Dois primeiros-ministros em Bruxelas

O futuro do PS está intimamente ligado ao que se vier a passar em “Bruxelas”. E isso vale para Pedro Nuno Santos, mas vale também para António Costa, que já se despediu dos seus homólogos europeus.

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Cruzaram-se em Bruxelas, nesta quarta-feira, os dois primeiros-ministros de Portugal — o cessante e o indigitado. António Costa e Luís Montenegro tomaram um café na cidade que, daqui a poucos meses, será simbolicamente a sede da nova disputa eleitoral e da próxima prova de fogo para o líder do futuro governo, mas sobretudo para o da oposição.

Sobre este último, uma observação muito rápida. A nota emitida pela Presidência da República para anunciar a indigitação do chefe do novo executivo tinha um detalhe inédito: formalizava também o papel de Pedro Nuno Santos enquanto líder da oposição, ao sublinhar, numa frase, que o socialista havia “reconhecido e confirmado” que desempenharia essa função.

Nunca antes esta ideia fora reforçada numa nota da Presidência (tal não aconteceu na maioria absoluta de 2022 nem no Governo minoritário de 2019). Se Marcelo Rebelo de Sousa achou por bem fazê-lo agora é porque quererá evitar que a liderança da oposição seja assumida por outra figura e, em simultâneo, inviabilizar a criação de um bloco central que, se existisse, poria outra força política no lugar de Governo-sombra.

De regresso a Bruxelas, é preciso dizer que as eleições de Junho serão, afinal, muito mais interessantes para a política interna do que se esperava antes de as legislativas estarem no nosso horizonte.

Quando António Costa ainda não se tinha demitido, as europeias eram entendidas como um teste intermédio à governação do PS e um primeiro ensaio para Luís Montenegro. Agora, com a AD no Governo e Pedro Nuno Santos na oposição, a votação para o Parlamento Europeu mudou de perfil e transformou-se num desafio para o presidente do PSD (de quem se espera que confirme a vitória e até melhore o resultado) e numa prova que o líder do PS tem mesmo de superar.

Se à derrota nas legislativas se seguir outra nas europeias (nesta altura ainda não é certo se haverá também regionais na Madeira), conseguirá Pedro Nuno Santos angariar capital político para desafiar Luís Montenegro num momento mais frágil de governação? Estará em condições de inviabilizar, por exemplo, o primeiro Orçamento do Estado da AD?

O futuro do PS está intimamente ligado ao que se vier a passar em “Bruxelas”. E isso vale para Pedro Nuno Santos, mas vale também para António Costa, que esta semana se despediu dos seus homólogos europeus sem nada deixar escapar sobre uma eventual dança de cadeiras que o possa envolver.

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