde a assinatura do Acordo de Paris. A conclusão foi que um grupo relativamente pequeno de emissores responde pela maior parte das emissões de CO2 que estão a acontecer.

A responsabilidade dos Estados

Numa análise histórica, empresas exploradoras de combustíveis fósseis detidas por investidores privados, como a Chevron, ExxonMobil e a BP, foram as que mais contribuíram para lançar para atmosfera gases com efeito de estufa (31%, ou 440 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente — GtC02e).

Mas as empresas petrolíferas estatais, e os Estados-nação exploradores de petróleo, emitiram ainda mais. A Saudi Aramco, a Gazprom russa e a Empresa Nacional Iraniana de Petróleo são responsáveis por 33% das emissões históricas (465 GtC02e).

A China, devido essencialmente à sua produção de carvão, e a ex-União Soviética respondem por 36% dos gases de estufa lançados para a atmosfera desde a Revolução Industrial.

O padrão dos maiores poluidores continuou, no entanto, a verificar-se entre 2016 e 2022: os Estados-nação continuam a ser os maiores emissores (38%), seguidos das empresas estatais (35%) e finalmente das empresas privadas (25%). Mas têm sido as empresas, tanto estatais como privadas, a aumentar mais o investimento em energias fósseis desde a assinatura do Acordo de Paris, com um crescimento mais pronunciado na Ásia e no Médio Oriente.

Houve uma alteração no padrão de exploração do carvão: registou-se uma transferência do investimento neste combustível fóssil das empresas privadas para os Estados-nação e empresas estatais, com o consumo global de carbono a aumentar quase 8% entre 2015 e 2022, ano em que atingiu um valor recorde 8,3 mil milhões de toneladas.

No entanto, as emissões de CO2 de empresas detidas por investidores privados relacionadas com o carvão diminuíram 28% neste período; as de empresas estatais aumentaram 29% e dos Estados-nação 19%.

O objectivo deste relatório é aumentar a transparência dos governos e empresas que contribuem para as alterações climáticas. "O trabalho pode ter uma grande variedade de utilizações, desde processos legais que procuram responsabilizar estes produtores por danos climáticos, académicos que tentam quantificar as suas contribuições, ou por grupos de campanha, ou mesmo por investidores", disse sobre o relatório Daan Van Acker, director do Programa InfluenceMap.

Uma edição anterior da base de dados Carbon Majors foi citada no mês passado num processo judicial interposto por um agricultor belga contra a empresa francesa de petróleo e gás Total Energies. O agricultor argumentou que, sendo uma das 20 maiores empresas emissoras de CO2 do mundo, a Total Energies era parcialmente responsável pelos danos causados às suas actividades por condições meteorológicas extremas.

A base de dados foi lançada pela primeira vez em 2013 pela organização de investigação sem fins lucrativos Climate Accountability Institute. Combina dados de produção de carvão, petróleo e gás comunicados pelas próprias empresas com fontes como a Administração de Informação sobre Energia dos EUA, associações mineiras nacionais e outros dados do sector. Carroll Muffett, director executivo do Centro de Direito Ambiental Internacional, sem fins lucrativos, afirmou que a base de dados permitiria melhorar a capacidade dos investidores e dos litigantes para acompanharem as acções das empresas ao longo do tempo. com Reuters

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