Deputados conservadores discutem plano para tentar afastar Sunak antes das eleições britânicas

Imprensa próxima do Partido Conservador revela plano da ala direita tory para desencadear eleição interna para a liderança, apoiando a actual porta-voz do Governo no Parlamento, Penny Mordaunt.

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Penny Mordaunt, actual líder da Câmara dos Comuns, seria peça-chave no plano da ala direita do Partido Conservador EPA/TOLGA AKMEN
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Depois de vários dos seus representantes já terem criticado publicamente o primeiro-ministro, Rishi Sunak, e votado, no Parlamento, contra propostas do Governo, a ala brexiteer e mais à direita do Partido Conservador estará a apostar numa nova estratégia para tentar desencadear uma disputa interna pela liderança dos tories antes das eleições legislativas, que terão de se realizar nos próximos dez meses.

Este fim-de-semana, os jornais Daily Mail e Telegraph, próximos do Partido Conservador, dão conta da existência de contactos e de uma reunião entre deputados daquela facção e apoiantes das candidaturas de Penny Mordaunt à chefia dos conservadores, em 2022 (primeiro no Verão, para suceder a Boris Johnson; depois, no Outono, para substituir Liz Truss), tendo em vista o apoio dos primeiros à actual porta-voz do Governo na Câmara dos Comuns numa contestação interna do cargo de Sunak.

Fontes do partido tory dizem que a jogada teria como principal objectivo convencer os deputados moderados e centristas conservadores a movimentarem-se para desencadear uma eleição – que pode ser convocada se pelo menos 15% dos deputados do partido enviarem uma carta à presidência do grupo parlamentar a exigir uma moção de desconfiança ao líder.

Isso permitiria à facção radical apresentar o seu próprio candidato, num cenário de afastamento de Sunak, ou, consoante a reacção das outras alas a essa estratégia, optar por manter o seu apoio a Mordaunt, mais moderada e muito popular junto das bases, numa solução de compromisso anti-Sunak.

“A Penny é hoje uma candidata muito mais credível entre as pessoas de direita. Goza de apoio, segundo as sondagens e os inquéritos, e é quem tem mais motivação pessoal [para avançar] porque, do seu ponto de vista, uma mudança [de cargo] será, provavelmente, crucial para se manter como deputada”, diz uma fonte conservadora ao Telegraph.

Mordaunt, antiga ministra da Defesa, que desistiu da competição contra Sunak, em Outubro de 2022, aquando da demissão de Truss, não reagiu publicamente às notícias, mas disse à editora de Política da Sky News, Beth Rigby, que as mesmas “não têm sentido” e que “as pessoas estão cansadas deste tipo de histórias”.

Em declarações ao mesmo canal, neste domingo, Mark Harper, ministro dos Transportes, garantiu ainda que o Partido Conservador vai disputar as próximas eleições com Rishi Sunak na liderança, e apelou à união em torno do primeiro-ministro.

A insatisfação interna com a governação de Sunak teve como última consequência a saída do ex-vice-presidente do Partido Conservador, Lee Anderson, para o partido populista e anti-sistema Reform UK, fundado em 2019 (como Partido do Brexit) pelo político eurocéptico e anti-imigração Nigel Farage.

Com todas as sondagens a apontarem para uma vitória do Partido Trabalhista, algumas com percentagens superiores a 40%, que pode pôr fim a quase 15 anos de poder dos conservadores, Sunak está a tentar ganhar tempo (e popularidade) antes de convocar eleições, esperando, nomeadamente, por melhores notícias no campo económico, como a redução da inflação.

Na quarta-feira, o chefe do Governo vai, inclusivamente, reunir-se com todos os deputados do Partido Conservador para lhes mostrar as previsões para os próximos meses.

O primeiro-ministro anunciou recentemente que não vai agendar as legislativas para o dia 2 de Maio, data em já se realizam as eleições locais, tendo sido acusado pela oposição de ter “medo” de sofrer uma derrota histórica.

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