Casa Branca dá instruções à NASA para criar tempo-padrão para a Lua

A criação do Tempo Lunar Coordenado será importante para segurança da transferência de dados entre as naves espaciais, bem como a sincronização das comunicações entre a Terra e os astronautas na Lua.

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A Lua fotografada pelo astronauta da NASA Randy Bresnik a partir da Estação Espacial Internacional em Augusto de 2017 NASA/Reuters
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A Casa Branca ordenou à agência espacial norte-americana NASA que estabelecesse um padrão unificado de tempo para a Lua e outros corpos celestes, numa altura em que os Estados Unidos pretendem estabelecer normas internacionais no espaço, no meio de uma crescente corrida lunar entre nações e empresas privadas.

O chefe do Gabinete de Política Científica e Tecnológica da Casa Branca (OSTP, na sigla em inglês), de acordo com um memorando visto pela agência Reuters, instruiu a NASA a trabalhar com outras entidades do governo dos Estados Unidos para elaborar um plano até o final de 2026 para definir o que designou por Tempo Lunar Coordenado (LTC, na sigla em inglês).

As diferenças de força gravitacional, e potencialmente outros factores, na Lua e noutros corpos celestes alteram a forma como o tempo se desenrola relativamente à forma como é percepcionado na Terra. Entre outras coisas, o LTC forneceria uma referência de tempo para as naves espaciais e satélites lunares que requerem extrema precisão para as suas missões.

“O mesmo relógio que temos na Terra mover-se-ia a uma velocidade diferente na Lua”, disse Kevin Coggins, chefe de comunicações espaciais e navegação da NASA, numa entrevista.

O memorando do chefe do OSTP, Arati Prabhakar, dizia que, para uma pessoa na Lua, um relógio que esteja na Terra pareceria perder, em média, 58,7 microssegundos por dia terrestre e apresentaria outras variações periódicas que afastariam ainda mais o tempo lunar do tempo terrestre.

“Pensem nos relógios atómicos do Observatório Naval dos EUA, em Washington. Eles são o batimento cardíaco da nação, sincronizando tudo. Vamos querer um batimento cardíaco na Lua”, disse Kevin Coggins.

No âmbito do seu programa Artémis, a NASA tem como objectivo enviar missões de astronautas à Lua nos próximos anos e estabelecer uma base lunar científica que poderá ajudar a preparar o terreno para futuras missões a Marte. Dezenas de empresas, naves espaciais e países estão envolvidos neste esforço.

Um funcionário do OSTP afirmou que, sem um padrão lunar unificado, seria difícil garantir a segurança da transferência de dados entre as naves espaciais, bem como a sincronização das comunicações entre a Terra, os satélites lunares, as bases lunares e os astronautas.

As discrepâncias no tempo também podem levar a erros no mapeamento e na localização de posições na Lua ou na sua órbita, disse o funcionário.

“Que perturbador”

“Imaginem se o mundo não estivesse a sincronizar os seus relógios à mesma hora –​ quão perturbador isso poderia ser e quão desafiantes se tornariam as coisas do dia-a-dia”​, disse o funcionário.

Na Terra, a maioria dos relógios e fusos horários são baseados no Tempo Universal Coordenado, ou UTC. Esta norma, reconhecida internacionalmente, assenta numa vasta rede global de relógios atómicos colocados em diferentes locais do mundo. Estes relógios medem as alterações no estado dos átomos e geram uma média que, em última análise, constitui uma hora exacta.

A instalação de relógios atómicos na superfície lunar pode ser necessária, de acordo com o funcionário do OSTP.

O funcionário disse ainda que, à medida que as actividades comerciais se expandem para a Lua, um padrão de tempo unificado será essencial para coordenar as operações, garantir a fiabilidade das transacções e gerir a logística do comércio lunar.

Em Janeiro, a NASA anunciou que agendou para Setembro de 2026 a sua primeira aterragem lunar com astronautas desde o fim do programa Apolo, na década de 1970, estando prevista para Setembro de 2025 uma missão com quatro astronautas à volta da Lua e de regresso.

Embora os Estados Unidos sejam o único país que colocou astronautas na Lua, outros têm ambições lunares. Os países estão de olho nos potenciais recursos minerais da Lua e as bases lunares poderão ajudar a apoiar futuras missões tripuladas a Marte e a outros locais.

A China afirmou no ano passado que tem como objectivo colocar os seus primeiros astronautas na Lua até 2030. Em Janeiro, o Japão tornou-se o quinto país a colocar uma nave espacial na Lua. No ano passado, a Índia tornou-se o primeiro país a aterrar uma nave espacial perto do pólo Sul lunar inexplorado e anunciou planos para enviar um astronauta à Lua até 2040.

A liderança dos EUA na definição de um padrão adequado – um padrão que atinja a precisão e a resiliência necessárias para operar no desafiante ambiente lunar – beneficiará todas as nações que se dedicam às viagens espaciais”, afirma o memorando do OSTP.

A definição da forma como o Tempo Lunar Coordenado será aplicado exigirá acordos internacionais, diz o memorando, através de "organismos de normalização existentes" e entre as 36 nações que assinaram um pacto chamado Acordos Artémis envolvendo a forma como os países actuam no espaço e na Lua. A China e a Rússia, os dois principais rivais dos Estados Unidos no espaço, não assinaram os Acordos Artémis.

O Tempo Universal Coordenado (UTC) poderá influenciar a forma como o Tempo Lunar Coordenado será implementado, afirmou o funcionário do OSTP. A União Internacional de Telecomunicações das Nações Unidas define o Tempo Universal Coordenado como uma norma internacional.

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