Estes “códigos de barras” das abelhas podem ajudar a monitorizá-las

Uma equipa de cientistas está a desvendar ADN de abelhas ibéricas para facilitar a sua monitorização. Em Portugal, já são conhecidos 91% dos códigos de barras destes polinizadores.

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Existem mais de 700 espécies de abelhas em Portugal Miguel Manso
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BIOPOLIS/DR
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Desvendar códigos de barras de ADN de abelhas pode ser um passo na preservação da sua diversidade. Os dados publicados este mês por uma equipa internacional de investigadores contam com 514 e 1059 exemplares de espécies identificadas. As espécies incluídas “representam cerca de 47% da diversidade de espécies de abelhas ibéricas e 21% da diversidade de espécies endémicas”, revela o Biopolis em comunicado. Tudo isto pode ajudar a monitorizar as populações de abelhas, sobretudo a nível europeu.

No que diz respeito a Portugal, já se conhecem os códigos de barras de ADN de 91% das espécies de abelhas e o objectivo é continuar a trabalhar para alcançar os 9% que faltam. Além disso, outro dos propósitos é também “descobrir e descrever novas espécies para a ciência”, conta Sónia Ferreira, investigadora do Biopolis/CIBIO-InBIO, ao PÚBLICO.

Este projecto surgiu a par com outros projectos europeus focados em polinizadores que foram alavancados pelo lançamento de uma iniciativa da Comissão Europeia para proteger os polinizadores europeus.

Os resultados que a equipa agora publica “são uma ferramenta de trabalho para possibilitar a execução de monitorizações, precisamente para conseguirmos ter mais ferramentas disponíveis para monitorizar as populações a nível europeu”, explicou a investigadora ao PÚBLICO.

Sónia Ferreira diz que a equipa necessita dos “códigos de barras, das sequências do ADN, para poder realizar monitorizações com base em análises moleculares” e “identificar quais as espécies e tornar os processos de monitorização muito mais automatizados”.

E o que são estes códigos de barras de ADN? “São sequências curtas de material genético (os nucleótidos do ADN) que permitem distinguir as espécies, tal como os códigos de barras permitem distinguir os produtos nos supermercados”, exemplifica o Biopolis no comunicado enviado às redacções.

A importância das abelhas para a biodiversidade

“A Península Ibérica é reconhecida como um hotspot global para a diversidade de abelhas na bacia do Mediterrâneo. Mais de 1100 espécies de abelhas são encontradas neste território, o que corresponde aproximadamente a 5% das 20 mil espécies conhecidas globalmente”, afirma o Biopolis.

Mais ainda: cerca de 100 destas espécies são endémicas, isto é, restringem-se a uma determinada área e não podem ser encontradas em mais lugar nenhum do mundo.

As abelhas são um dos insectos polinizadores mais conhecidos e desempenham um papel fundamental neste sentido. Sónia Ferreira recorda que, em Portugal, existem mais de 700 espécies de abelhas e que assegurar a existência de comunidades saudáveis é muito importante.

Apesar da existência essencial das abelhas, a investigadora realça que “não devemos pensar que as abelhas são os únicos polinizadores e que assegurarmos a conservação das abelhas é suficiente para garantir a polinização de todas as plantas”.

Sónia Ferreira diz que é muito importante que todas as diferentes espécies sejam conservadas e que permaneçam nos ecossistemas, até porque fazem a polinização de formas diferentes. Se as abelhas dependem das plantas, há também plantas que dependem da polinização destes insectos e, desta forma, “a sua reprodução fica automaticamente comprometida se houver uma diminuição das abelhas ou mesmo o seu desaparecimento”.

Deixar a relva crescer pode ajudar

Neste momento, “as abelhas enfrentam diversas ameaças”, mas há acções humanas simples que podem contribuir para a regressão deste perigo. “As nossas escolhas são muito importantes, desde coisas tão simples, ou aparentemente tão simples, como a manutenção dos nossos jardins, a diversidade de plantas [que lá temos], manter ou deixar o relvado crescer”, tudo isto são comportamentos na manutenção dos jardins que permitem às plantas formar flor e semente.

Além disso, “escolher plantas para os jardins adequadas ao local onde habitamos e aos regimes hídricos, mas, acima de tudo, fomentar a diversidade nos nossos jardins” e ter em atenção as escolhas que fazemos como consumidores são igualmente factores importantes, considera a investigadora.

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Já são conhecidos os códigos de barras do ADN de 91% de espécies de abelhas em Portugal BIOPOLIS

Existem aspectos relativos ao comportamento do consumidor que recaem sobre a opção por determinados produtos e que “estão mais relacionados com a utilização de agro-químicos, onde é que os produtos são produzidos, como são produzidos”. “É extremamente importante termos o máximo de informação e fazermos escolhas mais responsáveis”, apela a investigadora do Biopolis/CIBIO-InBIO.

Sónia Ferreira afirma que “é preciso descobrir muito mais e estudar muito melhor a distribuição das abelhas, mas também em que tipo de habitats se encontram e a que plantas estão associadas”.

“Sabemos muito pouco da ecologia destas espécies e das ligações, que potencialmente podem ser muito frágeis mas que nós desconhecemos, entre algumas espécies de abelhas e as espécies de plantas que podem estar dependentes delas. Há muito a trabalhar no que respeita à distribuição, ecologia e interacções planta-insecto”, assegura. E este projecto que desvenda códigos de barras genéticos é um passo nessa direcção.


Texto editado por Claudia Carvalho Silva

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