Projecto BeeLand quer preservar as abelhas e recuperar estatuto do mel em Portugal

O objectivo é estudar o sector e mudanças provocadas por factores como as alterações climáticas, os incêndios ou a seca, e procurar soluções para as novas realidades. Portugal tem nove regiões DOP.

Foto
Projecto quer aumentar as vendas do mel com Denominação de Origem Protegida Giovanni Bortolani/GettyImages

Um novo projecto propõe-se estudar e procurar soluções para preservar as abelhas e recuperar o estatuto do mel em Portugal, com perto de um milhão de euros para várias acções apresentadas esta segunda-feira, em Mirandela, no distrito de Bragança.

O projecto, denominado BeeLand, é financiado pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) e envolve 16 parceiros entre empresas, academia e organizações do sector apícola, com um prazo de execução até 2025.

O propósito, como foi esta segunda-feira anunciado, em Mirandela, é estudar o sector e as mudanças provocadas por factores como as alterações climáticas, os incêndios ou a seca, e, desta forma, procurar soluções para as novas realidades que acarretam, nomeadamente ao nível dos méis portugueses com Denominação de Origem Protegida (DOP).

Portugal tem nove regiões DOP onde o mel produzido obedece a uma série de regras definidas há 30 anos e que não se adequam aos tempos actuais com mudanças, nomeadamente ao nível da vegetação, que altera a cor e sabor, como explicaram os responsáveis pelo projecto.

Muitos apicultores não conseguem cumprir os requisitos e o mel certificado tem vindo a perder terreno, com uma queda de cerca de 450 mil quilos em 2010 para 15 mil quilos em 2020, embora a produção total nacional de mel tenha aumentado até 2019.

Os dados foram avançados por Cristofe Espírito Santo, do Centro Nacional de Competências da Apicultura e Biodiversidade, uma das entidades envolvidas no projecto BeeLand. "A culpa não é do apicultor, nem das abelhas", enfatizou, explicando que uma das prioridades do projecto é actualização do caderno de encargos dos méis DOP, para que respondam às condições actuais.

Além disso, "os DOP indicam tradicionalidade do produto, mas a tecnologia evoluiu". "Hoje esses méis são feitos com a mesma qualidade mas 30 anos de experiência", nota o presidente da Federação Nacional de Apicultores de Portugal, Manuel Gonçalves.

"Estamos a aperceber-nos que vamos ter que valorizar os nossos méis DOP de produção biológica para conseguirmos manter-nos no mercado. O nosso mercado é o das lojas de produto de qualidade e das lojas de bairro, não é para a grande distribuição", afirmou.

Foto
Foto
Foto

A federação, também parceira do projecto, destaca que, "neste momento, com a grande transformação que está a acontecer na agricultura, com a plantação de espécies que necessitam de polinização, as condições climáticas, a procura de polinização de abelhas, é necessário começar a ordenar o território".

Para o efeito, defende que é preciso criar em Portugal "uma bolsa de polinização para em qualquer momento estar disponível e organizar o sector" fazendo com que, em situações de crise como a actual, não haja quebras.

Os apicultores falam de um dos piores anos de sempre para a produção, com quebras de 80% num sector que não conseguiu recuperar a tempo das sequelas deixada nas colmeias pela seca de 2022.

O projecto BeeLand procurará saber "se nas nove regiões DOP a caracterização do mel se mantém igual ou se houve alteração" devido, por exemplo, à mudança de vegetação, com plantas que desaparecem e invasoras que se instalam.

Outro objectivo é fazer crescer a comercialização dos méis DOP, concretamente "que os produtores consigam que pelo menos 50% da sua produção seja vendida em locais onde tenha uma mais-valia". O representante dos apicultores considerou ainda ser imperioso criar em Portugal uma "bolsa de polinizadores para responder à muita procura", que actualmente está a recorrer a estrangeiros.

O trabalho das abelhas assegura "a maior parte dos alimentos", como salientou Cristofe Espírito Santo, apontando que o projecto BeeLand visa "apoiar, dar inovação e dinamizar o sector através da regeneração de áreas ardidas, actualização dos cadernos de encargos das DOP e criação de plataformas digitais que sirvam de repositório de informação de trabalhos científicos, investigação aplicada, casos concretos/reais".

O projecto prevê ainda o desenvolvimento de métodos rápidos para análise de mel e a instalação no pólo de inovação da Direcção Regional de Agricultura, em Mirandela, de campos experimentais para regenerar áreas incultivável com espécies autóctones, como rosmaninho, urze, para aumentar os efectivos de abelhas e ajudar a polinização desta área".

"Os resultados que vão ser obtidos aqui, depois também podem ser replicados noutros pontos do país ou mesmo aplicados noutras explorações", afirmou.

Em Janeiro, a Comissão Europeia apresentou as várias medidas de um plano que também quer ajudar a inverter o declínio das abelhas até 2030. O plano de sete anos prevê aumentar a monitorização dos insectos nos 27 estados membros, visando travar o declínio populacional de polinizadores que são cruciais para a maioria das culturas e flores silvestres.

A alteração do uso da terra, a agricultura intensiva com pesticidas, a poluição, espécies exóticas invasoras, agentes patogénicos e alterações climáticas estão entre as ameaças que os insectos polinizadores enfrentam.

A iniciativa "Novo Pacto para os Polinizadores" visa combater o declínio alarmante dos insectos polinizadores selvagens na Europa e vem complementar a proposta da Comissão, de Junho de 2022, relativa à criação de um Regulamento Restauração da Natureza, integrando a Estratégia de Biodiversidade 2030 e do Pacto Ecológico Europeu.

Sugerir correcção
Comentar