Rússia e China vetam resolução americana para cessar-fogo em Gaza

França anuncia que irá apresentar um novo texto. Moscovo e Washington trocam acusações sobre razões dos respectivos vetos no Conselho de Segurança.

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Resolução apresentada pelos EUA foi chumbada REUTERS/Mike Segar
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A Rússia e a China vetaram esta sexta-feira uma resolução proposta pelos Estados Unidos para um cessar-fogo imediato em Gaza.

A resolução dos EUA falava do “imperativo de um cessar-fogo imediato e sustentado”, mas ligava-o à libertação dos reféns ainda na Faixa de Gaza. Marcou uma mudança na posição norte-americana, um aumento da pressão sobre Israel, mas não o suficiente para evitar o veto de Moscovo e Pequim.

Outras resoluções apresentadas por outros membros do Conselho de Segurança que foram antes vetadas pelos EUA pediam um cessar-fogo sem condições. Agora, a ligação da libertação dos reféns ao cessar-fogo na proposta norte-americana, e ainda o facto de não ser pedido um cessar-fogo permanente (apenas “sustentado”), parece ter sido o motivo do veto russo e chinês.

A Argélia, que propôs a resolução anterior para um cessar-fogo, também votou contra. A Guiana absteve-se, dizendo que devia ser exigido um cessar-fogo incondicional. Os outros 11 membros do Conselho de Segurança votaram a favor.

O embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, afirmou que Moscovo apoiava o cessar-fogo, mas questionou a linguagem da resolução, acusando os EUA de “enganar a comunidade internacional, cita o diário britânico The Guardian.

“O produto americano é muito politizado”, disse Nebenzia, referindo-se à proposta e citado desta vez pelo Washington Post, afirmando que a resolução teve um objectivo eleitoral, “de atirar um osso aos eleitores na forma de uma menção a um cessar-fogo”.

O embaixador da China, Zhan Jun, afirmou, segundo a Reuters, que o texto não era equilibrado e que não expressava claramente uma oposição a uma operação militar em Rafah, que Israel insiste que vai levar a cabo (mesmo contra inúmeros avisos dos Estados Unidos e de outros países de que não o deve fazer).

Já a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, defendeu a resolução, afirmando que foi apresentada “de boa-fé, após consulta de todos os membros do Conselho e após várias alterações”, cita o diário The New York Times.

Para Thomas-Greenfield, o veto da Rússia explica-se de outro modo: primeiro, acusou, Moscovo “não consegue condenar os atentados terroristas do Hamas” e, segundo, “simplesmente não quiseram votar a favor de uma resolução que foi redigida pelos Estados Unidos porque escolhem ver-nos falhar em vez de permitir que este Conselho tenha sucesso”.

Passados poucos minutos do veto, o Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que irá recomeçar a trabalhar num novo texto com os seus “​parceiros americanos, europeus e árabes, um trabalho iniciado na véspera para a eventualidade de uma recusa pelo Conselho de Segurança da proposta americana, segundo a agência Reuters.

Um diplomata disse à Reuters mais tarde que os dez membros não-permanentes do Conselho de Segurança estavam, sob a coordenação de Moçambique, a elaborar uma proposta de resolução para exigir um cessar-fogo imediato durante o mês do Ramadão, a libertação de todos os reféns e o aumento da ajuda humanitária a Gaza.

A estação de televisão pan-árabe Al-Jazeera disse que uma resolução “​mais directa iria ser apresentada ao Conselho de Segurança para ser votada neste sábado.

A embaixadora dos EUA referiu-se, segundo a Reuters, a um texto alternativo dizendo que era problemático porque poderia “dar ao Hamas uma desculpa para recusar um acordo” fruto de negociações em curso com Israel através dos EUA, Qatar e Egipto.

Quinto dia de operação no Hospital de Al-Shifa

No terreno, continuava a decorrer a operação militar que Israel está a levar a cabo no Hospital de Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza e dos poucos parcialmente operacionais. O Exército israelita disse que deteve mais de 500 suspeitos, incluindo 358 combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica.

Israel disse ainda que nos combates no hospital as suas forças mataram “mais de 140 terroristas”, enquanto fontes palestinianas citadas pela Al Jazeera dizem que morreram cerca de 160 pessoas dentro do hospital e nas zonas circundantes, com dois pacientes a morrer pela falta de pessoal médico.

Segundo o porta-voz militar, Daniel Hagari, a incursão, que entrou esta sexta-feira no quinto dia, está a ser levada a cabo por forças especiais que estão a usar “tácticas de dissimulação” para surpreender os combatentes dos dois movimentos.

Alguns analistas na imprensa israelita dizem que esta operação mostra as consequências da falta de estratégia de Israel para a zona Norte, em que se focou no início da operação: sem um plano para o que faria no fim dos combates, não conseguiu manter o Hamas afastado do local.

Esta falta de estratégia foi também sublinhada pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que esteve esta sexta-feira em Israel, numa reunião com o gabinete de guerra, segundo o jornalista Barak Ravid, do site Axios. “Precisam de um plano coerente, ou vão ficar atolados em Gaza”, terá dito Blinken, segundo o relato de uma pessoa presente na reunião. Esse plano para o “dia a seguir” ao fim da guerra está ausente da trajectória actual, mas é essencial para que o Estado hebraico não fique numa situação de ocupação, e insurreição, permanente na Faixa de Gaza, terá insistido Blinken.

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