A primeira vacina para abelhas está a caminho. São boas notícias para insectos e humanos

Os insectos polinizadores, como as abelhas, são vitais para a segurança alimentar. “Estamos prontos para mudar a forma como cuidamos dos insectos”, diz a empresa responsável pela vacina.

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A vacina é produzida pela Dalan Animal Health, empresa norte-americana de biotecnologia Heinz-Peter Bader

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos concedeu, esta quarta-feira, uma autorização condicional para o uso de uma vacina para proteger abelhas da loque americana, uma doença bacteriana que é mortal e que, uma vez infectando uma larva de abelha, rapidamente pode comprometer as restantes crias da colónia. Esta é uma boa notícia não só para insectos, mas também para humanos: as abelhas são insectos polinizadores e a polinização é essencial para a segurança alimentar.

A vacina é da Dalan Animal Health, uma empresa norte-americana de biotecnologia, e deverá proteger espécies de abelha do género Apis, conhecidas pela sua produção de mel.

Para apicultores, este é um “entusiasmante passo em frente”. Neste momento, a única (e polémica) forma de tentar combater a propagação da loque americana é administrar antibióticos que são pouco eficazes e cuja aplicação em toda a colmeia é um processo que exige dos apicultores bastante “tempo e energia”, disse Trevor Tauzer, da Associação de Apicultores do Estado da Califórnia, num comunicado de imprensa desta cooperativa agrícola sobre a vacina.

“O tratamento com antibióticos não é solução. Os antibióticos não são eficazes sobre os esporos [bacterianos], que são altamente resistentes. Na União Europeia não existem medicamentos veterinários autorizados para o tratamento da loque americana”, alertava, no final de 2020, a Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV).​

De volta à vacina. Composta por partes da bactéria, ela é “incorporada na geleia real”, a secreção cremosa que as abelhas operárias dão de comer à rainha da colónia. “Ela ingere-a e são depositados fragmentos da vacina nos seus ovários. As larvas em desenvolvimento, tendo sido expostas à vacina, têm imunidade” quando atingem a fase adulta, explica a Dalan Animal Health.

“Estamos prontos para mudar a forma como cuidamos dos insectos” e ter um impacto positivo na produção alimentar “a uma escala global”, disse, citada pelo jornal britânico The Guardian, Annette Kleiser, responsável pela empresa norte-americana de biotecnologia.

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As abelhas são importantes para a polinização Miguel Manso

A vontade de desenvolver mais vacinas

Há já vários anos que esta vacina oral para proteger abelhas vinha a ser desenvolvida. O trabalho estava a ser levado a cabo sobretudo por duas investigadoras finlandesas: Dalial Freitak e Heli Salmela. Freitak integra a equipa da Dalan Animal Health desde o final de 2018.

“Actualmente, não há cura para a loque americana”, que é provocada pelo microorganismo Paenibacillus larvae e que, quando aparece, leva a que os apicultores “destruam e queimem quaisquer colónias infectadas”, escreve o The Guardian.

Estudos feitos recentemente para testar a eficácia da vacina concluíram que rainhas com a vacina eram mais resistentes à infecção e conseguiam também passar esta protecção para os seus ovos.​

Citada pelo portal de notícias Axios, a Dalan Animal Health diz querer criar outras vacinas para proteger abelhas — e também vacinas que possam ser dadas a outros animais, como camarões, larvas-da-farinha (animais que ainda não atingiram a fase adulta, mas que já saíram da fase de ovo) e “insectos usados na agricultura”.

Os insectos polinizadores transportam pólen de flor em flor, permitindo com isto a fecundação de plantas. São, portanto, de uma importância imensa para agricultores — e para o resto do planeta, que precisa de uma boa produção agrícola para ter segurança alimentar.

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