Contra a maioria absoluta e a direita, BE fala a indecisos, arrependidos e mulheres

Entre críticas à maioria absoluta que mantém os problemas e à direita que representa um regresso ao passado, BE quer disputar o voto dos arrependidos, dos indecisos ou dos descontentes.

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Comício nacional do Bloco de Esquerda LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO
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“Muita gente” viu “como, perante a dramatização, o voto útil acabou por dar origem a uma maioria [absoluta] que não resolveu nenhum problema. Estou convicta de que toda a gente vai votar por convicção”, dizia Mariana Mortágua na tarde desta terça-feira. Insistia, assim, numa das estratégias em que tem centrado a campanha: combater a maioria absoluta do PS para chegar ao voto dos arrependidos e dos indecisos, quebrando o apelo ao voto útil.

Depois de ter perdido 14 deputados em 2022, muito devido ao chumbo do Orçamento do Estado e ao sucesso do voto útil no PS, o BE tem centrado o discurso em críticas aos “erros” da maioria absoluta para se distanciar da mesma e afastar dos socialistas tanto quem neles votou há dois anos (muitos dos quais terão migrado do BE), como os indecisos (que chegam a um milhão, segundo a mais recente sondagem da Aximage).

Fá-lo, ao mesmo tempo que elege como prioridade número um conseguir uma “maioria de esquerda” para formar um acordo político, que o partido está convencido de que, depois da penalização de 2022, é o que os eleitores querem. A ideia é mostrar que o PS, sem parceiros à esquerda, não consegue dar soluções e que, por isso, o voto no BE é condição para “virar a página”, como diz Mortágua.

Para o provar, os bloquistas têm lembrado as várias conquistas do BE quando esteve na oposição, mas, sobretudo, durante a 'geringonça'. Apontando que, nessa altura, o BE conseguiu “impor” medidas ao PS, vão pedindo "mais força" nas urnas para garantir que num novo acordo conseguem que “o programa do governo do PS” seja “diferente”, como ouve o PÚBLICO.

Pelo caminho, vão pedindo "mais" a um PS que não fez o corte com a maioria absoluta, procurando focar o debate nos “conteúdos” de um acordo: salários, habitação, educação, saúde, cuidados e clima. Alguns dos temas a que, a cada dia, Mortágua vai dedicando as suas intervenções nos comícios.

Embora haja quem diga no partido que não fazem uma distinção entre o PS de agora e o dos últimos dois anos, as críticas directas a Pedro Nuno Santos parecem ser menos cerradas, o que pode permitir não queimar pontes e mostrar que a estabilidade está à esquerda.

Mas o BE está também focado em chegar às mulheres —, como mostra a centralidade que Mortágua deu a este tema no comício nacional —, um eleitorado tradicionalmente forte para o BE e que compõe a maioria dos indecisos, segundo uma sondagem do ICS/ISCTE.

O verdadeiro combate, contudo, faz-se contra a direita, visto que o Bloco quer congregar votos na esquerda e agarrar os descontentes com o PS que podem virar-se para a direita, bem como os votos de protesto que podem tender para o Chega. Nesse campo, o BE está apostado em associar os partidos de direita a um modelo económico de "privilégio" e a ideias "conservadoras", nomeadamente, em relação aos direitos dos imigrantes e das mulheres, colando a AD ao Chega.

Em particular sobre a AD, vai ainda aproveitando o aparecimento de figuras da anterior governação do PSD/CDS, como Passos Coelho, para agitar o medo do regresso à "austeridade". E no que toca ao Chega e à IL, vai denunciando o financiamento destes partidos.

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