Índia adopta medidas para aplicar lei contestada pelos muçulmanos antes das eleições

Promulgação da lei de nacionalidade, em 2019, motivou violentos protestos em várias cidades do país. Legislativas indianas devem realizar-se entre Abril e Maio e Modi é o favorito à reeleição.

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Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, tem promovido o ultranacionalismo identitário hindu desde que chegou ao poder, em 2014 Reuters/Altaf Hussain
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A Índia anunciou, esta segunda-feira, um conjunto de regras para implementar a lei de cidadania de 2019 que os críticos apelidam de antimuçulmana, semanas antes de o primeiro-ministro, Narendra Modi, tentar alcançar inédito terceiro mandato para o seu Governo nacionalista hindu, nas eleições que devem arrancar em Abril.

A lei da cidadania concede a nacionalidade indiana a hindus, parsis, sikhs, budistas, jainistas e cristãos que fugiram para a Índia, de maioria hindu, vindos do Afeganistão, do Bangladesh e do Paquistão, países de maioria muçulmana, antes de 31 de Dezembro de 2014.

O executivo de Modi não tinha chegado a elaborar as regras de implementação da lei, depois de protestos e caos de violência sectária terem eclodido em Nova Deli e noutras cidades semanas após a sua promulgação, em Dezembro de 2019. Dezenas de pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas ao longo de dias de confrontos.

"O Governo de Modi anuncia a implementação da Lei de Alteração da Cidadania", anunciou, porém, nesta segunda-feira, um porta-voz do gabinete do primeiro-ministro.

"Era uma parte integrante do manifesto do BJP para 2019. Isso abrirá o caminho para que os perseguidos encontrem a cidadania na Índia", explica a mesma fonte, referindo-se ao programa eleitoral de 2019 do Partido Bharatiya Janata (BJP), no poder.

Um porta-voz do Ministério do Interior disse que as regras permitirão que as pessoas elegíveis ao abrigo da lei solicitem a concessão da nacionalidade e que os pedidos serão apresentados online através de um portal que foi disponibilizado na Internet.

Organizações e grupos muçulmanos afirmam, no entanto, que a lei, combinada com a proposta de um registo nacional de cidadãos, pode discriminar os 200 milhões de muçulmanos da Índia - a terceira maior população muçulmana do mundo. Temem que o Governo possa retirar a nacionalidade aos muçulmanos sem documentos em alguns estados fronteiriços.

Por seu lado, o executivo nega que a lei seja antimuçulmana e afirma que é necessária para ajudar as minorias que enfrentam perseguições em países de maioria muçulmana. Afirma ainda que a lei se destina a conceder a cidadania, não a retirá-la a ninguém, e considerou os anteriores protestos politicamente motivados.

Modi chegou ao poder em 2014 e, desde então, tem vindo a consolidar a sua posição, apostando no crescimento, na economia do bem-estar, no reforço das infra-estruturas e num nacionalismo hindu agressivo. Os estudos de opinião sugerem que Modi ganhará confortavelmente uma maioria nas eleições legislativas que devem realizar-se entre Abril e Maio deste ano.

O principal partido da oposição, o Congresso Nacional Indiano, defende que o anúncio de segunda-feira foi motivado pela aproximação das eleições.

"Depois de ter pedido nove prorrogações para a notificação das regras, o momento escolhido, mesmo antes das eleições, tem evidentemente como objectivo polarizar as eleições, especialmente em Bengala Ocidental e Assam", declarou o porta-voz do Congresso Nacional Indiano, Jairam Ramesh, no X.

Os estados orientais de Bengala Ocidental e Assam albergam grandes populações muçulmanas e testemunharam protestos contra a lei.

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